A Montanha, Ken, recebe o Céu, Ch'ien, formando Tun, a Retirada






O Fio da Meada







Sexta Linha      ___  ___               O
Quinta Linha         ___  ___          I Ching
Quarta Linha                ___  ___               do
Terceira Linha       _______          Caminho
Segunda Linha      _______               do
           Primeira Linha    _______              Céu





Janine Milward





TERCEIRO VOLUME

Os Hexagramas compostos por Ken, a Montanha,
a Quietude, o Mestre



Editora Estrela do Belém




O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada




Ken, a Montanha, recebe Ch'ien, o Céu,
formando
 Tun, A Retirada


Ken, a Montanha, a Quietude, a Imobilidade, o Mestre sentado em seu silêncio, encontra-se com seu pai, Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Sublime Yang, a Luz - e juntos formam o Hexagrama 33. Tun, a Retirada.



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_______           Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Pai
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___  ___           Ken, a Montanha, Primordial


Se nem o céu e a terra podem produzir coisas duráveis,
Quanto mais os seres humanos?

Por isso, quem segue e realiza através do Caminho, adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude
Quem se iguala à Perda, perde o Caminho


Wu Jyh Cherng, em sua interpretação sobre o Capítulo 23 do Tao Te Ching, de Lao Tse, nos diz:

“Se o céu e a terra duram muito mais do que nós, vivem muito mais do que nós, e suas expressões não duram uma manhã ou um dia, imagine o que o ser humano poderia produzir da mesma maneira...

O que dura é aquilo que é constante, que é contínuo.

A chuva fininha dura bem mais tempo do que a rajada de chuva.

Por último, o que realmente dura?

O Vazio do Absoluto.

Até o universo, enquanto performance, é passageiro.  Só que um passageiro constante.  Mesmo assim, a expressão dessa constância - como a fotografia - não dura.  O próprio universo é contínuo, infinito.

A única coisa que verdadeiramente dura para sempre é o Zero do Absoluto e o Um do universo.  Tudo depois são simplesmente efeitos ou fenômenos produzidos pelo céu e pela terra ou pelo próprio universo  - que, por mais expressivo que seja, não dura para sempre.

Dessa maneira, podemos compreender:  por que nos desgastar tanto?  Fenômenos sociais, familiares, financeiros, políticos - ou o que for.  Nada dura para sempre.


Basicamente, o Taoísmo trabalha com dois pontos:

-     Essencialmente, se pudermos viver o Absoluto, não estaremos presos a nenhum fenômeno e por conseguinte, teremos todos os fenômenos dentro de nós acontecendo naturalmente.  Temos o dia, a noite, a chuva, o fogo, a água, o vento, a família, o trabalho, o dinheiro, a fama, o prestígio - tudo o que for necessário, naturalmente.

Quem tem a consciência do Zero, tem a consciência que abraça todas as consciências e abraça todas as pessoas.  Isso é uma vitória, uma felicidade.  E a felicidade, desse modo, é a felicidade de todas as pessoas.  A nossa realização é a realização de todas as pessoas.


-     Se não conseguirmos viver o Vazio, o Absoluto, de forma transparente, pelo menos devemos tentar viver a vida de forma mais harmoniosa, mais equilibrada e para isso, devemos tentar evitar as coisas em excesso, não levar as coisas aos extremos.  Também é preciso não nos anular porque senão estaríamos caindo na outra extremidade do excesso: excesso de Vazio, ausência das coisas, excesso de possuir coisas.

Por isso,
Quem segue e realiza através do Caminho, adquire o Caminho

O Caminho só tem sentido se se andar nele.  Portanto, segue-se o Caminho naturalmente e realiza-se através do Caminho.  Uma vida espiritual só existe se incorporarmos sua filosofia na nossa vida cotidiana.

Quem busca realizar o Tao em si mesmo encontrará o Tao.  Então, tornar-se-á o Tao.

Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude

Se o Caminho é a causa, a Virtude é o efeito.  Se uma pessoa tem um fundamento espiritual dentro de si, todas as suas atitudes, seus gestos e sua vida girarão em torno desse eixo.

Todos nós temos uma potencialidade com uma característica própria e temos que viver bem essa forma de ser pessoal.

Quando a pessoa tem o seu eixo equilibrado, todo o resto ao redor funciona.

Virtude é viver de acordo com o Tao.

O que é viver de acordo com o Tao?

É seguir e realizar através de seu próprio Caminho - que é o Caminho da Consciência, o Caminho da Naturalidade, o Caminho da Iluminação Interior.


Não conseguindo...,
Quem se iguala à perda, perde o Caminho

O que é a perda?

É o excesso de palavras, excesso de movimento, fazer o que não precisa, fazer o que não deve ser feito, falar o que não é necessário, falar o que é prejudicial, ser afiado demais, ter muitas preocupações, ter muitos pensamentos, ter o ego forte demais.  Tudo isso é perda.

O ego é aquele que tira o nosso espírito e transforma nosso espírito em pensamentos, conceitos e preconceitos.  Ego é aquilo que tira nossa energia primordial e a transforma numa energia pesada.

As pessoas nascem com plenitude de energia.  Ao crescerem, chega um momento em que começam a desgastar essa energia, dando espaço para as neuroses, obsessões e manias.

Devemos ficar cada vez mais fortes quanto mais velhos formos.  Mais fortes, mais saudáveis e mais inteligentes.

É preciso que aprendamos a nos resguardar.

O Taoísmo essencialmente trabalha com a Consciência.  Comer bem, dormir bem, trabalhar bem, tudo isso é saudável.  Os excessos tanto para mais quanto para menos, não são saudáveis.

Convicção insuficiente leva à não-convicção


Existem pessoas que têm o Caminho e a Virtude.  Existem pessoas que não têm nem Caminho nem Virtude e existem pessoas que não têm absolutamente nada, que não têm qualquer convicção, não sabem de nada.

Essa frase parece querer falar daquelas pessoas que nasceram sem querer, vivem por viver e morrem sem saber.

Dessa forma, o trabalho do Taoísmo é na Consciência para incorporar todo esse Caminho dentro de nossa vida cotidiana.

Temos que saber viver o Tao nas pequenas coisas; não adiante querermos viver o Taoísmo isolado da vida cotidiana.  Assim, podemos transformar a loucura cotidiana em vida normal sem precisar fazer da pratica espiritual uma terapia.  Caminho espiritual não é terapia.

Existem pessoas que encaram a meditação como uma terapia.  A meditação não é uma terapia.  A prática espiritual é bom senso.  A terapia alivia as tensões...  Depois de aliviar as tensões, temos que ter o bom senso de mudarmos a nossa  rotina cotidiana.


Mestre Maa sempre diz:  O Tao dá a vida para quem quer viver e dá a morte para quem quer morrer.”

(Texto extraído da Transcrição e Síntese do Capítulo 23 por Wu Jyh Cherng, em Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 13 de dezembro de 1994. Transcrição e Síntese de Janine Milward)



Ken, a Montanha, em sua Quietude, em sua Imobilidade, é a imagem do homem superior em seu estado de profunda meditação, em sua permanência sobre o Planeta Terra enquanto realiza sua busca pelo Tao, através de sua aspiração de galgar as alturas, de sua elevações pelos céus.

O Céu, o Criativo, perfaz em sua imagem o desejo concretizado de elevação da Montanha - porém o movimento do Céu é ascendente e de extrema energia de expansão, enquanto o movimento da Montanha é descendente, de assentamento e de repouso.

Assim, o Céu expande-se em todas as direções e se afasta da Montanha infinitamente e a Montanha permanece atada ao Planeta, à Terra, em sua encarnação de matéria.

A Virtude do Céu é estar sempre em plena expansão e elevação e ascendência.  A Virtude da Montanha é a de estar sempre em sua quieta ação de atamento ao Planeta Terra, à Terra.  Daí, Tun, a Retirada.

No entanto, para que Ken, a Montanha, em sua Quietude seja exercido enquanto a imagem do homem superior, do mestre a se tornar Mestre, do Mestre sentado em seu silêncio, é preciso que seja realmente assentado sobre a Terra, ou seja, seja realizado dentro de uma Terra plenamente proporcionadora de encarnação, de vida para os seres e toda a natureza, como um todo.

É exatamente por este fato que K'un, a Terra, é a representação do Sublime Yin, da Não-Luz.  É dentro da plenitude da Não-Luz que se pode alcançar a Luz.  E esta é a Missão de Ken, a Montanha, em seu assentamento tão intenso sobre a Terra: através de sua plena Quietude, o Mestre anseia pela sua ascensão gloriosa ao Tao do Céu.

A ascensão aos céus pode ser realizada de várias formas, tanto subjetivamente quanto, inclusive, objetivamente.

A ascensão subjetiva do Mestre ao Céu  é realizada a partir do momento em que o homem toma seu rumo em seu Caminho para se tornar homem superior.  Este rumo é seu desejo de expansão de sua Consciência no sentido de tornar sua Consciência uma Consciência plenamente iluminada e infinita: este é o Caminho da Iluminação.

Depois de ter alcançado e bem realizado - através várias e várias encarnações de Montanha sobre Terra, de realização de materialização plena -, seu Caminho da Iluminação, o homem superior, já podendo ser chamado de Mestre, coloca-se em seu  rumo para sua ascensão objetiva e real - após ter vivenciado várias e várias encarnações de Montanha sobre Terra, de realização de materialização plena porém já trazendo consigo a  Iluminação de mente infinitizada -, para alcançar e efetuar, literalmente, seu Caminho da Imortalidade ou Liberação, que é finalizado através de sua ascensão ao Céu, já com mente e corpo infinitizados e iluminados.


Em Tun, a Retirada, através o desenho das Linhas, encontraremos duas Linhas Yin - as Linhas Primeira e Segunda de Ken, a Montanha, no Trigrama da Terra - manifestando a realização da encarnação e da materialização na Terra, porém encontraremos a Linha Yang ao cume da Montanha, a Terceira Linha, já realizadora da união entre Terra e Céu realizada pela Montanha, sim, porém ainda dentro da Terra, ainda dentro da plenitude da encarnação e da materialização plenas.

É somente dentro da encarnação e da materialização plenas, na Terra, que o Mestre pode realizar seus Caminhos de Iluminação e de Imortalidade ou Liberação.

Srii Srii Anandamurti, o Mestre do Tantra Primordial, nos diz:

“A meta da vida humana é fusionar-se a Paramapurusha.”  (ao Tao)



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_______           Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Pai
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___  ___           Ken, a Montanha, Primordial


Podemos também entender as duas Linhas Yin como sendo aquelas que estão adentrando o Hexagrama no sentido de bem alertar ao Mestre de que a Não-Luz, em alguns poucos ciclos à frente, estará inteiramente ocupando o lugar da Luz, ou seja, as demais Linhas Yang ocupando os lugares de Terceira, Quarta, Quinta e Sexta posições, em Tun, a Retirada.

Tun, A Retirada, portanto, é a Retirada das Linhas Yang, do Sublime Yang, da Luz, e a entrada e tomada de posição ao longo do Hexagrama como um todo, das Linhas Yin, do Sublime Yin, da Não-Luz.

No entanto, dentro do Mundo da Manifestação, em seu eterno retorno, sempre acontecerá o entrelaçamento entre o Sublime Yang, a Luz, e o Sublime Yin, a Não-Luz.

A plenitude da Luz no Hexagrama traz O Criativo, Ch'ien, o Céu, o Pai, imperando ao longo das Seis Linhas.  A plenitude da Não-Luz no Hexagrama traz O Receptivo, K'un, a Terra, a Mãe, o Abranger, ao longo das Seis Linhas.

O Criativo é o auge do Verão, da Luz.  O Receptivo é o auge do Inverno, da Não-Luz.

No entanto, sabemos que, para alcançarmos a plenitude da Luz é preciso que alcancemos a plenitude da Não-Luz.  É o Vazio.


Sobre o Vazio, nos fala Wu Jyh Cherng:

“O Vazio não é o vazio da ausência das coisas mas o vazio da potencialidade das coisas. “


Em sua interpretação do Capítulo 5 do Tao Te Ching, de Lao Tse, nos diz Cherng sobre a Busca do Vazio Interior:

O espaço entre o Céu e a Terra se assemelha a um fole

Fole é o Vazio.  
É um vazio que não distorce


O vazio não pode ser distorcido.  Qualquer coisa que seja concreta por ser distorcida, mas não o vazio.

Seu movimento é a contínua criação

Como diz o I Ching, o Céu é Yang e a Terra é Yin, o Céu está em cima e a Terra está embaixo: entre o Yin e o Yang há um espaço.  Um espaço onde o Céu desce atravessando a Terra e a Terra sobe atravessando o Céu: a energia do Céu e da Terra se entrecruza e novamente a energia do Céu volta para cima e a da Terra volta para baixo. 

Esse eterno trânsito de energia de subida e energia de descida faz exatamente parecer como um fole.  O fole tem dois lados, um lado Terra e outro lado, Céu.  Eles se movimentam entre si e esse movimento atinge uma situação de energia entre as duas polaridades.  Essa situação de energia entre as duas polaridades jamais poderá ser distorcida por causa do  Sopro do Vazio.  Esse sopro do vazio é que traz a contínua criação e a contínua renovação das vidas entre o Céu e a Terra.


Todas as energias vitais que recebemos vêm do espaço em que vivemos entre o Céu e a Terra.  Essa energia é capaz de nos transformar, nos regenerar, nos renovar.  Por ser uma energia do vazio, ela jamais se esgota, jamais acaba.  Por isso, na prática espiritual do Taoísmo, para nos renovar, nos rejuvenescer e nos regenerar, precisamos abrir o canal e receber essa energia do vazio que existe entre o Céu e a Terra.  Essa energia está sempre em constante movimento e é dessa maneira, que nós a extraímos e a trazemos para dentro de nós.

Para podermos trazer essa energia vital para dentro de nós, é preciso que nos tornemos vazios como o próprio fole.  Não se pode ser um alvo compacto e fechado, assim nada poderá entrar.  É preciso haver um vazio.  Do mesmo modo, precisamos nos esvaziar interiormente para podermos receber essa energia.”

(Texto extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 21  de junho de 1994,  sobre o Capítulo 5 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.  Transcrição de Janine Milward.)






O Julgamento


A Retirada.  Sucesso.  Em pequenas coisas, a perseverança é favorável.


Lao Tse, em seu Capítulo 40 do Tao Te Ching, nos diz:

O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência



Podemos observar O Retorno Eterno através a figura formada pelo Oito do Sol: quando o sol chega ao limite do seu aparente andamento, no solstício, ele faz o seu retorno, ele retorna para realizar seu trajeto em direção ao limite oposto! Desde sempre, em nosso sistema solar, o sol pode ser visto da Terra percorrendo o aparente caminho entre o inverno e o verão, verão e inverno, inverno e verão, verão e inverno .... entre o ponto máximo do nordeste/noroeste e o ponto máximo do sudeste/sudoeste...


O inverno é um tempo de Vazio, de dormência, de Não-Luz, de frio, de maior escuridão: a noite é mais longa que o dia, em muitos lugares a neve cai e o sol desaparece durante semanas e semanas.... Assim, podemos pensar que quando o sol atinge o limite máximo de seu caminho, no solstício de inverno, é o momento da supremacia do Yin, do Sublime Yin, que é simbolizado como a Mãe, como o Receptivo, como a Não-Luz, como o ventre, como a Terra.

O verão, por outro lado, é um tempo de Criação, de vida, de Luz, de calor, de menor escuridão: o dia é mais longo do que a noite, o sol permanece no céu durante semanas e semanas. Assim, podemos pensar que quando o sol atinge o limite máximo de seu caminho, no solstício de verão, é o momento da supremacia do Yang, do Sublime Yang, que é simbolizado como o Pai, como o Criativo, como a Luz, como o Céu.


A imagem do Oito do Sol transformou-se na imagem do Revirão do Universo, o símbolo do Tai Chi, a representação do Mundo da Manifestação através do enlace eterno entre a Luz e a Não-Luz, entre o Yang Supremo e o Yin Supremo Manifestados.


Sempre que o Yang chega á sua potência máxima, dá lugar ao Yin. E vice-versa.




Vemos, portanto, que alguns Hexagramas entre os 64 Hexagramas do I Ching, retratam o Eterno Retorno, o aparente caminho que nosso Sol, nosso doador de luz e de vida, realiza ao longo do tempo de um ano.  (A verdade é que este caminho é  apenas aparente, pois que sabemos que é a Terra que realiza seu andamento em torno do Sol).

Hexagrama T’ai, Paz,
Terra sobre Céu

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O anúncio da Chegada da Primavera anuncia o bom equilíbrio entre o Sublime Yang e o Sublime Yin e se vê o avanço das Linhas Yang através o Hexagrama, como um todo: quando todas as Linhas estiverem Yang, haverá o anúncio da Chegada do Verão.  A partir de agora, o Sol estará se encaminhando para o ponto do meio - o Equinócio - e depois, para o ponto mais ao sul, no hemisfério norte (enquanto que, para o hemisfério sul este ponto é mais ao norte)


Hexagrama Ta Chuang, O Poder do Grande,
Trovão sobre Céu

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O Despertar das Criaturas acontece a partir da Linha Yang que adentra o Hexagrama e que faz avançar as demais Linhas, buscando a Luz prometida pelo Sublime Yang, no Verão, e expulsando as Linhas Yin, da Não-Luz.  Este também é o momento certeiro do Equinócio da Primavera - porquanto já  existe a real movimentação em busca do Verão, em função da nova Linha Yang que adentrou o Hexagrama, expulsando mais uma Linha Yin.



Hexagrama Kuai, Irromper,
Lago sobre Céu



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Irromper, Kuai, anuncia a última Linha Yin a deixar o Hexagrama: é o último resquício da Não-Luz, do Inverno que está longe...


O Hexagrama Céu, O Criativo,
Céu sobre Céu


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Ch'ien,o Céu, apresenta todas suas Linhas Yang, O Criativo, a Luz em todo seu esplendor.  É neste momento que se pode alcançar o Portal entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação: a Terra encontra-se próxima ao seu momento de maior distância do Sol - fato que acontecerá mais adiante mas que já é antevisto neste momento de agora.



O Hexagrama Kou, Vir ao Encontro,
Céu sobre Vento


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Kou, Vir ao Encontro, já traz o retorno de uma única Linha Yin, a Primeira Linha, já anunciando o fato inexorável que a Plenitude da Luz alcançou seu auge, seu apogeu, e por esta mesma razão, deverá dar início à sua transmutação, em busca de Não-Luz, a partida inicial para o Inverno.

Neste momento, o Sol faz uma parada e retorna, é o ponto final do Oito do Revirão do Sol.

O retorno é o movimento do Caminho - assim nos diz Lao Tse, em seu Capítulo 40 do Tao Te Ching.



O Hexagrama Tun,  A Retirada,
Céu sobre Montanha


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Em Tun, a Retirada, com a Segunda Linha e com a Primeira Linha apresentando o Sublime Yin, existe a certeza absoluta de que o Inverno existe, o outro lado do Oito do Revirão do Sol existe e cada vez mais se aproxima.  Já estamos próximos ao momento de anúncio da próxima chegada do Outono.  A Retirada se faz com as Linhas Yang que começam a deixar o Hexagrama.


O Hexagrama P’i,  Estagnação,
Céu sobre Terra

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Em P’i, Estagnação, encontraremos  um Trigrama em Linhas Yin e um Trigrama em Linhas Yang.  No entanto, o Trigrama Yin encontra-se no lugar da Terra, o Trigrama Interior, enquanto o Trigrama Yang encontra-se no lugar do Céu, o Trigrama Exterior.   Poderíamos pensar que tudo está certo.... mas não está, bem ao contrário: o que existe é a Estagnação dos posicionamentos.

Esta Estagnação anuncia, portanto, um tempo de maior retirada da exuberância da vida, com as Linhas Yang definitivamente sendo expulsas do Hexagrama porque o Outono pressupõe uma antevisão daquilo que será o Inverno, com todas as Linhas Yin ocupando o Hexagrama.


Hexagrama Kuan, Contemplação,
Vento sobre Terra

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Em Kuan, Contemplação, existe um tom de conscientização sobre tudo aquilo que foi realizado pelas Linhas Yang até este momento - porque a Vida estará se direcionando para seu tempo de dormência, a Luz estará dando lugar à Não-Luz do Inverno.




Hexagrama Po, Desintegração,
Montanha sobre Terra

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Po, Desintegração, anuncia a última Linha Yang ainda a fazer parte do Hexagrama: a Luz do Sublime Yang está deixando seu lugar para ser ocupado pela Linha Yin e por todas demais Linhas Yin que tomarão total conta do Hexagrama, trazendo a Não-Luz do Inverno.


Hexagrama K'un, A Terra, o Devocional, O Receptivo,
Terra sobre Terra

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Este é o tempo da Não-Luz em sua plenitude, em sua supremacia, em sua soberania.  A Não-Luz é a plenitude do Vazio.  É neste momento que se pode alcançar o Portal entre o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação: a Terra encontra-se próxima ao seu momento de maior proximidade do Sol - fato que acontecerá mais adiante mas que já é antevisto neste momento de agora.


O Hexagrama Fu, o Retorno,
Terra sobre Trovão

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No momento em que o Inverno, a Não-Luz, as Seis Linhas do Sublime Yin alcançam seu auge, seu apogeu, tudo tem que ser transmutado e assim, entra em cena, na Primeira Linha do Hexagrama, a Linha Yang anunciando o Retorno da Luz!


Hexagrama Lin, Aproximação,
Terra sobre Lago

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Lin, Aproximação, afirma e reafirma o fato de que a entrada das Linhas Yang é um fato inexorável dentro do mundo da manifestação, do eterno retorno!  O Inverno ficou para trás, e novamente podemos ver o Sol buscando seu caminho em direção à equanimidade entre a Luz e a Não-Luz com a chegada da Primavera, novamente em T’ai, Paz, com o Céu no Trigrama da Terra e com a Terra no Trigrama do Céu, com a doce fusão entre Mãe e Pai, ambos prontos para a Luz e a Vida que por ela é trazida a todos os seres.

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É interessante que o Caminhante perceba que os Solstícios de Inverno e de Verão e os Equinócios de Outono e de Primavera representam o Auge destas Estações.  E, exatamente no momento do auge das mesmas, é que existe o avanço das Linhas Yin ou Yang - nos Equinócios - ou a entrada das Linhas Yin ou Yang - nos Solstícios.  Ou seja, T’ai, Paz, representa a Primavera, com a Terra no Trigrama do Céu e com o Céu no Trigrama da Terra..., porém o Equinócio da Primavera, o Auge da Primavera, já pressupõe o avanço das Linhas Yang Hexagrama acima e expulsando as Linhas Yin!  Da mesma forma, Ch'ien, O Criativo, representa o Verão, com todas as Linhas Yang ocupando o Hexagrama...., porém o Solstício do Verão, o Auge do Verão, já pressupõe a entrada da Linha Yin na Primeira Linha do Hexagrama, o retorno da Não-Luz, o caminho de volta que o sol estará encetando.

(Aliás, estes conceitos são estruturados na mecânica celeste e os antigos sábios chineses estudaram os céus e transpuseram suas leis para o I Ching, o Livro das Mutações.)


Vimos, portanto, que Tun, A Retirada - juntamente com Kou, Vir ao Encontro, Hexagrama Nuclear -, passam a anunciar a despedida das Linhas do Sublime Yang e introduzem as Linhas do Sublime Yin, ou seja, finalizam o Verão e preparam a chegada do Outono e, posteriormente, do Inverno!

Em Kou, Vir ao Encontro (Hexagrama Nuclear inserido em Tun, a Retirada), estaremos encontrando o Céu sobre o Vento: o Criativo em seu movimento ascendente intenso sendo reunido com sua Filha mais Velha, o Vento - que também possui movimento ascendente.  Sendo assim, existe o anúncio da conclusão do Verão, sim, e da entrada das Linhas Yin anunciadoras do Inverno no Hexagrama e a conseqüente expulsão das Linhas Yang, passo a passo, em sete etapas (assim como acontece, ao inverso, com Fu, o Retorno da Luz, com a entrada da Linha Yang expulsando as demais Linhas Yin).  No entanto, em se tratando de Kou, Vir ao Encontro, o fato de que os dois Trigramas - da Terra e do Céu - movimentam-se ascensionalmente, faz com que tudo fique mais simples, mais leve, ainda sem grandes prenúncios de avanço de Obscuridade, digamos assim.

Quando se trata do Hexagrama Tun, A Retirada, estaremos encontrando o Céu sobre a Montanha: o Criativo em seu movimento ascendente intenso cada vez mais afastando-se de seu Filho mais Jovem, a Montanha, que possui movimento intensamente descendente. 

Em Tun, A Retirada, o avanço das Linhas Yin é visto de forma inteiramente mais lúcida - em função dos movimentos antagônicos entre os Trigramas da Terra, em Montanha, e do Céu, em Criativo!  O Verão terminou e, em sete etapas, entrará em cena o Inverno.  Ou seja, a supremacia do Sublime Yang dará vez à supremacia do Sublime Yin.  As Linhas de Luz estarão se retirando para deixarem lugar às Linhas da Não-Luz, da Obscuridade.  Existe, portanto, a lucidez sobre a inexorabilidade dessa situação.

E não podemos deixar de pensar que no Mapa do Mundo da Manifestação, Ch'ien, o Pai, o Criativo, ocupa o lugar do noroeste, ou seja, prenunciando a conclusão do ciclo que acontecerá no Norte, em K’an, a Água, o Inverno; e Ken, a Montanha, ocupa o lugar do nordeste, ou seja, logo após a conclusão do ciclo existe o tom de gestação do novo ciclo a-vir-a-ser, já em Chen, o Trovão, no Leste dos novos começos.  Quanto ao Mapa do Mundo da Não-Manifestação, estaremos encontrando Ken, a Montanha, ocupando o noroeste e anunciando o final do ciclo, e Ch'ien, o Criativo, ocupando o Sul, o lugar da plenitude do Verão.  Sendo assim, em Tun, a Retirada, existe todo o tempo a lucidez sobre o fato de que a plenitude do Sublime Yang (através todas suas Linhas Yang) deverá dar lugar à plenitude do Sublime Yin e que a preparação para o final do ciclo é fundamental, a lucidez para tanto é fundamental.

Essa lucidez faz com que o I Ching se manifeste, no Julgamento, dizendo:  A Retirada.  Sucesso.  Em pequenas coisas, a perseverança é favorável.

Essa lucidez faz com que o homem superior busque realizar tudo aquilo que precisa realizar ainda dentro da premissa da existência de Linhas Yang, do calor do verão da vida, de forma que esteja inteiramente preparado para vivenciar o tempo de supremacia das Linhas Yin, do frio e do afastamento da vida do inverno.  Por isso, o I Ching diz:  Em pequenas coisas, a perseverança é favorável.

Também essa lucidez faz com que o homem superior tenha a certeza de que, assim como existe agora o avanço das Linhas Yin, da Obscuridade, é certo que acontecerá o Retorno da Luz, ou seja, as Linhas Yang estarão retornando e expulsando as Linhas Yin: é a Lei do Mundo da Manifestação, o Eterno Retorno.  Por isso, o I Ching diz: Sucesso. 

Podemos, por outro lado, pensar que Em pequenas coisas, a perseverança é favorável. -, possa significar o avanço, passo a passo, das Linhas Yin (que, em Tun, a Retirada, são apenas duas mas que apontam para a entrada de mais quatro Linhas Yin até formarem todas o Hexagrama K'un, o Receptivo, a Não-Luz, a supremacia do Sublime Yin).




A Imagem


Montanha abaixo do céu: a imagem da Retirada.  Assim, o homem superior mantém o inferior à distância, não com raiva, porém com reserva.

Ken, a Montanha, é a imagem do Mestre que se senta em seu silêncio, consciente de sua encarnação, de sua materialização, e, ao mesmo tempo, consciente de sua busca pelo Tao do Céu.

Assim, a Montanha permanece assentada na Terra - através suas duas Linhas Yin -  porém sempre elevando-se ao Céu, através de sua Linha Yang, o cume, o lugar onde a Terra toca o Céu.

Ainda dentro de suas Linhas Yin, o Mestre, o homem superior entrelaça-se com os homens inferiores - imajados pelas Linhas de Não-Luz, de Obscuridade, que estão adentrando o Hexagrama Tun, a Retirada.  Porém, já na Linha Yang, o cume da Montanha, o Mestre, o homem superior pode manter-se mais distanciado dos homens inferiores.  Sendo que a Linha Yang da Montanha está sendo seguida pelas três Linhas Yang que compõem Ch'ien, o Pai, o Céu, o Mestre realiza-se dentro desse seguimento - mesmo que saiba, com toda a certeza, que acontecerá o adentramento das Linhas da Não-Luz, da Obscuridade, no Hexagrama, expulsando todas as Linhas Yang.

Mas o I Ching diz: o homem superior mantém o inferior à distância, não com raiva, porém com reserva.

Esta ausência de sentimento de raiva - ou mesmo de amorosidade  - e a instauração da ação dentro da atitude de ‘reserva’, podem ser compreendidas através alguns ensinamentos contidos  no Capítulo 5 do Tao Te Ching, onde Lao Tse nos diz:

O céu e a terra não são bondosos
Tratam os dez mil seres como cães de palha
O Homem Sagrado não é bondoso
Trata os homens como cães de palha


O céu e a terra não são bondosos

Por várias vezes ao longo do Tao Te Ching, Lao Tse nos fala que o céu e a terra fazem nascer e criam seus filhos mas não os querem para si... No Capítulo 5, o mestre vai ainda além, nos afirmando que céu e terra não são bondosos, ou seja, são absolutamente impessoais. O Tao é impessoal; diferente da idéia do Criador ou de Deus como mente suprema alcançada por algum super-homem que traz sua criação embalada em seu colo e é visto como grande pai todo poderoso. O Tao é impessoal e não pessoal em sua forma mais absoluta de ser.

Tratam os dez mil seres como cães de palha

Na antigüidade, era muito comum se honrarem sacrifícios aos céus matando um animal. Mais tarde, houve a compreensão de que os animais não estavam na natureza para serem servidos em sacrifício de qualquer espécie e a partir dessa ampliação de consciência, o homem passou a confeccionar cães de palha, bonecos representando o motivo da natureza a ser oferecido como sacrifício. Após a cerimônia e o ritual de oferenda, o objeto de palha era jogado no lixo, sem qualquer outra serventia....

Quando Lao Tse nos diz que céu e terra tratam os homens e toda a natureza como "cães de palha", ele quer fazer significar a plena, total e absoluta impessoalidade do Tao, do céu e da terra.

No Capítulo 25, Lao Tse nos diz com mestria:

O homem se orienta pela terra,
a terra se orienta pelo céu,
o céu se orienta pelo Tao
e o Tao se orienta por sua própria natureza.

Também os "cães de palha" vão significar o desapego. Em vários outros Capítulos, Lao Tse nos diz que Céu e Terra apenas geram e criam mas nada querem para si. O Homem Sagrado exerce a Virtude do desapego ao seu corpo físico transmutando-o em Corpo de Luz e por isso torna-se o modelo de Virtude para todos os outros seres.

O Homem Sagrado não é bondoso
Trata os homens como cães de palha

O Homem Sagrado é aquele que se fusionou integralmente ao Tao, assemelhando-se em tudo ao Tao, inclusive ao fato de se tornar impessoal. No caso do Homem Sagrado, sua impessoalidade não significa indiferença ou ausência de compaixão. Não, pelo contrário. O único possível desejo restante no Homem Sagrado, além de sua Imortalidade (pois sua Iluminação já está garantida) é ajudar na salvação de todos os outros homens ou dez mil seres que já estejam ou não no Caminho da Bem-Aventurança. E é exatamente por isso que ele, o Homem Sagrado, torna-se tão impessoal quanto o Tao, ou seja, ajudando sim, no entanto, não servindo de muleta para o Caminhante Caminhar seu Caminho e sim, apontando o Caminho que ele, o Homem Sagrado já trilhou e dessa forma, mostrando que todos os seres podem fazer o mesmo, orientando-se pela terra, que se orienta pelo céu, que se orienta pelo Tao que se orienta por sua própria natureza....

O espaço entre o céu e a terra assemelha-se a um fole

Sendo o Homem Sagrado o próprio símbolo da terra, do céu e do Tao, sua orientação é sempre relacionada à meditação. É através da meditação que a plena fusão entre o ser e o Tao pode acontecer. A meditação é fundamentalmente estruturada no homem e sua respiração, ou seja, a entrada e saída do Ch'i, do Pranah, da respiração da totalidade da criação, do universo, da Suprema Consciência, do Absoluto. É nesse espaço entre a inspiração e a expiração que a Criação vive e morre e se transmuta todo o tempo. Dessa maneira, Lao Tse nos diz que esse movimento dentro da Criação assemelha-se a um fole.

É um vazio que não distorce
Seu movimento é a contínua criação

O fole da respiração da Criação, o espaço entre o céu e a terra é o vazio onde se insere o Caminhante em sua meditação fusionada ao Tao. O processo da meditação traz em si mesmo várias etapas e cada uma dessas etapas vai transformando o Caminhante em seu Caminho no sentido de aproximá-lo mais e mais de sua Iluminação e posteriormente de sua Imortalidade, quando existe a alquimia do Caldeirão, ou seja, quando o corpo físico do homem passa a ser o Corpo de Luz do Homem Sagrado. Por isso, Lao Tse nos diz que esse espaço, esse fole, esse vazio, tudo isso é um movimento que traz a contínua criação.

O excesso de conhecimento conduz ao esgotamento
E não é melhor do que manter-se no centro

Também em outros capítulos do Tao Te Ching, Lao Tse nos fala sobre o conhecimento e de como em tantas ocasiões este pode mais ser negativo do que positivo no sentido do extremismo do racionalismo ou do intelectualismo, questões que nada contribuem, ou muito pouco contribuem no Caminho da Iluminação e da Imortalidade. O que verdadeiramente traz a fusão com o Tao é a meditação, é o alinhamento da respiração do Caminhante com o fole universal, é a entrada do Caminhante no espaço entre o céu e a terra, ou seja, no vazio. Assim é a completa interiorização que nos leva a Caminhar nosso Caminho.

O Tao é a absoluta interiorização, nada é exterior ao Tao. Tudo é interior ao Tao. E o Tao não possui nem mesmo uma respiração porque se assim fosse, não seria o Tao porque seria presumível então haver a inspiração e a expiração, o que já traria uma exteriorização. Dessa forma, o Tao é o Vazio. E o vazio tem como movimento a contínua criação. A criação, céu e terra, gera e cria mas nada quer para si, por ser impessoal.



Montanha abaixo do céu: a imagem da Retirada.  Assim, o homem superior mantém o inferior à distância, não com raiva, porém com reserva.

O homem superior pode ser compreendido como aquele que  possui a Virtude de buscar a ampliação de sua Consciência.  O homem inferior pode ser compreendido como aquele que não possui esta Virtude, bem ao contrário, está envolto na escuridão de sua ignorância.  Dessa forma, o Mestre é aquele que sabe que possui em si mesmo, questões que lhe trazem a Virtude de ser um homem superior bem como questões que não lhe trazem esta Virtude, que ainda estão fazendo parte de ações  suas enquanto homem inferior.

Em Tun, A Retirada, é preciso que o Mestre saiba bem lidar com estas situações, trazendo sua mente para manter sua atitude de homem superior e vivenciado seu lado homem inferior com  conscientização do mesmo, sim, porém com distanciamento, com reserva - não com raiva ou animosidade.


Wu Jyh Cherng, em sua interpretação sobre o Capítulo 27 do Tao Te Ching, de Lao Tse, nos diz:

O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele   que é bom

Esta frase diz o mesmo que  o Buda disse:  Todos os seres são Budas adormecidos.  E todos os Budas são homens despertados.

O homem que ainda não é bom, é um recurso a ser transformado em bom.

O homem que já é bom, tem o poder de transformar aquele que ainda não é bom.

Recurso é a matéria-prima a ser trabalhada.

Nós, que somos adormecidos, temos que nos trabalhar para podemos nos iluminar.

Ainda bem que não somos iluminados... por isso ainda podemos iluminar.  Ainda bem para aqueles que são iluminados e por isso Eles podem nos iluminar.

Por isso, não   existe bem ou mal.  Existe o bem que é a absoluta iluminação: a Vida e a Consciência Infinitas.

E aquele que ainda não é bom, porque ainda não alcançou a vida e a consciência infinitas, pode alcançar - por isso é um bom recurso.

Compreendendo isso, Lao Tse diz:

Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado

Não adianta sermos muito inteligentes.  Se não iluminamos, não teremos a verdadeira compaixão de amarmos nossos recursos (nossos discípulos, as pessoas).

Não havendo uma realização espiritual, não valorizando o mestre com devoção, buscando nossa própria ascensão, não adiante sermos inteligentes.  Essa inteligência seria uma inteligência que não é boa.  Inteligência, quando não é boa, pode até ser nociva.


A tudo isso denomina-se Maravilha e Essência

Esses são ensinamentos maravilhosos e essenciais do Tao.  Todo Taoísta tem que compreender esses ensinamentos para poder, com os recursos, transformar-se em mestre; para poder alcançar a iluminação, para transmutar, para ter devoção e doação; para queimar Karmas através da doação; para buscar a conexão com os superiores através da devoção e esforçar-se por si próprio através da transmutação.”


(Texto extraído da Tradução e Interpretação do Capítulo 27 do Tao Te Ching, de Lao Tse, por Wu Jyh CherngTranscrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1995. Transcrição e Síntese de Janine Milward)



Trigramas e Hexagrama Nucleares


Em Tun, a Retirada, estaremos encontrando Ch'ien, o Criativo, ocupando o lugar de Trigrama Nuclear Superior e Sun, o Vento, a Madeira, ocupando o lugar de Trigrama Nuclear Inferior.  Estes dois Trigramas formam o Hexagrama Nuclear em Kou, Vir ao Encontro.


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A Retirada                    Céu                  Vento                           Vir ao Encontro
Hexagrama                                                                             Hexagrama Nuclear
Original


Podemos observar que Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Pai, realiza-se através as Linhas Quarta e Quinta do Trigrama do Céu do Hexagrama Original, em Ch'ien, o Céu, e através a Linha Terceira de Ken, a Montanha, o cume do Trigrama da Terra.  Sendo assim, existe um reforço imenso, digamos assim, em termos das Linhas Yang diretas e criativas e plenas de energias e de intensidade de movimento ascendente e tudo isso fica mesclado ao movimento descendente de Ken, a Montanha, cuja linha Yang realiza-se enquanto ação de busca de seu encontro com o Céu - mesmo que esteja inteiramente atado à K'un, a Terra.

Este agrupamento de Linhas Yang, dentro do Trigrama Nuclear Superior, em Ch'ien, o Céu, certamente estará trazendo uma leitura mais diferenciada em relação à energia de Retirada das Linhas Terceira, Quarta, Quinta e Sexta do Hexagrama Original, Tun, A Retirada.

Ao mesmo tempo, quando da formação do Trigrama Nuclear Inferior, em Sun, o Vento, a Madeira, estaremos encontrando a Quarta Linha do Hexagrama Original, Tun, A Retirada, Linha  Yang sendo aglutinada à Terceira Linha, também Yang, do Trigrama da Terra, em Ken, a Montanha, e ainda tudo isso se fusionando com a Segunda Linha do Hexagrama Original, Linha Yin.  Tudo isso faz com que exista o reforço do antagonismo de movimentos ascendente e descendente, já visto da descrição do Hexagrama Original, em Tun, A Retirada, e certamente esse antagonismo ainda estará presente em uma leitura mais diferenciada quanto aos textos das Linhas Segunda e Terceira e Quarta do Hexagrama Original.


É interessante notarmos que o Hexagrama Nuclear inserido em Tun, a Retirada, é um Hexagrama que já apresenta-se enquanto hall de entrada, digamos assim, para o Hexagrama Original!  Ou  seja, em Kou, Vir ao Encontro, existe o Retorno do Sublime Yin enquanto em Tun, a Retirada, este Retorno já é reforçado por mais uma Linha Yin adentrando o Hexagrama e por isso, o Hexagrama Original se diferencia do Hexagrama Nuclear por possuir uma maior lucidez sobre a inexorabilidade da conclusão da supremacia das Linhas Yang que estarão dando lugar à supremacia das Linhas Yin: a Luz realiza sua Retirada para a entrada de cena da Obscuridade.

O Hexagrama Kou, Vir ao Encontro,
Céu sobre Vento


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Kou, Vir ao Encontro, já traz o retorno de uma única Linha Yin, a Primeira Linha, já anunciando o fato inexorável que a Plenitude da Luz alcançou seu auge, seu apogeu, e por esta mesma razão, deverá dar início à sua transmutação, em busca de Não-Luz, a partida inicial para o Inverno.

Neste momento, o Sol faz uma parada e retorna, é o ponto final do Oito do Revirão do Sol.

O retorno é o movimento do Caminho - assim nos diz Lao Tse, em seu Capítulo 40 do Tao Te Ching.


O Hexagrama Tun,  A Retirada,
Céu sobre Montanha

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Em Tun, a Retirada, com a Segunda Linha e com a Primeira Linha apresentando o Sublime Yin, existe a certeza absoluta de que o Inverno existe, o outro lado do Oito do Revirão do Sol existe e cada vez mais se aproxima.  Já estamos próximos ao momento de anúncio da próxima chegada do Outono.  A Retirada se faz com as Linhas Yang que começam a deixar o Hexagrama.










As Linhas


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As duas Linhas Yin que avançam através o Hexagrama e que levam a acontecer Tun, a Retirada, são consideradas Linhas Diretrizes.  No entanto, a Linha Governante é a Quinta Linha,  o lugar da Consciência Iluminada, a Linha do Rei, a Retirada realizada com lucidez.

Tun, a Retirada, deve acontecer, tanto em se tratando das Linhas Yin quanto em se tratando das Linhas Yang. 

Apenas que, em termos das Linhas Yang, a Retirada acontece de forma inexorável - o tempo da supremacia do Sublime Yang está dando lugar ao tempo da supremacia das Linhas Yin.  E, com alguma exceção para a Terceira Linha, o cume da Montanha, a mente do Mestre que toca o céu e que permanece na terra, na encarnação, as Linhas Yang que formam o Trigrama do Céu, em Ch'ien, o Criativo, realizam a tarefa da Retirada, Tun, de forma bem tranqüila.  A Terceira Linha, mesmo sendo ‘puxada’ pelas Linhas Yang seguintes, ainda se sente atada às Linhas Yin das Primeira e Segunda posições, em Ken, a Montanha, em seu movimento intensamente descendente..., diferente do movimento plenamente em ascensão, que acontece em Ch'ien, o Criativo.

Em termos das Linhas Yin - Primeira e Segunda posições -, encontraremos ações diferenciadas em termos de Tun, a Retirada (que, também para elas é inexorável, mesmo que estejam fazendo parte da côrte da supremacia do Sublime Yin que promete alcançar seu auge, em algumas etapas à frente).  A Primeira Linha, Yin e idealmente incorreta, ainda está muito distante da Retirada e por isso, lhe é recomendada cautela.  A Segunda Linha, porém, é Yin e idealmente correta e faz excelente correspondência com a Quinta Linha e por esta razão, devota-se abnegadamente a realizar a tarefa de Tun, a Retirada.


A Primeira Linha é Yin e idealmente incorreta e por estar ainda bem ao começo da Retirada - ou ao final -, o I Ching a considera posicionada na cauda.  Este lugar é delicado e acentuado pelo fato de que a Linha é Yin e receptiva e sem grande atuação dentro da energia, da ação para empreender a Retirada das Linhas Yang.

A Segunda Linha é Yin e idealmente correta e isso faz com que tenha completa correspondência com a Linha Governante do Hexagrama, a Quinta Linha Yang e idealmente correta!  Isso faz com que o Hexagrama, como um todo, tome completa Consciência, Lucidez sobre o tema A Retirada.  No entanto, a Segunda Linha faz atuar esta Retirada de forma bem receptiva (porém bem segura de suas intenções, sobre a inexorabilidade da supremacia as Linhas Yin que vem anunciar!) e, por esta razão, é bem correspondida pela Quinta Linha.  Este bom entrelaçamento entre Segunda Linha Diretriz e Quinta Linha Governante leva o I Ching a dizer, no Julgamento:  A Retirada.  Sucesso.  Em pequenas coisas, a perseverança é favorável. 

Cabe à Terceira Linha - Yang e idealmente correta - não somente deixar-se fusionar-se às demais Linhas Yang que fazem parte do Trigrama do Céu, no sentido da realização da Retirada, Tun, mas também voltar-se para as duas Linhas Yin anteriores - Primeira e Segunda Linhas - e lhes transmutar suas energias de Obscuridade em energias Servidoras.

Já no Trigrama do Céu, a Quarta Linha, mesmo sendo Yang e idealmente incorreta, rejeita quaisquer situações que a detenham em sua Retirada e realiza esta de forma agradável e bem-intencionada - mesmo porque as demais Linhas Yang (principalmente as Linhas Quinta e Sexta) a levam a atuar desta maneira. 

Podemos, porém, bem notar que a Quarta Linha ainda realiza sua Retirada - mesmo que o I Ching a denomine de ‘voluntária’ dentro de um clima de separatividade entre o as Linhas Obscuras e as Linhas Yang.... enquanto a Quinta Linha age de forma bem diferente em função do fato de que foi harmoniosamente correspondida pela Segunda Linha (Yin e idealmente correta) bem entrelaçando, na Retirada realizada amistosamente, o Homem da Terra com o Homem do Céu.

Quanto à Sexta Linha, por ocupar um lugar de natural retirada do Hexagrama, realiza a Retirada de maneira simples e direta - por atuar de forma dinâmica (mesmo sendo uma Linha idealmente incorreta) e por estar  sendo ‘empurrada’ pelas Linhas Yang anteriores, todas prontas para a realização de Tun, a Retirada.






Linha a Linha





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___  ___           Primeira Linha


Na cauda durante a retirada: isto é perigoso.  Não se deve empreender algo.

A Primeira Linha é Yin e idealmente incorreta e, juntamente com a Segunda Linha - também Yin porém idealmente correta -, perfaz o tom de Obscuridade que invade o Hexagrama: os homens inferiores estão chegando, o que ocasiona a Retirada, Tun, dos homens superiores.  Por serem as Linhas diferenciadas e que trazem o tom fundamental do Hexagrama, as Linhas Primeira e Segunda são consideradas Linhas Diretrizes.

No entanto, é bom que saibamos que o Hexagrama Tun, A Retirada, não apenas está conclamando a Retirada das Linhas Yang.  Não.  Também as Linhas Yin estão sendo conclamadas! (A verdade é que tanto as Linhas Yang quanto as Linhas Yin bem sabem que, em sete etapas, todas, cada qual à sua vez, terá seu momento de Retirada do Hexagrama).

E por estar situada logo no comecinho do Hexagrama - bem como não fazer parte do Hexagrama Nuclear em Vir ao Encontro, Kou, que já antecipa esta questão de Retirada -, a Linha Yin na Primeira Posição é considerada como a ‘cauda’ quando o I Ching diz: Na cauda durante a retirada

E o sábio continua: isto é perigoso.  Existem alguns  ‘perigos’ que rondam a função mais distanciada representada pela Primeira Linha enquanto denominada de ‘cauda’, de finalização de algo: ela acompanha a Segunda Linha (que é idealmente correta e já está amadurecida em sua entrada no Hexagrama - assim como vimos no Hexagrama Nuclear em Kou, Vir ao Encontro, quando esta Linha apontava para o Retorno das Linhas Yin) e, ao acompanhar a Segunda Linha não exatamente exerce a mesma função que a outra e isso é perigoso.  Podemos também perceber que a Primeira Linha possui uma boa correspondência tanto com a Quarta Linha (que dá o  início ao Trigrama do Céu) e com a Sexta Linha (que traz a conclusão do Hexagrama).  No entanto, todas estas Linhas estão em lugares idealmente incorretos e por esta razão, novamente a Primeira Linha fica situada na ‘cauda’, verdadeiramente ‘escanteada’, digamos assim, e isto é perigoso.

Por tudo isso, o I Ching finaliza:  Não se deve empreender algo.  A ação de empreendimento é usada para qualificar uma Linha Yang e, de preferência, em lugar idealmente correto.  Sendo a Primeira Linha uma Linha Yin, é melhor que se conserve perseverante (Virtude de K'un, a Terra) e em Quietude (Virtude de Ken, a Montanha, Trigrama da Terra).

Veremos, porém, mais adiante, que as Primeira e Segunda Linhas - Linhas Diretrizes do Hexagrama  -  estarão sendo bem levadas à realização de algum empreendimento - em termos de Receptividade e de Abnegação e de Serviços que o Povo presta - pela Terceira Linha de forma a bem servir às Linhas Yang em suas Retiradas.





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___  ___           Segunda Linha
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Ele o submete e detém com firmeza usando o couro de boi amarelo.  Ninguém consegue soltá-lo.

A Segunda Linha é Yin e idealmente correta e isso faz com que tenha completa correspondência com a Linha Governante do Hexagrama, a Quinta Linha Yang e idealmente correta!  Isso faz com que o Hexagrama, como um todo, tome completa Consciência, Lucidez sobre o tema A Retirada. 

No entanto, a Segunda Linha faz atuar esta Retirada de forma bem receptiva (porém bem segura de suas intenções, sobre a inexorabilidade da supremacia as Linhas Yin que vem anunciar!) e, por esta razão, é bem correspondida pela Quinta Linha.  Este bom entrelaçamento entre Segunda Linha Diretriz que se aferra firmemente à Quinta Linha - que lhe corresponde - leva o I Ching a dizer, no Julgamento:  A Retirada.  Sucesso.  Em pequenas coisas, a perseverança é favorável. 

O amarelo é a cor do centro, o lugar de K'un, a Terra, dentro dos Cinco Elementos: Água, Fogo, Ar, Metal e Terra.  A vaca é um dos Atributos de K'un, a Terra, o Receptivo.  A Fidelidade é o Atributo do Elemento Terra e é através da Fidelidade que a Segunda Linha se submete à Quinta Linha e é por esta correspondida: é a fusão entre o homem inferior e o homem superior anunciados pelo I Ching em Tun, a Retirada.

O homem  bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele que é bom
Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado.

Lao Tse, Capítulo 27 do Tao Te Ching


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_______           Terceira Linha
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Uma retirada contida é penosa e arriscada.  Manter as pessoas como empregados e empregadas traz boa fortuna.

A Terceira Linha é Yang e idealmente correta e atua enquanto a conclusão do Trigrama da Terra porém dentro do tom de conclusão de Ken, a Montanha, como seu cume, como o lugar que toca o céu, que une o movimento descendente da Terra com o movimento ascendente do Céu.

Mesmo fazendo parte das Linhas Yang em continuidade no Hexagrama Tun, a Retirada, existe na Terceira Linha um tom de contenção.  Esta contenção acontece em função das duas Linhas Yin anteriores - que são as Linhas Diretrizes do Hexagrama - e que agem no sentido de fazer com que o  movimento intensamente descendente de Ken, a Montanha, e sua Quietude intrínseca, sejam observados.  E tudo isso fica ainda mais intensificado quando observamos que o Trigrama Nuclear Superior, em Ch'ien, o Céu (que toma para sua composição esta Terceira Linha ora comentada) age com força para que esta Linha acompanhe o movimento enérgico e ascendente das Linhas Yang do Trigrama do Céu, em Tun, a Retirada.  A Terceira Linha traz um tom de antagonismo de ação ora voltada para o Trigrama da Terra, ora voltada para o Trigrama do Céu.  Por isso, o I Ching diz: Uma retirada contida é penosa e arriscada. 

No entanto, o I Ching vem ajudar a Terceira Linha a bem encontrar uma solução a respeito da contenção exercida pelas duas Linhas Yin anteriores, em Ken, a Montanha, no Trigrama da Terra, quando diz:  Manter as pessoas como empregados e empregadas traz boa fortuna.

Ou seja, as duas Linhas Yin, Diretrizes do Hexagrama, deixam de serem vistas enquanto Linhas de Obscuridade, enquanto qualificadoras do homem  inferior e passam a atuar de forma Abnegada e Receptiva e de Serventia (questões todas voltadas para as Virtudes de K'un, a Terra, a Mãe, o Povo).

Dessa forma, a Terceira Linha encontra uma boa solução para sua possível Retirada - que deixa de ser contida e penosa e arriscada, sim, mas ao mesmo tempo torna-se plural, quer dizer, leva consigo seus servidores, as Linhas Primeira e Segunda.

Se virmos Ken, a Montanha, como o Mestre sentado em seu  silêncio, o homem superior em busca de seu Caminho da Iluminação e  posteriormente, da Imortalidade ou Liberação, compreenderemos o porquê o Mestre precisa se circundar de servidores fieis e que realizem para ele os trabalhos terrenos de forma que o Homem Sagrado possa dedicar-se tão somente ao seu Caminho da Sagração.

Wu Jyh Cherng, nos diz que já se ouviram falar de Homens Sagrados que, ao realizarem-se inteiramente dentro de seus Caminhos da Imortalidade, ascensionaram aos céus carregando seus servidores e toda sua circunvizinha com eles!



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_______           Quarta Linha
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A retirada voluntária traz boa fortuna ao homem superior e ruína ao inferior.

A Quarta Linha é Yang e idealmente incorreta.  No entanto, por fazer parte da trilogia das Linhas Yang que compõem Ch'ien, o Criativo, atuando no Trigrama do Céu e exercendo seu intenso movimento ascensional, tudo isso traz grandes recursos à Quarta Linha em termos de seu amadurecimento e de sua atuação enquanto homem superior já pronto para realizar sua Retirada e deixar para trás quaisquer resquícios de envolvimentos com os homens inferiores (que podem ser encontrados ainda dentro das Linhas de Obscuridade do Trigrama Interior, Trigrama da Terra, em Ken, a Montanha).

Não podemos nos esquecer que a Quarta Linha é representada pelo Ministro, aquele que serve ao Rei, à Quinta Linha, o lugar da Consciência Iluminada.  O Ministro é alguém que sai do Povo - as duas Linhas Yin que fazem parte do Trigrama Interior.  No entanto, quando a Retirada se faz necessária e inexorável de acontecer, a Quarta Linha, em função de seu maior amadurecimento de vida na côrte do Rei, exerce esta Retirada de forma voluntária, afastando-se do Povo (ou dos chamados homens inferiores).

Este distanciamento entre homens superiores e homens inferiores - realizado através o Trigrama do Céu e o Trigrama da Terra em Tun, a Retirada -, traz boa fortuna aos homens que buscam por suas Sagrações e traz a ruína para os homens que se apegam às suas perdas.

Por isso, quem segue e realiza através do Caminho
Adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude
Quem se iguala à perda, perde o Caminho.

Lao Tse, Capítulo 23 do Tao Te Ching





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_______           Quinta Linha
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Retirada amistosa.  A perseverança traz boa fortuna.

A Quinta Linha é Yang e idealmente correta, é a Linha do Rei, o lugar da Consciência Iluminada.  Esta é a Linha Governante do Hexagrama e faz harmoniosa correspondência com a Segunda Linha, Yin e idealmente correta, chamada de Linha Diretriz (juntamente com a Primeira Linha, também Yin), em Tun, a Retirada.

A Segunda Linha demonstrou claramente sua receptividade e sua abnegação quanto à Retirada, Run, realizada amistosamente pela Quinta Linha e tornaram-se ambas extremamente fortes através esses laços de correspondência harmoniosa, bem entrelaçando o Homem da Terra (a Segunda Linha) e o Homem do Céu (a Quinta Linha).  O I Ching recomenda que A perseverança dentro desta ação em ambas as Linhas continue de forma que possa trazer-lhes boa fortuna e uma Retirada amistosa. 

O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado.
Lao Tse, Capítulo 27 do Tao Te Ching





_______           Sexta Linha

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Retirada alegre.  Tudo é favorável.

A Sexta Linha é Yang e idealmente incorreta.  Porém, por fazer parte do Trigrama do Céu, a Sexta Linha sempre, sempre, pressupõe a Retirada, Tun, do Hexagrama.  Tudo isso fica ainda mais ratificado pelo fato de que é Ch'ien, o Criativo, com seu movimento ascensional intenso, que faz parte do Trigrama do Céu, em Tun, a Retirada!

Sendo assim, para a Sexta Linha a Retirada é alegre.  E mais:  por acontecer após a Quinta Linha - que se fusionou intensamente com a Segunda Linha de forma que acontecesse o entrelaçamento harmonioso entre o Homem da Terra e o Homem do Céu e que, em continuidade, a Lucidez, a Consciência Iluminada sobre a Retirada fosse alcançada -, a Sexta Linha possui a clara noção sobre qual caminho tomar, qual decisão tomar.  Por esta razão, o I Ching diz: Tudo é favorável.






Síntese

A Montanha recebe o Céu,
formando Tun, A Retirada


A Montanha, a Quietude, o Mestre, possui seu movimento descendente, bem assentado na Terra.  Porém, por esta mesma razão, a Montanha sempre está voltada para o Céu - é o lugar mais alto da Terra, é o doce desejo do doce encontro entre céu e  terra!

O Céu tem movimento inteiramente ascendente - daí se dizer que o Encontro entre Montanha e Céu pode proporcionar uma Retirada.

No entanto, que Retirada é esta? 



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_______           Céu, Ch'ien, o Criativo
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___  ___           Ken, a Montanha, a Quietude


Um tipo de Retirada acontecerá caso a Montanha não queira se elevar em sua dimensão de mente, não  acompanhe o movimento de ascensão do Céu, mesmo que subjetivamente.

Outro tipo de Retirada acontecerá caso a Montanha esteja inteiramente pronta para elevar sua mente à dimensão ascensional do Céu - assim acontece quando o Mestre realiza seu Caminho da Iluminação - com mente infinitamente iluminada - bem como quando o Mestre realiza seu Caminho da Imortalidade ou Liberação - com vida e mente infinitamente iluminadas e infinitizadas!

Por essas razões, Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 23 do Tao Te Ching:

Se nem o céu e a terra podem produzir coisas duráveis,
Quanto mais os seres humanos?
Por isso, quem segue e realiza através do Caminho
Adquire o Caminho
Quem se iguala à Virtude, adquire a Virtude
Quem se iguala à perda, perde o Caminho.

Em Tun, a Retirada, podemos ver que existe a inexorabilidade do andamento ascensional das Linhas Yin ao longo do Hexagrama, expulsando as Linhas Yang, as Linhas da Luz do Verão já prestes a ser transmutado em Outono e aprontando-se para o Inverno, quando todas as Linhas Yin estarão imperando.

Por esta razão, existem duas Linhas Diretrizes Constituintes no Hexagrama - Linhas Co-Governantes -, as duas Linhas Yin do Receptivo que trazem a Não-Luz e fazem com que o Céu, Ch'ien, comece a se afastar, a se retirar, enquanto a Montanha permanece em sua Quietude e não exerce a retirada.  No entanto, na Imagem, o I Ching diz:  Assim, o homem superior mantém o inferior à distância, não com raiva, porém com reserva.

A Linha  realmente Governante é aquela que faz parte da Quinta posição, o Lugar do Homem do Céu, a Linha do Rei, a consciência iluminada que rege o Hexagrama.  É uma Linha Yang, idealmente correta, e realiza a Retirada em bons termos - e, com isso, também realiza o desejo de intenção de Retirada da Segunda Linha - Linha Yin e idealmente correta, Linha do Homem da Terra, e com correspondência intensa com a Quinta Linha.

Os Trigramas Nucleares inseridos são Ch'ien, o Céu, o Criativo, e Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, o Penetrante.  Ambos possuem movimento ascendente e fazem com que todas as Linhas do Hexagrama anseiem pela Retirada - apenas que a Montanha, Ken, um tanto que impede essa movimentação, no Trigrama da Terra, mas que Ch'ien, o Céu, o Criativo, abençoa e realiza, no Trigrama do Céu.

O Hexagrama Nuclear inserido é Vir ao Encontro, a entrada de uma única Linha Yin no Hexagrama, enquanto Primeira Linha - que serve de confirmação para o advento das Linhas da Não-Luz, na Primeira Linha e na Segunda Linha do Hexagrama Original, Tun, a Retirada.




Créditos:

Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude – Lao Tsé
-- Todas as traduções dos Capítulos do Tao Te Ching, de Lao Tse, foram realizadas por Wu Jyh Cherng e podem ser encontradas no Livro do mesmo nome publicado pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil. 


Texto extraído da Transcrição e Síntese do Capítulo 23 por Wu Jyh Cherng, em Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 13 de dezembro de 1994. Transcrição e Síntese de Janine Milward

Texto extraído da transcrição da gravação da Aula ministrada por Wu Jyh Cherng, em 21  de junho de 1994,  sobre o Capítulo 5 do Tao Te Ching, o Livro do Caminho e da Virtude, de Lao Tse - com Tradução e Interpretação do Mestre Cherng.  Transcrição de Janine Milward.

Texto extraído da Tradução e Interpretação do Capítulo 27 do Tao Te Ching, de Lao Tse, por Wu Jyh CherngTranscrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 1995. Transcrição e Síntese de Janine Milward

O I Ching, O Livro das Mutações
Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários de Richard Wilhelm
Tradução para o português de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Correa Pinto
Editora Pensamento – São Paulo, Brasil

I Ching, Alquimia dos Números
Wu Jyh Cherng
Editora Objetiva - Rio, Brasil - Hoje publicado pela Editora Mauad, São Paulo, SP





O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada