A Montanha, Ken, recebe a Montanha, Ken, formando o Hexagrama Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre






O Fio da Meada







Sexta Linha      ___  ___               O
Quinta Linha         ___  ___          I Ching
Quarta Linha                ___  ___               do
Terceira Linha       _______          Caminho
Segunda Linha      _______               do
           Primeira Linha    _______              Céu





Janine Milward





TERCEIRO VOLUME

Os Hexagramas compostos por Ken, a Montanha,
a Quietude, o Mestre



Editora Estrela do Belém




O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada






Ken, a Montanha,
recebe Ken, a Montanha,
formando

Ken, A Quietude, A Imobilidade, O Mestre

O Mestre
Vivenciando seu Caminho e sua Virtude


Janine Milward



_______
___  ___
___  ___           Ken, a Montanha, Trigrama do Céu, Visitante

_______
___  ___
___  ___           Ken, a Montanha, Trigrama da Terra, Estruturador e Primordial



Dentre todos os Oito Trigramas - Pai, Mãe e Filhos e Filhas -, encontraremos a Montanha, Ken, o Filho mais Jovem, enquanto o representante da natureza propriamente dita em sua evolução de mente: o homem a tornar-se homem superior, a tornar-se o Mestre.

O homem estará sempre atuante entre o Céu e a Terra e é dentro dessa mesma realidade que estaremos vivenciando cada Trigrama em Primeira Linha representativa

O Céu revela o Princípio Primordial.

A Terra revela o Tesouro do Espírito, A Sagrada Leitura.

O Homem revela o Mestre, aquele que retorna ao Princípio Primordial através do Tesouro do Espírito.

O Princípio Primordial é o Tao: A Virtude, Te, é o Tesouro do Espírito. Assim, o Homem, o Mestre, é aquele que busca o Tao através de sua ação, a virtude, Te. Dessa maneira, o Três gera os dez mil seres, o universo.


O Caminho gera o Um
O Um gera o dois
O dois gera o três
O três gera os dez mil seres.
Os dez mil seres se cobrem com o obscuro e abraçam o claro.
E se harmonizam através do esplêndido sopro.

Lao Tse, Capítulo 2 do Tao Te Ching


O Tao gera o Um, o Princípio Primordial, O Sopro do Tao, a energia do Absoluto.

O Um – advindo do Absoluto – gera o Dois, o Tai Chi: O Yang, o claro, e o Yin, o obscuro.

O Dois gera o Três: O Céu, A Terra e toda a natureza sintetizada no Homem.



A constância de Ch’ien, O Céu, o Yang absoluto, é simbolizada pela linha contínua:
________

A duração de K’unA Terra, o Yin absoluto, é simbolizada pela linha vazada
___ ___


A constância de Ch’ienO Céu, revela a unidade, O Uno. A duração de K’unA Terra, revela a multiplicidade, a partir da dualidade do Yin e do Yang.

Na formação dos Trigramas, estaremos encontrando, primeiramente, a composição dos Trigramas do Pai e da Mãe, de Ch'ien e de K'un, do Céu e da Terra, acolhendo, respectivamente para o Criativo e para o Receptivo, Três Linhas Yang e Três Linhas Yin.  Em continuidade, com a formação da Família do Céu e da Terra, estaremos encontrando a fusão das Linhas Yang e Yin no tecimento dos Três Filhos e das Três Filhas.



A Família do Céu e da Terra:


___ ___         ______
___ ___        _______
___ ___        _______

K’unA Terra       Ch’ienO Céu



_______           ___ ___            ___ ___
___ ___            _______           ___ ___
_______            ___ ___            _______

Li, O Fogo               K’an, A Água            Chen, O Trovão
Filha do Meio           Filho do Meio             Filho mais Velho


_______           ___ ___            _______
             _______           _______                       ___ ___
___ ___            _______           ___ ___

Sun, O Vento               Tui, O Lago                  Ken, A Montanha
Filha mais Velha         Filha mais Jovem           Filho mais Jovem


Sendo assim, cada Trigrama estará acolhendo uma Linha para a Terra, uma Linha para o Homem e uma Linha para o Céu:

- uma linha para o Céu (contendo a revelação do Princípio Primordial, O Tao, em sua manifestação Yang ou Yin)

- uma linha contínua para o Homem (contendo a revelação do Mestre em sua manifestação Yang ou Yin)

- uma linha contínua para a Terra (contendo a revelação do Tesouro do Espírito, O Conhecimento, O Te, A Virtude, em sua manifestação Yang ou Yin)


Nos Trigramas Primordiais imajados do Tao e do Te, o céu está acima e a terra está abaixo. O céu é constante e a terra é duradoura.

O homem, por se encontrar na transição entre o céu e a terra, faz a ligação entre a constância e a infinitude do céu com a duração e a finitude da terra.

Esta ligação ou re-ligare, é a busca do homem pelo Tao. O encontro com o Tao é realizado através da virtude,  e libertá-lo da Roda da Vida, Te.


Quando o Homem Sagrado consegue realizar em si mesmo o Tao e o Te, O Caminho e a Virtude, ele se torna constante e infinito... É a Imortalidade: "Mesmo perdendo o corpo, não irá perecer".

Conhecer a constância se chama iluminação
Desconhecer a constância é a impropriedade que provoca o infortúnio.
Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno.
Assim, mesmo perdendo o corpo, não irá perecer

Lao Tse, Capítulo 16 do Tao Te Ching


Ken, A Montanha, A Quietude, a Imobilidade, O Mestre. é considerado o filho mais jovem, pois, sendo filho direto de sua mãe, K´un, A Terra, O Receptivo, recebe o Yang do Criativo, trazendo-lhe a confiança da permanência na terra. em sua terceira linha (a linha do Céu).  A única Linha Yang de Ken, a Montanha, é o lugar onde o Sublime Yang encontra-se com o Céu, assim fazendo com que o Mestre seja aquele que possui sua mente voltada para a transcendência...., enquanto as duas Linhas Yin o prendem à Terra, o lugar de encarnação e de plenitude de materialização - porque a Iluminação e a Imortalidade, a Liberação, têm que acontecer dentro da plenitude da encarnação: Luz é matéria.  Ken, a Montanha, é o Trigrama que trata do Homem que expande sua consciência para se tornar o Mestre.

Ken, a Montanha,  Quietude,  é a própria imagem dessa fusão mais íntima entre o Céu e a Terra e portanto é o Mestre sentado em seu silêncio - é o homem, aquele que traz consigo a compreensão da fusão entre o Céu e a Terra e realiza em si essa inter-ligação.

Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre, possui movimento descendente, com suas duas Linhas Yin - as Linhas da Terra e do Homem - bem afixadas na Terra, em K'un, a Mãe, e com sua única Linha Yang - a Linha do Céu - já voltada para ser aglutinada ao Pai, Ch'ien, o Céu.

A Montanha vem mostrar a concretização plena do Planeta Terra, sua solidificação, seu resfriamento, aprontando seu solo para receber a natureza como um todo, toda a Criação que aqui vive.  As duas linhas Yin que compõem Ken, A Montanha, vêm nos falar de sua plena interação com sua Mãe Terra, K'un, O Receptivo.  Porém, sua linha Yang ao alto cumpre sua missão de integração plena com Ch'ien, o Criativo, recebendo suas bênçãos da forma mais aproximada possível, dentro da Terra, dentro do Mundo da Manifestação.


________          Linha Yang do Céu, o Princípio Primordial
___   ___          Linha Yin do homem a tornar-se Homem Sagrado, o Mestre
____  ___         Linha Yin da Terra, o Tesouro do Espírito


Encontraremos Ken, a Montanha, sendo deslocado do Noroeste, no Céu Anterior para o posicionamento do Nordeste no Céu Posterior porquanto deverá ser substituído por seu Pai, o Céu, o Criativo, Ch'ien, no lugar da implementação da real retirada (acontecida em Tui, o Lago, no Outono, no Oeste), já voltado o Criativo para assumir suas dimensões mais elevadas e apresentando K’an, a Água, o Norte, o Inverno como o tempo de conclusão de ciclo anterior e de gestação do novo ciclo a vir-a-ser.  Este novo ciclo a vir-a-ser é realizado através a Semente que Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre, traz consigo mesmo em seu posicionamento entre o Norte e a Primavera, no Mundo da Manifestação.

A verdade é que, se virmos Ken, a Montanha, a Quietude, dentro da figura do Mestre..., estaremos encontrando o Homem em sua escalada de homem a Homem Sagrado através a expansão de sua mente e tudo isso é sempre acionado pelo Céu, o Criativo, o Sublime Yang em sua infinita Luz em sua infinita vida!  Sendo o Filho mais Novo, Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre, é a herança mais direta de seu Pai, Ch'ien, o Céu, o Criativo - no sentido de que se apresenta enquanto o único Trigrama voltado para o Homem, para os seres que desenvolvem suas mentes ao longo das múltiplas encarnações, em eterna mutação, na Terra.



A Virtude maior que o homem deve possuir - em sua função de alcançar seu lugar de Mestre -, é a Modéstia, a Humildade.  E é o Hexagrama Chien, Modéstia, Humildade, que nos apresenta esta realização, com Ken, a Montanha, o Mestre, acolhendo sua Mãe, K'un, a Terra - no primeiro acolhimento que a Montanha, o Filho mais Jovem, o Mestre, realiza.

 Chien, Modéstia, Humildade, nos traz a imagem que poderíamos chamar de ‘predileta’ do Caminho e da Virtude: a Humildade - em K'un, a Terra, sendo acolhida por Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre sentado em seu silêncio e em busca de seu Caminho.

O Homem Superior pode, então, ser humilde em sua cabeça, no Vazio, e resistente em seu corpo, na Montanha.  É a longa jornada que o homem realiza para tornar-se Homem Sagrado, através seu trilhar no Caminho da Iluminação e, em continuidade, no Caminho da Imortalidade ou Liberação.  É o início para o forjamento do Caldeirão Alquímico do Corpo de Luz.

Sendo assim, após seu Encontro com K'un, a Terra, a Mãe, o Devocional, o Receptivo, o Abranger, está Ken, A Montanha no Trigrama da Terra, inteiramente pronto para atuar enquanto O Mestre em sua Quietude, e por esta razão, em seguimento, acolhe a si mesmo, Ken, a Montanha, no Trigrama do Céu.  O Mestre encontra-se estruturando a si mesmo, de forma interiorizada e de forma exteriorizada.  A Montanha repetida forma, então, o Hexagrama 52, A Quietude:

_______
___  ___
___  ___                       Trigrama do Céu, em Ken, a Montanha
_______
___  ___
___  ___                       Trigrama da Terra, em Ken, a Montanha


Alcançando o extremo vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude.
Tao Te Ching, Capítulo 16, Lao Tse


No Tao Te Ching - Ching significa Tratado, Tao significa Caminho e Te significa Virtude: O Tratado da Virtude e do Caminho -, nos é ensinado que o Tao do Céu Anterior é o próprio Tao, o Caminho.  E o Tao do Céu Posterior é a Virtude.

O Mestre é aquele que, para alcançar a realização de seu Caminho não se desvia de sua Virtude.

Assim, para realizarmos o Caminho e a Virtude - Caminho é o Princípio e a Virtude é aquilo que está de acordo com o Princípio -, devemos viver o Tao do Céu Anterior e o Tao do Céu Posterior.

Para tanto, devemos atingir o estado do extremo vazio e nele permanecer - mesmo que estejamos lúcidos e em atividade de nosso  cotidiano.

Os efeitos da meditação devem permanecer em todos os momentos.  Uma vez estejamos sintonizados com o Absoluto, nossas ações estarão dentro da normalidade e das leis cósmicos do Absoluto.

Lao Tse dá continuidade aos seus ensinamentos sobre a meditação e os Caminhos da Iluminação e da Imortalidade, através seu Capítulo 16 do Tao Te Ching:

Apesar da diversidade dos seres,
Cada um deles pode retornar à sua raiz.

Mesmo que os seres do universo sejam tão diferenciados entre si, todos pertencem a um mesmo Princípio Inicial.  Assim, cada um pode retornar à raiz do mais profundo de si mesmo, sem se perder e, ao mesmo tempo, reconhecendo a abrangência e a coletividade do universo.

O regresso à raiz se chama quietude.

O ato de meditar é o sentar-se em silêncio, no silêncio, mantendo as costas eretas e o pensamento abrandado, silenciado.  Concentrar a branda atenção apenas no ar que entra e sai, tornando-o mais e mais vagaroso, simples, silencioso, tranqüilo.  A consciência tenta, então, se fusionar plenamente com esse ar, esse sopro.

A Consciência é o Fogo e o Ar, o Sopro é a Água e a fusão desses dois elementos acontece dentro do corpo físico, o Caldeirão da Alquimia da meditação. 

No I Ching do Céu Posterior, são o Fogo e a Água que compõem os dois últimos Hexagramas:  Chi Chi, Após a Conclusão, e Wei Chi, Antes da Conclusão, encerrando o Livro das Mutações com a promessa de um novo ciclo, nova etapa da Roda da Vida.

Quietude se chama ‘retornar a viver’.

A suprema Quietude na meditação traz a plena fusão entre a Consciência e o Sopro.  Surge então a Fixação, o momento do real começo da real meditação.  Será somente através a Fixação - a fusão plena entre Consciência e Sopro - que não somente a meditação e todos seus ciclos poderão acontecer como também a possibilidade de se entrar no Vazio é assegurada.  Isso é ‘retornar a viver’.  O homem superior retorna a viver quando penetra no Vazio .... e lá permanece.


O retornar a viver se chama Constância

A constância é a permanência no Vazio onde existe a infinitude da consciência  e da vida.  É apenas dentro do Vazio de K'un, a Terra, o Sublime Yin, que a plenitude da Luz de Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Sublime Yang, se faz possível.  A Luz que surge dentro da plenitude da Não-Luz.

Conhecer a constância se chama iluminação.
Desconhecer a constância é a impropriedade
Que provoca infortúnio.

O homem superior busca dentro de si mesmo a Vida e a Consciência Infinitas.

Quem conhece a constância é abrangente
Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu.

A abrangência faz com que a unicidade do homem superior que alcançou a Constância se torne uma verdadeira pluralidade.  No momento em que o homem superior abraça toda a natureza em si mesmo, ele torna-se co-criador junto ao Tao da Criação.

Na Alquimia do Caldeirão, através o processo da meditação, existem dois Caminhos:

O Caminho da Iluminação é o caminho que enfatiza a infinitude da consciência, a plenitude da consciência.

O Caminho da Imortalidade enfatiza não apenas a infinitude da consciência mas também a infinitude da vida.

O céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno.

O Uno Primordial traz em si toda a Criação – que é coletiva em sua diversidade de seres. Dentro da criação, existe a multiplicação dessa própria criação. Sendo a criação uma manifestação espelhar do Tao da Criação, essa criação mesma tem o poder do céu – de onde toda a criação tem seu berço. O céu, por sua vez, ao ser uma manifestação espelhar do Tao da Criação, tem o poder do Tao, O Caminho.

O Tao, O Caminho, sendo a própria constância, tem o poder do eterno.

Assim,
Mesmo perdendo o  corpo, não irá perecer.

Ao fusionar-se com o Tao, o Homem Sagrado atinge sua Iluminação, a constância da Luz, em sua mente expandida em consciência iluminada e infinita. No entanto, também seu corpo físico deve se tornar um Corpo de Luz, trazendo-lhe vida iluminada e infinita – a Imortalidade ou Liberação.

A transmutação do corpo físico em Corpo de Luz realiza-se através da Alquimia do Caldeirão. O Caldeirão é o corpo físico que é trabalhado pelo Homem Sagrado com mente iluminada. A mente iluminada vai doando sua Luz de constância do Mundo da Não-Manifestação ao corpo físico do Mundo da Manifestação (corpo esse que nasce, vive e morre, preso à Roda da Vida, das Encarnações).

Quando todo esse trabalho é terminado, o Homem Sagrado possui não apenas consciência iluminada e infinita como também vida iluminada e infinita. Acredita-se que o Corpo de Luz não realmente morra, e sim, ascenda aos céus.

Por isso, Lao Tse nos diz que o Homem Sagrado ‘mesmo perdendo o corpo, não irá perecer’. Ou seja, perde seu corpo físico, sim, porém não sua vida.

Desta forma, consciência iluminada e infinita e vida iluminada e infinita fusionam-se plenamente à constância do Tao da Criação.

Esses são os Caminhos da Iluminação e da Imortalidade ou Liberação.






O Julgamento


A Quietude.  Mantendo imóveis as costas, ele não mais sente seu corpo.  Ele se dirige ao pátio e não vê sua gente.  Nenhuma culpa.

Em Ken, a Montanha Repetida, a Quietude, a Imobilidade, o Trigrama da Terra apresenta o Mestre em sua interiorização, sentado em seu silêncio, contemplando todo o universo através de sua busca do Vazio.  No entanto, ainda no Trigrama da Terra, encontraremos um tom de desafio, digamos assim, entre ação de movimentação e ação de quietude, entre ação de avanço e ação de repouso.  E ainda estaremos encontrando um tom de agitação sendo atuadas tanto pelo coração quanto pela mente.

A verdade é que em Ken, a Montanha, a Quietude, encontraremos o Mestre usufruindo de forma harmoniosa seus momentos de avanço, de movimentação, bem como seus momentos de repouso ou de meditação, em sua interiorização.  Toda a harmonia interior encontrada através o aprofundamento na meditação serve também para reger a vida do Mestre em seus outros momentos de vida, em seu cotidiano de vida, em sua vigília, em seu trabalho.

O Trigrama do Céu, por outro lado, apresenta o Mestre sentado em seu silêncio e em sua interiorização absoluta, adentrado em seu Vazio, e liberto dos antagonismos vivenciados no Trigrama da Terra - e tudo faz com que este Mestre, Ken, a Montanha, possa vir a ser bem contemplado por todos, pelo próprio universo.

Por causa destes antagonismos vistos acontecendo entre os Trigramas da Terra e do Céu, em Ken, a Montanha, o I Ching nos diz:  Mantendo imóveis as costas, ele não mais sente seu corpo.  Ele se dirige ao pátio e não vê sua gente.  Nenhuma culpa.

O Trigrama do Céu é bem sucedido - já desde a Quarta Linha -, em conseguir manter as costas imóveis - Mantendo imóveis as costas - e, por esta mesma razão, os pensamentos atuantes tanto no coração quanto na mente (assim como veremos mais adiante, na Imagem e nos Trigramas Nucleares e Hexagrama Nuclear e nas Linhas do Trigrama da Terra) já não mais encontram espaço e agem a exclusão do eu, do ego - ele não mais sente seu corpo, restando apenas a Alma e o Espírito, ou seja, o Sopro fusionado à Consciência possibilitando a chegada do estado da Fixação: momento real do princípio da verdadeira meditação, da Alquimia Espiritual, do longo Caminho para a Iluminação e, posteriormente, para a Imortalidade ou Liberação.

Quanto ao Trigrama da Terra, vemos que ainda acata (talvez com exceção da Primeira Linha) o antagonismo de movimentação entre os Trigramas Nucleares inseridos em Ken, a Montanha, A Quietude, que são Trovão, Chen, no Trigrama Superior e Água,,K’an,  no Trigrama Inferior: ambos possuem movimentos antagônicos, ou seja, o Trovão vem da Terra e vai em direção ao Céu em movimento retumbante e intenso, é o Incitar.  A Água vem do Céu e cai na Terra e busca por sua abissalidade, é o Abissal.

Talvez por esta razão, um Trigrama Nuclear dá suas costas para o outro - e ambos inseridos dentro de Ken, a Montanha Repetida, a Quietude, a Imobilidade, o mestre -, fazendo com o I Ching diga: Ele se dirige ao pátio e não vê sua gente. 

No entanto, o próprio I Ching compreende que estas situações de movimentações antagônicas fazem parte da naturalidade da própria Montanha, da Quietude, Ken, A Montanha Repetida, no sentido de que este Hexagrama acolhe em si mesmo os Trigramas Nucleares acima comentados bem como o Hexagrama Nuclear formado que é Hsieh, Liberação!  Ou seja, para que haja  o bom repouso, é preciso haver o bom avanço.  Para que haja a Quietude plena, é preciso haver a movimentação - e se a movimentação exerce uma ação antagônica entre si, melhor ainda, pois que é exatamente esta ação de movimentação intensa que trará a Liberação dos obstáculos que estariam impedindo a Quietude em sua plenitude!   Por isso, o I Ching completa, dizendo:  Nenhuma culpa.

Podemos, da mesma forma, levar em consideração o fato de que, no momento em que o Mestre alcança a plena Quietude em suas costas e seu eu desaparece..., ele realiza-se no Portal entre o Mundo da Manifestação e o Mundo da Não-Manifestação e por esta razão, Ele se dirige ao pátio e não vê sua gente.  Nenhuma culpa.


Estas questões todas estarão sendo mais e mais comentadas dentro dos Temas da Imagem, dos Trigramas Nucleares e Hexagrama Nuclear e das Seis Linhas.


Ken, a Montanha Repetida, nos revela a Quietude absoluta sendo exercida - dentro de suas maneiras próprias - tanto no Trigrama da Terra quanto no Trigrama do Céu.  No entanto, essa Quietude absoluta, como vimos, acolhe uma real movimentação absoluta!  Sendo assim, naquilo que podemos pensar enquanto um quase infinito tempo - o tempo de vida de uma Montanha, por exemplo -, acaba sempre tendo que passar por seus finais e por seus recomeços: assim acontece dentro das leis do universo, a eterna mutação fazendo com exista a Duração para tudo aquilo que pertence ao Mundo da Manifestação e a Constância para tudo aquilo que pertence ao Mundo da Não-Manifestação.  No primeiro caso, é a Criação; e no segundo caso, é o Tao da Criação.

Esses finais e recomeços podem também ser compreendidos através os posicionamentos de Ken, a Montanha, dentro dos Mapas do Céu Anterior e do Céu Posterior bem como os posicionamentos dos Trigramas Nucleares, Chen, o Trovão, e K’an, a Água em ambos estes Mapas.
Na Seqüência do Céu Posterior, Ken, a Montanha, ocupa o lugar do Nordeste, imediatamente anterior a Chen, o Trovão, no Leste dos novos começos, e imediatamente posterior a K’an, a Água, no Norte de todos os finais, de todas as conclusões.

Chen, o Trovão, é a primavera, a vida que re-surge.  K’an, a Água,  é o inverno, o sono profundo da alma.  Ken, a Montanha, é o tempo de depois do final e de antes do começo.  É o tempo do repouso, seja no sono de todos os dias da encarnação, seja no tempo em que a alma não esteja encarnada.  Ken, a Montanha, aponta para a passagem entre a Não-Luz e a Luz.  Entre a noite e o dia, entre o sono e a vigília, entre a não-vida encarnada e a vida encarnada.

Mapa do Mundo da Manifestação
O Céu Posterior


Se pensarmos em termos da Seqüência do Céu Anterior, estaremos encontrando Ken, a Montanha, realizando-se entre K’an, a Água, no lugar do Oeste, a retirada, e K'un, a Terra, no lugar do Norte, o repouso absoluto, a Não-Luz em sua plenitude, o lugar do Sublime Yin.  Chen, o Trovão, ocupa o lugar do Nordeste, após K'un, a Terra, na finalização do ciclo e ainda antes do começo do novo ciclo, realizado em Li, o Fogo.

Estaremos sempre encontrando Ken, a Montanha, o Mestre, a Quietude, em lugares agregados à Não-Luz, à retirada para o repouso pleno ou da expectativa entre o repouso pleno, a conclusão do ciclo e o novo começo, o novo ciclo.

No Céu Anterior, Ken, a Montanha, realiza-se ao final do ciclo de vigília - ou ao final do ciclo da vida - e ainda antes de adentrar a conclusão final trazendo o sono, trazendo a suspensão anímica, já distanciada da encarnação propriamente dita. 

No Céu Posterior, Ken, a Montanha, realiza-se logo após a conclusão definitiva do ciclo, que traz o sono profundo ou mesmo a suspensão anímica..., e imediatamente antes dos novos começos, do novo ciclo realizado por Chen, o Trovão.

Sendo assim, vemos que Ken, a Montanha, realiza-se sempre antes do final conclusivo e antes do novo começo. 


Mapa do Mundo da Não-Manifestação
O Céu Anterior




Em termos do Céu Anterior, é dentro da representação da Montanha, Ken, que se adentra o Vazio.

 Em termos do Céu Posterior, é após a entrada do Vazio que se retorna à uma nova vida, que se começa um novo Ciclo, com Ken, a Montanha, situando-se entre K’an, a Água, ao Norte, e Chen, o Trovão, ao Leste. 

(E é bom que levemos em consideração que, no Céu Posterior, Ken, a Montanha, está enredado por seus Trigramas Nucleares - K’an, a Água, no Norte, na Conclusão do Ciclo, e Chen, o Trovão, no Leste, no Começo de um novo Ciclo -  que o acompanham no Hexagrama de Ken, a Montanha Repetida). 

O Hexagrama Ken, a Montanha Repetida, representa o fim e o começo de tudo, tanto no Trigrama da Terra quanto no Trigrama do Céu - apenas que sempre o fim de um ciclo e o começo de um novo ciclo trazem novas questões a serem vivenciadas e estas mesmas questões sendo concluídas.  É uma eterna mutação ao longo de uma longa jornada.

Por tudo isso, podemos compreender o fato de que a atitude de Ken, a Montanha - e, fundamentalmente em termos de Ken, a Montanha Repetida, Hexagrama ora comentado -, em sua Quietude plena uma vez alcançada, pode fazer com que o Mestre exerça sua vida de vigília e de sono, de ação de avanço ou de repouso, de trabalho e de meditação, dentro dos mesmos parâmetros de Quietude, dentro das mesmas premissas de serenidade e de interiorização alcançadas ao longo da prática espiritual, ao longo do processo de Alquimia Espiritual.

Não podemos nos esquecer que sempre Ken, a Montanha, pode ser imajado pelo Mestre, aquele que realiza-se entre a Terra e o Céu, aquele que amplia sua consciência a ponto de se posicionar enquanto homem buscando seu lugar enquanto Homem Superior, Homem Sagrado.




A Imagem


Montanhas próximas umas das outras: a imagem da Quietude.  Assim, o homem superior não deixa seus pensamentos irem além da situação em que se encontra.


Dentro dos conceitos do Taoísmo, entende-se que os pensamentos podem advir tanto da mente intelectual quanto do próprio coração - sendo que este último tende a manifestar mais intensamente seus sentimentos, seus desejos, suas emoções enquanto a mente intelectual pode tender a se manifestar de forma mais racional, digamos assim.

De qualquer forma, tanto mente quanto coração deverão encontrar a Quietude e para tanto, é preciso que sejam contidas dentro do momento do aqui-e-agora, simplesmente, não indo além da situação em que se encontram no momento.  Esses são conceitos que podem ser realizados através a Não-Ação e a Não-Palavra.  Esses são conceitos fundamentais a serem compreendidos -e bem vivenciados - pelo homem em seu caminho a tornar-se homem superior, Homem Sagrado.

Penso também que as questões voltadas para coração e mente se expressando podem ser inter-relacionados aos dois Trigramas Nucleares, Superior, em Chen, o Trovão, a expansão do som, e Inferior, em K’an, a Água, o coração que se manifesta.  Novamente estaremos percebendo a realização de antagonismo de movimentação entre ambos os Trigramas Nucleares inseridos na Quietude da Montanha: Chen, o Trovão, possui um intenso movimento ascendente, é o Incitar, e encontra-se fusionando o Trigrama da Terra - com sua Linha Yang do cume da Montanha estruturando o Trovão -, e o Trigrama do Céu, incluindo, em suas duas Linhas Yin, as Linhas do Ministro e do Rei.  E K’an, a Água, que possui um movimento inteiramente descendente, é o Abissal, é o Perigo,  fusionando as Linhas do Ministro, no Trigrama do Céu, com as Linhas Segunda e Terceira do Trigrama da Terra, Linhas que - assim como veremos mais adiante -, apresentam esse antagonismo de movimentação e apresentam o coração e a mente atuando ainda de forma bem pouco harmoniosa.  A harmoniosa forma de atuação entre coração e mente, entre ação e não-ação, entre palavra e não-palavra, estará acontecendo através a Linha Primeira - que ainda é primordial e intuitiva e tem como prever erros e acertos em sua longa jornada - e as Linhas Quinta e Sexta, fundamentalmente esta última (mesmo que também a Quarta Linha já esteja voltada para esta forma de atuação).

Sendo assim, a não-ação e a não-palavra estarão sendo atuadas de forma harmoniosa e amadurecida mais no Trigrama do Céu do que no Trigrama da Terra.  O Trigrama da Terra apresenta o desafio enquanto o Trigrama do Céu apresenta a forma correta de o Mestre enfrentar os obstáculos que vai encontrando em seu Caminho, em Ken, a Montanha Repetida, a Quietude, a Imobilidade.

Por tudo isso, vemos que já no Julgamento, o I Ching nos recomenda a imobilidade no momento em que esta é proveitosa e o avanço no momento em que este é determinado a acontecer.


Wu Jyh Cherng, em sua interpretação sobre o Capítulo 2, do Tao Te Ching, de Lao Tse, nos fala sobre a não-ação e a não-palavra:

A existência e a inexistência geram-se uma pela outra
O difícil e o fácil completam-se um ao outro
O longo e o curto estabelecem-se um pelo outro
O alto e o  baixo inclinam-se um pelo outro
O som e a tonalidade são juntos um com o outro
O antes e o depois seguem-se um ao outro
Portanto,
O Homem Sagrado realiza a obra pela não-ação
E pratica o ensinamento através da não-palavra


“Não-ação e não-palavra são dois conceitos específicos do Taoísmo.

Não-ação é o famoso conceito do Wu Wei e a não-palavra é Wu Yen.

Na verdade, temos que entender não-palavra como palavra-não-intencional, a que não tem intenção, pronunciada sem intenção e não pronunciada com intenção.

Wu Wei é a ação-não-intencional.  Fazer as coisas simplesmente, e não fazer as coisas através de uma intenção.  No entanto, não devemos confundir a não-ação com não-fazer-nada.  Constantemente, os mestres taoístas nos alertam sobre isso, sobre esse conceito que poder ser bastante distorcido.

Wu Wei significa fazer as coisas naturalmente, fazer o que tiver que ser feito, não deixar de agir, não acrescentar desnecessários afazeres e não fugir do que deve ser feito.   Não reduzir nem acrescentar, simplesmente fazer o que é natural.

Tudo na natureza é natural.  O sol é natural, a lua é natural, o mundo é natural, a árvore, calor, frio.  O sol nasce sempre dentro de seus ciclos cósmicos bem como a lua.  Por que então o ser humano teria que fazer alguma coisa que não esteja de acordo com a natureza?  A natureza age naturalmente, ela tem sua própria e natural ordem.


Por isso, Lao Tse, em outro Capítulo, diz:

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
E o Caminho se orienta por sua própria natureza


Assim, o homem deveria recuperar a sua naturalidade integrando-a com tudo o que está na terra.  E  fazendo parte de tudo o que está na terra, ele se integra com tudo o que está no céu, ou seja, no cosmos.

Como tudo no cosmos é o fruto do Tao, é a parte manifestada do Tao, então o homem deve se integrar com a parte invisível que esse todo abrange.

A partir desse momento, tudo se torna o Tao e, dentro dessa grande condição, todas as coisas acontecem dentro de uma naturalidade e se cria uma ordem que não é uma norma e sim a ordem natural das coisas.

O Taoísmo enfatiza a ordem natural das coisas.  Valorizar a ordem natural das coisas é deixar as coisas fluírem.  Deixar as coisas fluírem significa viver cada coisa e cada instante de nossa vida, de nosso destino, de forma natural.

Não fugindo das coisas - o que seria uma má interpretação; não vivendo a vida modificando-a intencionalmente - o que seria contrariar a naturalidade.

Esse é o simbolismo do caminho das águas: ela nasce no alto da montanha, vai descendo a serra, sempre correndo pelos caminhos mais apropriados, simplesmente correndo, e fluindo até encontrar o oceano.  No oceano, ela evapora e sobe ao céu onde se transforma em nuvem.  Então chove, a chuva entra na terra, forma a fonte e assim vai, infinitamente transformando..

O grande ensinamento do I Ching nos fala da infinita transformação das coisas.  Todas as coisas estão constantemente em transformação.  A nossa impressão fotográfica não existe.  A imagem não pode ser mantida estática.

O apego às coisas faz o homem morrer e essa morte acontece a cada instante.  Todas as vezes que nos apegamos a alguma coisa, estamos morrendo um pouco.  Os apegos traumatizam nossa consciência e prejudicam nosso corpo.  Dessa maneira, o homem morre a cada instante, morre em sua consciência, morre em seu corpo.

A partir do momento em que o ser humano consegue viver a infinitude da transformação, ele não se apega mais à forma.  Se pensarmos que o universo em um princípio e terá um fim, estaremos nos condicionando dentro de um universo ilusório.

O universo é como uma grande corrente - um elo encadeando no outro - e portanto, é o próprio infinito.  O infinito é a própria vida.  A partir do momento em que nos tornamos a infinita transformação, não teremos a morte.  Teremos, sim, a Plenitude da Consciência e a Plenitude da Vida.

E quando a Vida e a Consciência infinitas forem um único ponto, um único elemento, o homem passa a ser chamado de Imortal.”





Trigramas e Hexagrama Nucleares


Os Trigramas Nucleares possuem movimentos diferentes entre si:  em Chen, o Trovão, vemos que existe o movimento ascendente e intenso enquanto que em K’an, a Água, existe o movimento descendente e abissal.  Chen, o Trovão, é o Trigrama Nuclear Superior e K’an, a Água, é o Trigrama Nuclear Inferior.





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A Quietude                   Trovão                Água                         Liberação


O Trigrama Nuclear K’an, a Água, em seu movimento descendente acentua imensamente o movimento também descendente de Ken, a Montanha, no Trigrama da Terra e no Trigrama do Céu.  No entanto, o que mais chama atenção neste Trigrama Nuclear é o fato de que a Água, K’an, acaba trazendo a qualidade do Perigo - questão que estará abalando de forma mais intensa, as Linhas Segunda e Terceira.  E veremos também que o fato de K’an, a Água, falar sobre o Coração, estará fazendo parte da Segunda Linha e da Terceira Linha, em sua motivação de manifestação do pensamento que surge diretamente deste órgão: o I Ching nos diz que o coração pensa.

Por outro lado, o Trigrama Nuclear Chen, o Trovão, em seu movimento ascendente, faz com que a Linha de ápice da Montanha -  fundamentalmente em termos da Terceira Linha, na divisa entre os Trigramas da Terra e do Céu - aconteça de forma a querer exercer de forma bem direta e incisa - por ser uma Linha Yang e idealmente correta - a questão da movimentação ascendente.  Entretanto, como esta Linha é também atuante enquanto K’an, a Água, o Perigo, o Coração, é certo que existe um embate entre os movimentos ascendente e descendente e toda essa movimentação traz perigos para a Quietude que se busca em Ken, a Montanha Repetida.  Por tudo isso, se diz, na Terceira Linha, que o ‘coração sufoca’.

Mais adiante, ao comentarmos sobre os Trigramas da Terra e do Céu através suas Linhas, veremos que a dicotomia de movimentações ascendente de Chen, o Trovão, e descendente de K’an, a Água, interferem de forma mais intensa a Imobilidade, a Quietude almejadas pelo Mestre ainda dentro do Trigrama da Terra, de forma ainda interiorizada, ainda nos primórdios de sua prática da meditação.  Quando no Trigrama do Céu, esta dicotomia de movimentações já não se instaura de forma tão intensa, bem ao contrário, porque poderemos observar o fato de que a movimentação ascendente de Chen, o Trovão, leva as Três Linhas do Trigrama do Céu - Linhas Quatro, Cinco e Seis - a encontrarem-se exatamente com aquilo que estavam procurando, ou seja, a Imobilidade plena, a Quietude plena!  O Mestre do Trigrama do Céu é bem-sucedido em sua realização de Imobilidade, de Quietude.

Podemos, então, perceber, que a dicotomia de movimentações ascendente e descendente faz com que possa existir um tom de desafio, digamos assim, à Imobilidade, à Quietude existentes em Ken, a Montanha, o Mestre ainda em suas manifestações iniciais de ação, no Trigrama da Terra, Trigrama Interior.  Ao superar as vicissitudes constantes da dicotomia de movimentações, o Mestre consegue, então, realizar-se plenamente em sua Imobilidade, em sua Quietude, no Trigrama do Céu, Trigrama Exterior. 


Chen, o Trovão, Trigrama Nuclear Superior, e K’an, a Água, Trigrama Nuclear Inferior, formam o Hexagrama Hsieh, Liberação - o Hexagrama Nuclear inserido em Ken, a Montanha Repetida, a Quietude, a Imobilidade, o Mestre:


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Liberação


Em Hsieh, Liberação, Chen, o Trovão, é o Desabrochar da natureza e isto acontece a partir da bendita Água doadora de Vida trazida por K’an, a Água.  No mapa do Céu Posterior, do Mundo da Manifestação, Chen se posiciona no Leste, é o Trovão que traz o Inesperado do retorno da vida, na Primavera, vida esta que esteve em dormência enquanto restava em K’an, no Norte, no Inverno.  A verdade é que sempre a Água, K’an, estará posicionado no Norte, guardando a preciosa água que nutre a vida a desabrochar.

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 8 do Tao Te Ching:

A bondade sublime é como a água
A água, em sua bondade, beneficia os dez mil seres sem preferência.
Permanece nos lugares desprezados pelos outros
Por isso, se assemelha ao Caminho


A Liberação, Hsieh, é o momento do final e do recomeço.  É o final  do sono do inverno da semente dentro do útero da Terra - no Mundo da Manifestação.  No Céu Anterior, encontraremos K’an, a Água, no Outono, a Retirada, enquanto Chen, o Trovão, se posiciona no lugar que antecede a Primavera: o final sempre traz suas conclusões e também suas gestações dos novos começos.


Lao Tse nos diz em seu Capítulo 28 do Tao Te Ching:


Conhecendo o masculino, resguardando o feminino,
Sendo a ravina sob o céu
Sem se afastar da Virtude Eterna,
Retornará a ser criança.
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Conhecendo a glória, resguardando a humildade
Sendo o vale sob o céu, completará a Virtude Eterna
E retornará a ser a madeira bruta.


Em Hsieh, Liberação, Trovão sobre Montanha, encontraremos dois movimentos em antítese:  o Trovão, no Trigrama do Céu, tem movimento ascendente e este movimento acaba sendo confirmado pelo próprio sentido intrínseco do Trigrama do Céu; a Montanha, no Trigrama da Terra, tem movimento descendente e este movimento acaba sendo confirmado pelo próprio sentido intrínseco do Trigrama da Terra.  No entanto, sabemos que as Linhas são sempre desejosas de suas ascensões ao longo do Hexagrama, e neste caso, encontraremos a Água e o Trovão buscando um fusionamento entre ambos de forma que a Liberação, Hsieh, possa acontecer e também pelo fato de que o movimento de Chen, o Trovão, faz com que o Perigo de K’an, a Água, possa vir a ser evitado: isso é Liberação.

Em todos os sentidos da natureza e dos seres, o tempo da Liberação é deveras importante!

As Linhas apresentam as várias fases da Liberação - em Linhas Yin não muito positivas nesta intenção e em Linhas Yang mais positivas nesta intenção - e são atuadas enquanto Governantes em termos do Homem da Terra - a Linha Yang na Segunda posição, idealmente incorreta porém com força propulsora intensa de K’an, a Água,  para buscar pela Liberação - e em termos do Homem do Céu - a Linha Yin na Quinta posição, idealmente incorreta porém acolhedora da ação propulsora ascensional trazida pelo Trigrama do Céu, em Chen, o Trovão, também em busca da Liberação.


Outra questão importante a ser comentada a respeito da inter-relação entre os Trigramas Nucleares - Trovão e Água - e a formação do Hexagrama Nuclear - Liberação -, com a Quietude buscada e alcançada em A Montanha Repetida, a Imobilidade, o Mestre:  A Meditação a partir do momento em que se encontra a fusão entre Consciência e Sopro, entre Fogo e Água, entre Espírito e Alma - A Fixação. 

Esta fusão entre Consciência e Sopro - entre Fogo e Água - aparece claramente através o Hexagrama Nuclear inserido em Liberação! 

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                                               Fogo
Hsieh, Liberação                                              Chi Chi, Após a Conclusão


Os Trigramas Nucleares inseridos em Hsieh, Liberação,  são K’an, a Água, o Abismal, o Perigo, a Sabedoria, e Li, o Fogo, o Aderir, a Lucidez.  Veremos, então, que a Linha superior de K’an, a Água, é a Linha Governante do Trigrama do Céu, em Chen, o Trovão - daí, a Liberação novamente sendo atuada; e que a Linha inferior de Li, o Fogo, é também a Linha Governante do Trigrama da Terra, em K’an, a Água, o Perigo.  Existe, portanto, movimentação intensa para a Liberação diante do Perigo e existe Lucidez para a ascensão diante do Perigo.

Em termos mais espirituais, veremos que K’an, a Água, é a Alma, e que Li, o Fogo, é o Espírito - sendo ambos herdeiros diretos de K'un, a Terra, e de Ch'ien, o Céu.  Portanto, existe a intenção de a Alma buscar por sua Liberação, em seu Espírito, e isso acontecendo através a Lucidez necessária para alcançar a Sabedoria e a movimentação ascensional nos Caminhos da Iluminação e da Liberação ou Imortalidade.

Fogo é Consciência, é Espírito.  Alma é Água, é Sopro (inspiração e expiração, o fole universal).  A fusão entre Consciência e Sopro traz a Fixação, o início real do processo da Alquimia Espiritual através a Meditação.

Essas questões são confirmadas através o Hexagrama Nuclear Chi Chi, Após a Conclusão, o Hexagrama que traz a composição ideal das Seis Linhas, o Hexagrama da completude dos processos da Alma e do Espírito, de forma que um novo começo possa vir a ser realizado, na Roda da Vida.  Esta é a verdadeira Liberação.

E o mais interessante a ser observado, sempre quando Chi Chi, Após a Conclusão, ou quando Wei Chi, Antes da Conclusão, surgem enquanto Hexagrama Original ou enquanto Hexagrama Desdobrado ou enquanto Hexagrama Nuclear, é o fato de sempre existe um eterno entrelaçamento entre Chi Chi e Wei Chi - Após a Conclusão e Antes da Conclusão -, no sentido de que sempre um age enquanto o Hexagrama Nuclear do outro, ou seja, ambos interagem infinitamente, entre Fogo e Água nos Trigramas da Terra e do Céu, Interior e Exterior, entre Espírito e Alma, entre Consciência e Sopro - cada vez mais intensificando o processo da Fixação de forma que todo o processo da Alquimia Espiritual possa acontecer! 

Ou seja, uma vez atingida a Fixação, as várias etapas da real Meditação vão se sucedendo, em continuidade, um ciclo sucedendo o outro - assim como podemos ver através o Hexagrama Nuclear inserido em Liberação: Água e Fogo trazendo para si mesmo o entrelaçamento realizado através Após a Conclusão e Antes da Conclusão.  São entrelaçamentos de Hexagramas Nucleares contidos um dentro do outro e acolhendo os vários ciclos a serem realizados dentro dos Caminhos da Iluminação  e da Imortalidade ou Liberação!  Esses entrelaçamentos são como quase um espelho diante do outro, formando a infinitude das imagens entrelaçadas.

Quando todas as Linhas de Ken, a Montanha, a Quietude, a Imobilidade, são realizadas pelo Mestre, encontra-se a Quietude Magnânima que permite a Fixação acontecer e posicionar o Mestre em seu Caminho.


Wu Jyh Cherng nos diz, em sua interpretação do Capítulo 27 do Tao Te Ching, de Lao Tse:

“Uma boa Fixação na meditação faz com que a respiração pare e a consciência entre em estado Zero.

Nessa hora, ninguém pode interferir em tirar você, alterar você.  A Consciência está em absoluta quietude.  Esse é o estado como se fosse uma porta fechada que ninguém pode abrir, a não ser você.”


Quando é chegado o momento de Ken, a Montanha, o Mestre, ir acolhendo os Oito Trigramas, a Família do Céu e da Terra, a Quietude coloca-se no Trigrama da Terra Primordial, é o Mestre sentado em seu Silêncio, em sua Quietude.  Quando o Mestre encontra-se com K'un, a Terra, o Abranger, o Devocional, o Reino, o Vazio, instaura-se a realidade da Modéstia, da Humildade.  Com esta qualidade ditando suas ações, o homem superior acolhe a si mesmo, ou seja, Ken, a Montanha acolhe à si mesma, instaurando a Quietude em sua plenitude, tanto no Trigrama da Terra e interiorizado quanto no Trigrama do Céu e exteriorizado. 

Quando o homem superior busca sentar-se em seu silêncio, existe um momento dessa prática espiritual da Meditação quando se alcança o que se chama de Fixação.  A Fixação é o momento da fusão plena entre o Sopro e a Consciência e então, nada mais existe além do Vazio que se instala na mente.  Este é o verdadeiro começo da real prática de meditação.  Após algum bom tempo de prática e sempre dentro da Fixação, adentra o estágio chamado de As Rodas de Moinho, que são energias intensíssimas e circulares que inundam o corpo por inteiro, em redemoinhos purificadores bem como chacoalhadores, estremecentes!  É preciso que o homem superior não se deixe sair do seu estado de Fixação e acolha este estágio como algo realmente importante em seu processo de Meditação.  As Rodas de Moinho vão limpando todos os corpos, de forma a Liberar, a exercer a Liberação plena do ser que se encontra em seu Caminho de Iluminação e de Liberação, de Imortalidade, seu Caminho de Luz.


Wu Jyh Cherng, em sua interpretação do Capítulo 27 do Tao Te Ching, de Lao Tse, nos fala sobre a importância da Fixação - a fusão entre Consciência e Sopro - que permite acontecerem as Rodas do Moinho e a continuidade dos processos espirituais que perfazem o Caminho do Homem Sagrado em sua longa jornada em busca da Consciência e da Vida Infinitas e Iluminadas:


Capítulo 27

A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas
A boa palavra não deixa imperfeição para críticas
O bom cálculo não utiliza medida nem número
A boa porta não necessita de ferrolho para ser fechada
E não pode ser aberta
O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado

Assim, o Homem Sagrado
É constante e bondoso
Salva homens e não abandona homens
É constante e bondoso
Salva coisas e não abandona coisas
Isso se chama herdar a luz

O homem bom é mestre daquele que não é bom
O homem que não é bom é o recurso daquele que é bom
Quem não valoriza seu mestre e quem não ama seu recurso
Mesmo inteligente, permanece enormemente desorientado

A tudo isso denomina-se Maravilha e Essência

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“Na Alquimia Superior, existe a Roda de Moinho.  É uma circulação de energias.  Apenas que são 36 mil canais de energia do corpo que são despertados de uma só vez.  E a Consciência não consegue detectar de onde começa esse despertar de energia e não sabe onde termina.  O corpo fica como tomado de milhares de ‘ventiladores’ e todos os 36 mil meridianos são despertados de uma só vez.  Parece que a pessoa está dentro de uma enorme tempestade.  É preciso, então, deixar a Consciência quieta e deixar todo o corpo vibrar com a energia.  Esse não é um processo linear.

Quando a explosão acontece, a pessoa sai do estado de Fixação e sente que não tem mais corpo.  É preciso manter a Consciência em Fixação, deixando a tempestade acontecer, sem se ligar nela, sem nenhuma emoção, nada, apenas buscando manter a Fixação.  Por fim, a tempestade acalma, passa.

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O efeito da Roda de Moinho ainda é a primeira etapa da Alquimia Superior.

Dentro da Alquimia Superior, existem três Rodas de Moinho:

.  Roda de Moinho do Sopro - que é a energia do Céu Anterior que entra dentro da pessoa como se fosse uma estrondosa tempestade.

.  Roda de Moinho do Fogo Líquido

.  Roda de Moinho Púrpura

Em todas essas Rodas de Moinho, quando acontecem, não se sabe por onde começam e por onde terminam.  E é impossível descrevê-las.  Mas existe uma diferença de qualidade entre elas.

Cada Roda de moinho representa um nível de realização alquímica atingida:

.  Na primeira Roda, alcança-se a primeira realização da Alquimia, que se chama Abertura do Sopro.

.  Na segunda Roda, alcança-se a Abertura do Espírito.

.  Na terceira Roda, alcança-se a Abertura do Espírito Universal.


Na Primeira Roda, toda a energia vital se abre, o corpo se torna um canal aberto que faz com que as energias dentro e fóra do corpo se tornem uma só, a mesma.  A energia do Céu Posterior e a energia do Céu Anterior do universo se tornam uma.

Na Segunda Roda, a Abertura do Espírito faz com que a consciência individual se conecte com a consciência coletiva.  O espírito está aberto para toda a consciência interior que forma uma única Consciência.  Nessa hora, não existem diferença individual ou exterior.  É a unificação da consciência interior.

Cada um de nós tem vários espíritos dentro de nós.  Inúmeras consciências.  Nesse momento, temos uma consciência, e em outro momento, temos outra consciência predominante.  E cada parte do nosso corpo tem um espírito: as articulações, a carne, os ossos, o sangue, os diversos tipos de emoção, diversos tipos de pensamento, cada célula tem uma consciência, cada território físico tem uma consciência.

Com a Abertura do Espírito, passamos a ter um único espírito, ou seja, todas as consciências são reunidas numa só.  A partir desse  momento, não temos mais consciente, inconsciente ou sub-consciente.  Menos ainda sofreremos de neuroses ou esquizofrenias.  Teremos apenas uma única Consciência. E isso acontece depois da Segunda Roda de Moinho - que é um fenômeno bastante forte.

Na Terceira Roda, a Roda de Moinho Púrpura, a consciência e todas as consciências são uma só.  A Consciência e todas as Consciências são uma só.  Nossa consciência estará na mente e no pensamento de todos os seres.  Não existe o eu e o outro.  Somos um só - todos estarão dentro de nós.  Chegou-se, então, o Homem Universal.

São essas as Três Rodas de Moinho, sem início, sem fim.

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E o Tao Te Ching todo o tempo fala na transcendência da forma, da linguagem.

Ele fala do Grande Caminho que não tem nome, não tem forma, não tem sentimento.

É o Absoluto que abrange a Onipotência, é a Consciência Pura unida ao Sopro Puro.

Num Caminho de auto-realização - que é a Alquimia -, a grande transmutação tem que estar construída em cima desse conceito.  Se estiver de acordo com esse conceito, é chamada de Alquimia Superior.  Se não, é chamado de Alquimia Inferior ou Mediana.  Sempre se transmuta  - porque é uma Alquimia.  Mas não é a Alquimia Superior.  Ou seja, não é o Grande Caminho.

O Grande Caminho abre para as três Rodas e as três Aberturas - nos faz nos unir com todas as energias, possui uma única Consciência, que é Una com todas as Consciências e torna o homem onipotente.

Essa é a Sagração do Homem.

Para o homem alcançar o estado de Onipotência, ele precisa, em primeiro lugar, ter o zero, esse Vazio interior.  A meditação.  A meditação.


Para que isto aconteça, são precisos três instrumentos místicos que constituem a base da doutrina taoísta, que são:

A doação    -   a devoção    -  a transmutação

Devoção aos superiores.  Transmutação de si próprio.  Doação aos companheiros e aos inferiores, a ajuda, o respeito ao superior.

Trabalha-se sua própria transmutação, mudando a mente, a emoção, o corpo.

E assim, vem o Grande Caminho.

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E as Rodas de Moinho acontecem em três etapas e tudo isso abrirá os três níveis de realização espiritual:

O Sopro
O Espírito
E o Espírito Coletivo.

E, ao final de cada etapa, consegue-se o resultado chamado A Pérola da Imortalidade ou Elixir da Imortalidade.

O primeiro Elixir chama-se Elixir do Sopro.
O segundo Elixir chama-se Elixir do Espírito
O terceiro Elixir chama-se Elixir do Espírito Coletivo

Essas etapas levam anos e começam a partir da Iniciação.


Esse Elixir é o que Lao Tse diz na última frase do primeiro verso:

O bom nó não necessita de corda para ser atado
E não pode ser desatado


O Elixir é coagulado.  A Coagulação do Elixir é fazer o nó, é concentrar uma força energética e espiritual e espiritual coletiva como resultado dessa prática.  Apenas que esse nó não é feito de nenhuma matéria do Céu Posterior - portanto, não é uma corda.

Numa escala mais inferior, explica-se que a Verdadeira Alquimia não é feita de nenhuma matéria além do próprio Espírito e o Sopro do Céu Anterior.  É uma Consciência anterior à criação do universo, uma energia.

A aquisição dessa matéria-prima é o que faz o verdadeiro Elixir.  Por isso, não se chega ao Elixir forjando-se minerais ou metais nobres ou ervas ou luzes ou cálculos astrológicos, veia do dragão, etc.  Todos estão fóra da realidade porque são impermanentes, são linguagem, são matéria - sutil ou densa.  Tudo isso são portas.

Somente algo que esteja completamente fora da linguagem é que realmente pode ser a verdadeira, a autêntica matéria-prima para a construção da imortalidade: a Vida e a Consciência Infinitas.

Essas são as últimas palavras da Alquimia.


O universo do misticismo é muito complexo.  No Grande Caminho da Sublime Alquimia quase tudo é ilusório - porque tudo fica dentro da limitação do Céu Posterior. Somente ao rompermos a barreira do Céu Posterior e conseguirmos chegar ao Céu Anterior, conseguiremos alcançar a Vida Infinita e a Consciência Pura.

Não havendo a união dessas duas, não encontraremos a Grande Iluminação e a Grande Imortalidade.  Não encontrando a Imortalidade, com a Vida e a Consciência Infinitas, não estaremos livres da transmigração, dos 3 caminhos, das 3 fronteiras, dos 3 mundos.

Ainda seremos aqueles que transmigram mesmo se formos para o Reino Celestial, numa condição melhor do que a nossa.  E não rompemos essa grande casca de ovo que se chama Universo.  Não alcançaremos a absoluta libertação.

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O Homem Sagrado transcende e ao mesmo tempo, abraça todas as coisas.  Ele se torna um Zero, como o Vazio que abraça todas as coisas.  Por isso, Ele ama os homens, salva os homens e não abandona os homens.  Ele salva todas as coisas e não as abandona.

Assim, no último estágio, o mais alto nível da realização da Alquimia, os grandes mestres da transmutação não abandonam o corpo físico.  Eles transmutam a matéria-prima e ascensionam com o corpo inteiro, em forma de nuvens.

Os mestres de níveis mais baixos, que criam o Corpo Solar, ainda deixam o corpo físico na Terra.  Eles ascensionam apenas com o Corpo Solar e isso ainda não é a perfeição.

Os mestres de níveis ainda mais inferiores que não  conseguiram ainda formar o Corpo Solar, vão entrar na lei da transmigração e no máximo, conseguem ir para o Reino Celestial e mesmo assim, não conseguem o Corpo Solar.

Isso se chamaherdar a luz’.

No corpo dos grandes mestres, é essa a herança da luz que está em toda parte.”





As Linhas


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Em Ken, a Montanha Repetida, a Quietude do Mestre sentado em seu Silêncio, a Meditação, a Imobilidade, veremos que as Linhas vão apresentando os degraus do Grande Caminho a ser realizado dentro da Alquimia Espiritual. 

Podemos pensar que as Linhas referentes ao Trigrama da Terra se colocam enquanto o Discípulo atuando seu Discipulado e reverenciado seu Mestre, a quem segue.  E que as Linhas referentes ao Trigrama do Céu se colocam enquanto o próprio Mestre tendo alcançado o sucesso em seu tempo de Discipulado e atuando enquanto exemplo vivo para seus Discípulos, que o seguem e reverenciam.

Portanto, como tudo começa a partir do ato da Meditação em si, cada Linha irá descrever a Imobilidade que deve ser alcançada através todo o corpo físico do Mestre, desde seus dedos dos pés - representados pela Primeira Linha - passando pelas pernas, pelo quadril, pelo tronco, pelas mandíbulas... até que finalmente, no clímax da Quietude alcançado pela Sexta Linha, encontra-se a Quietude magnânima!

Quando todas as Linhas de Ken, a Montanha, a Quietude, a Imobilidade, são realizadas pelo Mestre, encontra-se a Quietude Magnânima que permite a Fixação acontecer e posicionar o Mestre em seu Caminho.

Uma vez atingida a Fixação, as várias etapas da real Meditação vão se sucedendo, em continuidade, um ciclo sucedendo o outro - assim como podemos ver através o Hexagrama Nuclear inserido em Liberação: Água e Fogo trazendo para si mesmo o entrelaçamento realizado através Após a Conclusão e Antes da Conclusão.  São entrelaçamentos de Hexagramas Nucleares contidos um dentro do outro e acolhendo os vários ciclos a serem realizados dentro dos Caminhos da Iluminação  e da Imortalidade ou Liberação!  Esses entrelaçamentos são como quase um espelho diante do outro, formando a infinitude das imagens entrelaçadas; ambos interagem infinitamente, entre Fogo e Água nos Trigramas da Terra e do Céu, Interior e Exterior, entre Espírito e Alma, entre Consciência e Sopro - cada vez mais intensificando o processo da Fixação de forma que todo o processo da Alquimia Espiritual possa acontecer! 

Portanto, através o Hexagrama Ken, a Montanha Repetida, estaremos encontrando todos os caminhos que levam ao Grande Caminho, ao Tao da Criação, ao Tao.


Penso que também em Ken, a Montanha Repetida e ao longo de suas Seis Linhas, estaremos encontrando a verdade primordial sobre o Wei Wu Wei, a ação-dentro-da-não-ação, ou seja, a realização da movimentação quando esta se faz necessária e a realização da quietude sempre quando possível.  Tudo isso é vivenciado dentro de imensa naturalidade:  saber acionar a movimentação e saber acionar a quietude em seus momentos devidos é a grande sabedoria que nos é revelada através o Hexagrama Ken, a Montanha Repetida, a Quietude, a Imobilidade, o Mestre.

A Primeira Linha é o sopé da Montanha, é apenas o início de uma imensa Montanha, é apenas o início de uma longa caminhada do Mestre ao formar-se e conscientizar-se enquanto homem e Homem, no Trigrama da Terra, e ao formar-se Homem Sagrado, no Trigrama do Céu.

Uma longa jornada
Começa debaixo dos pés

Lao Tse, Capítulo 64

Existe na Primeira Linha a visão do longo processo a ser realizado, entre a imobilidade, a parada, e a movimentação, o recomeço da ação propriamente dita.  Por tudo isso, é preciso que a Primeira Linha vivencie sua primordialidade de ação em seu começo original, ou seja, intuitivamente buscando pelo caminho correto e já tendo em mente a necessidade de ir contornando, perseverantemente, os obstáculos que a impeçam de seguir adiante em sua Quietude.

A Segunda Linha é Yin e acata o caminho do meio e o tom de deter-se, de ficar em paz e em tranqüilidade, em A Quietude, mas sente o coração triste por não poder se movimentar - porque é a base de K’an, a Água, o Abissal, que tem movimento descendente mas também já antevê o movimento intenso e ascendente de Chen, o Trovão, e esses são os Trigramas Nucleares que trazem a intensíssima ambigüidade e enorme dicotomia existentes em Ken, a Quietude!

A Terceira Linha é Yang e quer porque quer saltar do Trigrama da Terra para fazer parte do Trigrama do Céu.  Mas já vimos que existe uma incompreensão de atitudes entre os Trigramas Superior e Inferior, não é verdade, porque eles se dão as costas e caminham no pátio e não se encontram.  No caso da Terceira Linha, o coração sufoca porque K’an, a Água, é Coração também e esta Terceira Linha está literalmente ao centro desse Coração, desse Trigrama Nuclear Inferior (e a Água tem movimento descendente e abissal) e, ao mesmo tempo, já estrutura a base do Trigrama Nuclear Superior, em Chen, o Trovão, com seu movimento intensamente exteriorizado, para fora, ascendente, é o Incitar, é a ação, é o retorno da luz, da lucidez!

A Terceira Linha, no entanto, fica todo o tempo querendo fazer sentido - porque sente seu coração sufocar por não ficar parada - é Yang e na fronteira entre os Trigramas da Terra e do Céu - mas ao mesmo tempo se vê amarrada entre a abissalidade da Água e o incitar intenso do Trovão, ou seja, ou se volta para a plena interiorização ou se volta para a plena exteriorização, ou se volta para o movimento descendente e interiorizado ou se volta para o movimento ascendente e exteriorizado.

Apenas que, o I Ching nos diz que o sujeito caminha no pátio e não vê sua gente...  talvez seja por causa desta Terceira Linha que não exatamente consegue  galgar o Trigrama do Céu - e seu coração sufoca!

E mais: não podemos nos esquecer a importância dos Trigramas Nucleares em Ken, a Montanha - em suas ambigüidades e dicotomias de ação e de movimentação!... porque a Água quer aprofundar-se na Sabedoria, abissalmente aprofundada, enquanto o Trovão quer é expandir-se no mundo, sem medo de ser feliz!  E também existe o fato de que  esses Trigramas formam o Hexagrama Nuclear - pano de fundo de Ken, a Quietude -, que fala de Liberação! 

A Quarta Linha realiza-se enquanto base da construção da Quietude exigida e alcançada no Trigrama do Céu, em Ken, a Montanha, e passa a acontecer através a imobilidade do tronco, ou seja, segundo o que o I Ching já indicou em suas palavras para o Julgamento, o repouso do tronco significa o esquecimento do eu: a partir desse momento instaura-se a meditação propriamente dita, instaura-se o real processo de Alquimia Espiritual.

A maturidade e a consciência mais iluminada exigidas para a Quinta Linha de Ken, a Montanha Repetida, são advindas do fato de que o Perigo já foi inteiramente afastado - pois que o Trigrama Nuclear Inferior, K’an, a Água, o Abismal, já encontra-se finalizado e distante - e o Incitar intenso e dos sons das palavras do Mundo da Manifestação acionados  pelo Trigrama Nuclear Superior, Chen, o Trovão, estejam em seu momento de real finalização.  Tudo isso estará proporcionando, então, a Quietude magnânima que estaremos encontrando na Linha seguinte, a Linha do Sábio, a Linha verdadeiramente governante do Hexagrama Ken, a Montanha Repetida.

A Sexta Linha é aquele Discípulo que encontramos na Primeira Linha e que veio ascendendo, Linha a Linha, degrau por degrau, disciplinadamente e perseverantemente, humildemente, em seu longo Caminho entre a Terra e o Céu.  E sabemos que é o Mestre aquele que se realiza na interação entre Terra e Céu, é o Homem Sagrado que possui em si mesmo a fusão da Consciência Pura com a Vida Infinita:  Consciência Pura adquirida em seu Caminho da Iluminação e Vida Infinita adquirida em seu Caminho da Imortalidade ou Liberação.





Linha a Linha



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___  ___           Primeira Linha


A Primeira Linha é Yin e idealmente incorreta.  Sendo a Linha representante do sopé da Montanha, Ken, apresenta-se enquanto o começo de tudo, o começo dos começos, tanto para a Montanha que vemos no Trigrama da Terra quanto para a Montanha que vemos no Trigrama do Céu.

No entanto, é apenas o começo de uma longa jornada: a Primeira Linha é apenas o início de uma imensa Montanha, é apenas o início de uma longa caminhada do Mestre ao forma-se homem, no Trigrama da Terra, e ao formar-se Homem Sagrado, no Trigrama do Céu.

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 64 do Tao Te Ching:

O que tem paz é fácil de manter
O que é anterior ao despertar é fácil de planejar
O que é frágil é fácil de quebrar
O que é pequeno é fácil de dissolver

Realiza-se a partir de antes da existência
Organiza-se a partir de antes da desordem

Uma árvore de grande abraço gera-se de uma fina muda
Uma torre de nove andares levanta-se de um acúmulo de terra
Uma viagem de mil léguas inicia-se debaixo dos pés


Em Ken, a Montanha Repetida, a Quietude do Mestre sentado em seu Silêncio, a Meditação, a Imobilidade, veremos que as Linhas vão apresentando os degraus do Grande Caminho a ser realizado dentro da Alquimia Espiritual.  Portanto, como tudo começa a partir do ato da Meditação em si, cada Linha irá descrever a Imobilidade que deve ser alcançada através todo o corpo físico do Mestre, desde seus dedos dos pés - representados pela Primeira Linha - passando pelas pernas, pelo quadril, pelo tronco, pelas mandíbulas... até que finalmente, no clímax da Quietude alcançado pela Sexta Linha, encontra-se a Quietude magnânima!

Por tudo isso, vemos que o I Ching recomenda que, desde o começo do processo da Meditação, o Mestre busque por sua Quietude em sua plenitude e a Primeira Linha é aquela que apresenta o real começo dessa longa jornada:  Mantendo imóveis os dedos do pé.  Nenhuma culpa.  É favorável uma constante perseverança.

O fato de  o I Ching dizer ‘Nenhuma culpa’ quer significar o fato de que esta longa jornada tem início a partir de uma Linha Yin e idealmente incorreta - porque a Primeira Linha possui, idealmente, a ação mais intensa do Sublime Yang, criativo e cheio de energia... enquanto, em sendo uma Linha Yin, existe o tom de receptividade, de abrangência, de devoção, de modéstia, de humildade, ao longo de todo o processo.

No entanto, mesmo em sendo uma Linha Yin, o I Ching recomenda: É favorável uma constante perseverança  - pelo fato de que existe na Primeira Linha a visão do longo processo a ser realizado, entre a imobilidade, a parada, e a movimentação, o recomeço da ação propriamente dita.  Por tudo isso, é preciso que a Primeira Linha vivencie sua primordialidade de ação em seu começo original, ou seja, intuitivamente buscando pelo caminho correto e já tendo em mente a necessidade de ir contornando, perseverantemente, os obstáculos que a impeçam de seguir adiante em sua Quietude.


No sentido da meditação e/ou da prática espiritual, novamente retornamos às palavras do Mestre Cherng, em sua interpretação do Capítulo 2, do Tao Te Ching, de Lao Tse: 

“O Taoísmo trabalha sempre na compreensão equilibrada das coisas.  Sempre procuramos o caminho do equilíbrio.  É preciso haver disciplina espiritual, sem radicalidades, sem extremismos.

Na meditação, é fundamental que haja a disciplina diária: 10, 15 minutos que vão transformando a pessoa pouco a pouco.

Como viemos de um acúmulo de vícios e apegos de vidas anteriores, Tomar a Consciência significa trabalhar o caminho espiritual de uma maneira gradual, progredindo aos poucos - mas progredindo - e não regredindo.

Também não adianta tentar mudar vícios e apegos de um dia para outro, radicalmente, porque o retorno à vida anterior pode ser ainda mais danoso.

Caminhando devagarinho um dia se olha para trás e se realiza que já se andou bastante.

Existe um ditado chinês que diz:

Quem tem força de vontade está sempre tendo força de vontade.
(ou seja, a pessoa projeta sua meta e a realiza)

Quem não tem força de vontade está sempre tendo vontade.
(ou seja, a pessoa está todo o tempo mudando suas vontades e criando força de vontade para poder caminhar... e não vai conseguir).”


Vemos, portanto, que a Primeira Linha nos recomenda movimentação e imobilidade em seus momentos certos de forma que o longo processo a ser exercido possa vir a ser realizado com a boa fusão entre a intuitividade e a visão antecipadora das metas a serem alcançadas. 





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___  ___           Segunda Linha
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Mantendo imóvel as pernas.  Ele não pode salvar aquele a quem segue.  Seu coração não está alegre.


A Segunda Linha é Yin e central e idealmente correta.  No entanto, a proximidade com a Linha seguinte - a Terceira Linha, linha Yang e idealmente correta -, lhe deixa muito perto da turbulência, no sentido de galgar a fronteira entre os Trigramas da Terra e Interior e do Céu e Exterior.  No entanto, o I Ching recomenda, dentro da escalada da busca da Imobilidade, da Quietude:  Mantendo imóvel as pernas. 

A Segunda Linha é quieta e tranqüila por si mesma.  Porém, o I Ching diz que ‘seu coração não está alegre’.

Dentro da Segunda Linha estão instaurados a parte mais profunda do Trigrama Nuclear Inferior em K’an, a Água, o Abismal, o Perigo, a Sabedoria, o Ouvido, o Coração - e também a proximidade da Segunda Linha com a Terceira, lhe perturba porque a Linha Yang da Terceira Linha é a base Yang do Trigrama Nuclear Superior, Chen, O Trovão, O Irromper, O Incitar.

Portanto, existe um Conflito imenso dentro da Segunda Linha diretamente relacionada com a Terceira Linha: por um lado se diz que a Segunda Linha é correta, quieta e tranqüila por si mesma, mas por outro lado, se diz que o Coração não está alegre porque K’an, a Água, traz esse desconforto e porque Chen, O Trovão, lhe impulsiona para sair desse desconforto - embora a Terceira Linha não lhe ouça porque K’an, a Água, que também faz parte da Terceira Linha, sugere dor de ouvido. 

O I Ching diz: “Ele não pode salvar a quem segue” pois este não se volta para escutá-lo.  O fato da Terceira Linha não voltar para escutar a Segunda Linha é porque a Terceira Linha é Yang e ativa e tem força suficiente para galgar o Trigrama do Céu e sair do Trigrama da Terra.  E sabemos que as Linhas em Ken, a Montanha Repetida, A Quietude, a Imobilidade, vão alcançando a Imobilidade e a Quietude ao longo da ascensão de suas Linhas - sendo a Sexta Linha aquela que é bem sucedida em alcançar a Quietude magnânima!

A Segunda Linha deveria ficar quieta e tranqüila mas não consegue deter o coração que não está alegre e não consegue fazer com seja compreendido, escutado: sente-se inteiramente incompreendido.  É um verdadeiro conflito.






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_______           Terceira Linha
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Mantendo imóvel o quadril.  Rigidez na região do osso sacro.  Perigo.  O coração sufoca.

A Terceira Linha é Yang em lugar idealmente Yang.  Ela é o cume da Montanha do Trigrama da Terra.  Ela ocupa o lugar da Linha dos Tesouros do Espírito, os Conhecimentos, do Trigrama da Terra.  Ela é a linha de transição entre os Trigramas da Terra e do Céu, a difícil transição.

À esta Linha, se pediria, idealmente, uma Quietude Plena.  No entanto, essa linha encontra-se ao centro do Trigrama Nuclear Inferior, K’an, a Água, O Perigo, o Coração, a dor de Ouvido, com seu movimento descendente e encontra-se na base do Trigrama Nuclear Superior Chen, o Trovão, o Incitar.

Também a proximidade da Segunda Linha que já pressente o Perigo, é bastante intensa e esta tenta fazer com que a Terceira Linha a escute, porém em vão - pelo fato de que a Terceira Linha é Yang e idealmente correta e tem força suficiente para já galgar a transição entre os Trigramas da Terra e do Céu... e está estruturada na base do Trigrama Nuclear Chen, o Trovão, com sua movimentação intensa ascendente (sempre ainda realizando seu antagonismo com as movimentações intensamente descendentes dos dois Trigramas de Ken, a Montanha e com o Trigrama Nuclear Inferior, K’an, a Água, o Abissal).

A rigidez importa ainda ao Trigrama da Terra, em A Quietude, a Imobilidade, faz com que ela, a Terceira Linha, se enrijeça, fique mais rígida.

Assim, o I Ching diz:  “Mantendo imóvel o quadril.  Rigidez na região do osso sacro.  Perigo.  O coração sufoca”.

O Homem Superior deve exercer sua meditação, o sentar-se em silêncio mantendo as costas imóveis.  Sentado com as costas imóveis, o Homem Superior consegue encontrar a quietude no coração e no pensamento e consegue fazer com que sua respiração se torne apenas um leve sopro, que faz a fusão entre a Consciência e a Energia Vital, o Sopro, através a respiração.  Essa fusão faz acontecer a Fixação.  E é somente a partir da Fixação que a Meditação propriamente dita tem seu verdadeiro começo, que a Alquimia Espiritual pode ser realizada em seus primórdios e em seu longo processo.

Quando o I Ching já assinala o Perigo acontecendo dentro da Terceira Linha, é bem provável que já esteja alertando o Mestre para o fato de que, dentro da Fixação e sua permanência (processo que leva grande tempo para ser alcançado e amadurecido) existe a proximidade, a promessa, da chegada das Rodas de Moinho, ou seja, o processo de purificação física e anímica que proporcionará um salto maior dentro do processo de Alquimia Espiritual do Mestre.


Em termos da meditação simples e em seus primórdios - bem como em termos da vida cotidiana em seus momentos de movimentação e em seus momentos de quietude -, tudo isso deve ser feito naturalmente, sem estresses, sem tensões, sem disciplinas rígidas demais.  Tudo deve ser feito e sentido e praticado apenas naturalmente.

Quando o Homem Superior não consegue se sentar em Quietude, quando ele apenas consegue manter imóvel o quadril e sentir que o coração sufoca - então, ele não deve, naquele momento, forçar a sua meditação.

Assim se passa com a Terceira Linha.  Por ser ela a Transição entre a Terra e o Céu, é o momento em nossa meditação em que o cansaço, as tensões, as coceiras, as dores, tudo incomoda e o ser se retira, se afasta da meditação.

De qualquer maneira, todas as Linhas do Hexagrama vão demonstrando as várias etapas do processo de sentar-se no silêncio e da meditação.  Assim, sabemos que a Terceira Linha dá lugar à Quarta Linha e assim por diante.  Também o Trigrama da Terra dá lugar ao Trigrama do Céu.  Tudo no universo está em constante estado de mutação.




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___  ___           Quarta Linha
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Mantendo imóvel o tronco.  Nenhuma culpa.

A Quarta Linha é Yin e idealmente correta e já encontra-se na base da construção de Ken, a Montanha, a Quietude, a Imobilidade, o Mestre do Trigrama do Céu dentro do Hexagrama de A Montanha Repetida.

Esta base de construção da Quietude exigida e alcançada no Trigrama do Céu, em Ken, a Montanha, passa a acontecer através a imobilidade do tronco, ou seja, segundo o que o I Ching já indicou em suas palavras para o Julgamento, o repouso do tronco significa o esquecimento do eu: a partir desse momento instaura-se a meditação propriamente dita, instaura-se o real processo de Alquimia Espiritual.

Porém, por se encontrar a Quarta Linha ainda atada ao final do Trigrama Nuclear Inferior, K’an, A Água, com seus Perigos, é possível que não tenha ainda se libertado inteiramente de suas inquietudes e de seus desejos de movimentações, de pensamentos e de impulsos - em função do fato de que a Quarta Linha é realizada como a Linha do Meio, a Linha do Homem,, de Chen, o Trovão, o Incitar, com sua movimentação intensamente ascendente e realizado enquanto Trigrama Nuclear Superior, em Ken, a Montanha Repetida.

No entanto, o I Ching diz: Nenhuma culpa, ou seja, a Linha inicial do Trigrama do Céu, a Quarta Linha Yin e idealmente correta, já anuncia o bom sucesso da Quietude realizada pelas Linhas seguintes, Quinta e Sexta.




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___  ___           Quinta Linha
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Mantendo imóveis as mandíbulas.  As palavras estão em ordem.  O arrependimento desaparece.


No seguimento, ao longo do corpo físico, para  alcance e a manutenção da Quietude, da Imobilidade, encontraremos na Quinta Linha o momento quando é necessário se atender ao que o I Ching nos diz: Mantendo imóveis as mandíbulas.  As palavras estão em ordem. 

Neste momento, exige-se do Mestre, em Ken, a Montanha Repetida, uma maior maturidade em relação a tudo aquilo que é possível de ser acolhido através as palavras dentro do Mundo da Manifestação e em relação a tudo aquilo que já não mais é possível de ser acolhido através as palavras dentro do Mundo da Não-Manifestação.

No entanto, sabemos que a Quinta Linha apresenta-se através uma Linha Yin e idealmente incorreta para ocupar esta posição da Consciência Iluminada.  E é exatamente esta Linha Yin que fará com que a Consciência Iluminada realmente aconteça no sentido do bom discernimento, da boa maturidade, de sua receptividade, de sua abrangência, de sua devoção, de seu Vazio.  Por isso, o I Ching diz:  O arrependimento desaparece.

Também a maturidade e a consciência mais iluminada exigidas para a Quinta Linha de Ken, a Montanha Repetida, são advindas do fato de que o Perigo já foi inteiramente afastado - pois que o Trigrama Nuclear Inferior, K’an, a Água, o Abismal, já encontra-se finalizado e distante - e o Incitar intenso e dos sons das palavras do Mundo da Manifestação acionados  pelo Trigrama Nuclear Superior, Chen, o Trovão, estejam em seu momento de real finalização.  Tudo isso estará proporcionando, então, a Quietude magnânima que estaremos encontrando na Linha seguinte, a Linha do Sábio, a Linha verdadeiramente governante do Hexagrama Ken, a Montanha Repetida.

A Quinta Linha é o rei, a consciência iluminada do reino (rei é a consciência e o reino é o corpo físico que abriga esta consciência, na encarnação).  O Rei da Quinta Linha serve ao Sábio da Sexta Linha - que é o real governante do Hexagrama.  O rei serve ao sábio - A Consciência serve ao Mestre - porque o Sábio é o Homem Sagrado que se encontra, em sua mente alojada em seu Chacra Coronário, a Sexta Linha Yang do alto da Montanha, Ken, e o Sábio é contemplado por todos e contempla a todos, em seu Caminho e em sua Virtude.

Neste momento do processo da meditação, na Quinta Linha, quando o Mundo da Manifestação efetivamente se fusiona ao Mundo da Não-Manifestação, encontraremos a real fusão entre Consciência e Sopro, trazendo a Fixação e o real começo do longo processo da Alquimia Espiritual, dentro do Vazio.

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 1 do Tao Te Ching:

O caminho que pode ser expresso não é o Caminho constante
O nome que pode ser enunciado não é o Nome constante
Sem-Nome é o princípio do Céu e da Terra
Com-Nome é a mãe dos dez mil seres.





________          Sexta Linha

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Quietude magnânima.  Boa fortuna!

A Sexta Linha, mesmo sendo Yang e idealmente incorreta, é a Governante do Hexagrama, exatamente pelo fato de apresentar o bom sucesso alcançado pelo esforço de todas as Linhas anteriores no sentido de encontrarem a Quietude Magnânima!  Por isso, o I Ching lhe augura e assegura:  Boa Fortuna!

A Boa Fortuna reside no fato de que o Mestre alcançou sua Quietude Magnânima!  No entanto, sabemos que esta Quietude Magnânima deve ser encontrada sempre, sempre, ao longo da longa jornada percorrida pelo homem em busca de efetivamente tornar-se homem superior, Homem Sagrado.

Sendo assim, o Sábio da Sexta Linha sabe que inevitavelmente, inexoravelmente, deverá deixar o Hexagrama Ken, a Montanha, e retornar, sempre, sempre, até efetivamente alcançar a Quietude Magnânima encontrada quando o Mestre obtém todas as Linhas Mutáveis do Hexagrama Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, a Plenitude do Sublime Yang, ou seja, quando todo o Caminho do Céu realizado a partir de K'un, a Terra, A Mãe, o Receptivo, é percorrido plenamente - ao longo de muitas e muitas encarnações... -, e assim fazendo acontecer a Plenitude do Caminho da Imortalidade ou Liberação, quando descem dos céus seis dragões coloridos e esfuziantes e, entre torvelinhos de nuvens, carregam o Corpo Solar do Imortal em Ascensão.

A Sexta Linha é aquele Discípulo que encontramos na Primeira Linha e que veio ascendendo, Linha a Linha, degrau por degrau, disciplinadamente e perseverantemente, humildemente, em seu longo Caminho entre a Terra e o Céu.  E sabemos que é o Mestre aquele que se realiza na interação entre Terra e Céu, é o Homem Sagrado que possui em si mesmo a fusão da Consciência Pura com a Vida Infinita:  Consciência Pura adquirida em seu Caminho da Iluminação e Vida Infinita adquirida em seu Caminho da Imortalidade ou Liberação.

Portanto, a Sexta Linha do Hexagrama Ken, a Montanha Repetida, a Quietude, a Imobilidade, o Mestre, nos sugere a imagem do Homem Sagrado em sua Quietude Magnânima e usufruindo de sua Boa Fortuna, em seu profundo estado de meditação, de sentar-se em seu silêncio, de encontrar seu Vazio.

Concluir o nome, terminar a obra,
Retirar o corpo - este é o Caminho do Céu

Tao Te Ching, Capítulo 9


Quem mantém o Caminho Ancestral,
Poderá governar a existência presente.
Quem conhece o Princípio Ancestral,
Encontrará a ordem do Caminho.

Tao Te Ching, Capítulo 14


O Caminho é uma constante não-ação
Que nada deixa por realizar.

Tao Te Ching, Capítulo 37




Síntese de Ken, A Montanha Repetida, 
A Quietude, A Imobilidade, O Mestre


A Montanha recebe a Montanha,
formando Ken, A Quietude, A Imobilidade


Depois de ter se encontrado com sua Mãe, concretizando a materialização do Planeta, a Montanha, dentro do Trigrama da Terra, em sua Quietude, acolhe a si mesma, Ken, A Montanha, para se situar dentro do Trigrama do Céu e oferecer ao mundo a imagem do Mestre sentado em seu silêncio, em meditação, em sua interiorização plena tanto em seu mundo interior quanto em seu mundo exterior.  A meta da vida humana é fusionar-se ao Tao. É formando então o Hexagrama Ken, A Quietude, O Mestre:



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___  ___           Trigrama do Céu em Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre
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___  ___           Trigrama da Terra em Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre


A Montanha repetida apresenta o Mestre absolutamente interiorizado em sua meditação, dentro do Trigrama Interior, sem ser visto pelo mundo; e apresenta o Mestre absolutamente interiorizado em sua meditação, dentro do Trigrama Exterior, mostrando ao mundo seu exemplo.  O Mestre é aquele que atua através do próprio exemplo.

Lao Tse nos diz, em seu Capítulo 16 do Tao Te Ching:

Alcançando o extremo vazio e
Permanecendo na quietude da extrema quietude


Em Ken, a Montanha repetida,   o Trigrama do Céu é o Mestre que é contemplado pelo universo.  O Trigrama da Terra é o Mestre em sua interiorização plena, sentado em seu silêncio, contemplando todo o universo através de seu Vazio.  Podemos também entender que o Mestre encontra-se no Trigrama do Céu, exteriorizado, enquanto seus Discípulos encontram no Trigrama da Terra, sendo encaminhados pelo Mestre.

O Trigrama da Terra revela-se nos estágios iniciais no Trabalho Espiritual e de Meditação.  O Trigrama do Céu revela-se nos estágios mais avançados.  E as Linhas, ao longo de suas ascensões no Hexagrama Ken, A Montanha repetida, vão nos revelando o Caminho do Caminhante, os degraus galgados pelo homem superior que se senta em seu silêncio e penetra no Vazio.

Por estas razões, a Linha Governante do Hexagrama Ken, a Montanha Repetida, a Quietude, o Mestre, é a Sexta Linha, a Linha do Sábio, o Lugar do Céu no Trigrama do Céu, o lugar da entrada no Vazio, o lugar da retirada desta Linha para atuar enquanto Primeira Linha de um novo Hexagrama, após sete etapas concluídas.

O Mestre que vemos em Ken, a Montanha, é aquele que conseguiu - apesar de pertencer ao Mundo da Manifestação - adentrar o Portal que o leva ao Mundo da Não-Manifestação.   E, ao longo de sua longa jornada em sua Meditação Profunda, teve que enfrentar movimentações intensas dentro si, algumas, inclusive, que lhe traziam algum Perigo: tudo isso pode ser compreendido através os Trigramas Nucleares inseridos em Ken, a Montanha: Chen, o Trovão, o Incitar, a Comoção, com seu movimento ascendente intenso, e K’an, a Água, o Perigo, com seu movimento descendente.

Quando o Mestre já realizou a fusão entre o Sopro e a Consciência, adentram em seu corpo as chamadas Rodas do Moinho, que movimentam todo seu corpo, fazendo o corpo vibrar intensamente, em redemoinhos intensos que vão Liberando todas as energias que não estão de acordo com o movimento ascensional de ampliação da consciência do Mestre e sua entrada no Vazio: tudo isso pode ser visto através o Hexagrama Nuclear inserido, Chen, o Trovão, sobre K’an, a Água, em Hsieh, Liberação.  Chen, o Trovão, torna-se o Novo Começo, o Retorno da Luz, enquanto K’an, a Água, torna-se a Sabedoria.






Créditos:

A tradução dos Capítulos do Tao Te Ching foi realizada por Wu Jyh Cherng,
do chinês para o português, e foi primeiramente publicada pela Editora Ursa Maior,
sendo hoje  publicada pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil

Nesta mesma Editora, encontra-se ainda no prelo
a realização da publicação, em breve, das interpretações de Wu Jyh Cherng
 acerca os 81 Capítulos da obra máxima de Lao Tse, o Tao Te Ching

Trechos recolhidos da interpretação de Cherng sobre os Capítulos 2 e 27 do Tao Te Ching, de Lao Tse,  através Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro, em maio de 1994 e em 17 de janeiro de 1995, respectivamente.  Transcrição e Síntese de Janine Milward


O I Ching, O Livro das Mutações
Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários de Richard Wilhelm
Tradução para o português de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Correa Pinto
Editora Pensamento – São Paulo, Brasil

I Ching, Alquimia dos Números
Wu Jyh Cherng
Editora Objetiva - Rio, Brasil - Hoje publicado pela Editora Mauad, São Paulo, SP





O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada