A Montanha, Ken, recebe o Lago, Tui, formando Hsien, Comunhão, Influência






O Fio da Meada







Sexta Linha      ___  ___               O
Quinta Linha         ___  ___          I Ching
Quarta Linha                ___  ___               do
Terceira Linha       _______          Caminho
Segunda Linha      _______               do
           Primeira Linha    _______              Céu





Janine Milward





TERCEIRO VOLUME

Os Hexagramas compostos por Ken, a Montanha,
a Quietude, o Mestre



Editora Estrela do Belém




O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada





Ken, a Montanha, recebi Tui, o Lago,
formando

Hsien, Comunhão, Influência


Ken,  Montanha, a Quietude, a Serenidade, a Permanência, a Imobilidade, o Filho mais Jovem, o Mestre, recebe Tui, o Lago, a Alegria, o Sorriso, a Boca, a Ovelha, a Filha mais Jovem, o Falar, a Flor de Lótus, o Espelho, o Oeste, o Retiro, o Jovial - e juntos formam o Hexagrama 31 Hsien, Influência, Comunhão.

___ ___
_______
_______           Tui, o Lago, a Alegria, o Jovial
_______
___ ___
___ ___            Ken, a Montanha, Hexagrama Primordial


O Caminho é o Vazio
E seu uso jamais o esgota

Tao Te Ching, Capítulo 4


O Caminho é o Tao. Sobre o Tao não se fala, não se tem palavras para se referir ao Tao porque o Tao está além de todas as palavras, além do além. Tudo aquilo ao qual pode ser referido faz parte do Mundo da Manifestação, o Tai Chi. O Mundo da Manifestação é criado, é um espelho que espelha e re-cria tudo aquilo que repousa no inefável, no sutil, que ainda poderemos nos referir como o Mundo da Não-Manifestação, o Wu Chi. No entanto, até o Mundo da Não-Manifestação - que é da classe do Absoluto - é criado a partir do Tao. Sendo assim, o Tao ainda está além, para muito mais além do Mundo da Não-Manifestação.

O Tao pode ser alcançado através do ato do Caminhante Caminhar seu Caminho rumo ao seu Tao. Esse Caminho pode ser chamado de Vazio, de entrar no Vazio. É somente através do Vazio Absoluto que o Caminhante consegue Caminhar seu Caminho e alcançar seu Tao. Esse Vazio é anterior ao Tudo - que é o Mundo da Não-Manifestação simbolizado pela gravidez sutil de tudo aquilo que faz nascer e criar o Mundo da Não-Manifestação, que é o Todo. Assim, o Vazio é anterior ao Tudo e ao Todo, ao Mundo da Não-Manifestação e ao Mundo da Manifestação. Por isso, Lao Tse, no Capítulo 4 - que é um dos Capítulos que mais intimamente nos falam do Tao -, nos diz que O Caminho (O Tao) é o Vazio.


Sabedor de que não é possível se nomear o Tao mesmo quando o simboliza como o Vazio, Lao Tse parece nos dizer que esse Vazio significa a Absoluta Ausência do Tudo, do Tudo e mais ainda, do próprio Vazio. No entanto, o Vazio não é o Nada pois que no Nada encontram-se o Tudo e o Todo e também encontra-se o Vazio, ou a nomeação mais próxima do Tao - que ainda se encontra para além, muito além, de qualquer nomeação.

O uso desse Vazio jamais o esgota porque o Tao é inesgotável ou mesmo além da possibilidade de ser esgotável ou inesgotável - desde que é o Tao anterior à própria Criação do Nada, do Tudo e do Todo, anterior até ao próprio Vazio, que é o que mais próximo se lhe assemelha.


Ken, a Montanha, possui sua estrutura fusionada à K'un, a Terra, a Planície, a Mãe, o Receptivo - através suas Linhas Primeira e Segunda em Sublime Yin -,  e seu tom diferencial doado por seu Pai, Ch'ien, o Céu, o Criativo, lhe traz, em sua Linha Terceira, o Sublime Yang, o lugar onde a Montanha une a Terra ao Céu.  Assim é o Mestre: bem fusionado à Terra porém voltado para o Céu. A Montanha é o Filho mais Jovem do Céu e da Terra.

Tui, o Lago, possui sua estrutura fusionada a Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, através suas Linhas Primeira e Segunda, em Sublime Yang -, e seu tom diferencial doado por sua Mãe, K'un, a Terra, o Receptivo, lhe traz em sua Linha Terceira, o Sublime Yin, o lugar onde o Lago espelha o Céu na Terra.  O Lago é a Filha mais Jovem do Céu e da Terra.

Quando Montanha e Lago se unem, quando a Montanha acolhe o Lago, existe uma estrutura bem concretizada de Terra e existe uma estrutura bem concretizada de Céu, ou seja, existe o Vazio - a Linha Terceira em Sublime Yin, de Tui, o Lago - perfazendo o cume da Montanha, perfazendo sua mente. 

Assim, porque existe um Vazio no cume da Montanha, pode o Lago ali existir.  Alegria e Quietude, então, se unem em fusão harmoniosa, em Comunhão perfeita.  Porque existe um Vazio na mente do Mestre,  pode o Espelho do Céu se fusionar com a Terra, entrelaçando-se ambos em perfeita Influência de suas Virtudes, Criativo e Receptivo, Céu e Terra, Pai e Mãe.

Hsien, Influência, Comunhão, nos revela, nos traz a mensagem de como realizarmo-nos em Comunhão e em Influência mútua com tudo e com todos os seres e com a natureza, sob o Tao da Criação.



Alcançando o extremo vazio e permanecendo na quietude da extrema quietude,

No Capítulo 16, Lao Tse nos fala sobre a Meditação. O extremo vazio é alcançado através da meditação. A meditação é permanecer na quietude da extrema quietude.

Os dez mil seres se manifestam simultaneamente

O extremo vazio é o lugar do revirão do céu e da terra, aonde o Mundo da Não-Manifestação e o Mundo da Manifestação se encontram e se desencontram.

No Mundo da Manifestação, existe a coletividade dentro da unidade. No Mundo da Não-Manifestação existe apenas a unidade, o Absoluto.

Assim, quando Lao Tse menciona os dez mil seres, ele está falando da Criação sob o Tao, o Caminho. Dentro da Criação, existe a coletividade, a multiplicidade a partir do Uno Primordial.

No entanto, ao alcançar o extremo vazio e permanecendo na quietude da extrema quietude, a coletividade, a multiplicidade torna-se unidade... portanto, manifestando-se simultaneamente.

E, através disso, contemplamos o seu retorno.

Quando, através da meditação em sua plenitude de êxtase, o homem encontra o revirão entre os Mundos da Manifestação e Não-Manifestação – o Vazio – ele retorna. Ao retornar, esse homem já é o Homem Sagrado. Retornar significa ‘encontrar sua raiz’, fusionar com o Uno Primordial, o Tao – o retorno à Fonte Primordial.

Apesar da diversidade dos seres
Cada um deles pode retornar à sua raiz.

A verdade é que toda a Criação, em sua diversidade dos seres, em algum momento de seu ciclo de existência, sempre encontra o revirão entre os Mundos da Manifestação e Não-Manifestação, o retorno à raiz.

O regresso à raiz se chama quietude
Quietude se chama retornar a viver
Retornar a viver se chama constância

A fusão com o Tao – o regresso à raiz, à fonte primordial – é fundamentalmente encontrado através da quietude alcançada pela meditação. A partir do momento em que a meditação ‘prende’ o homem em sua prática espiritual (esse momento pode também ser chamado de Fixação: a fusão do Espírito com a Alma), inicia-se uma nova vida, a verdadeira vida... por isso, Lao Tse nos diz: Quietude se chama retornar a viver.

Esta nova vida, esse ‘retornar a viver’ é devido ao fato de que, neste momento, o homem passa a ser Homem Sagrado. E por que? Lao Tse continua nos respondendo ao dizer: Retornar a viver se chama constância.

A constância é a Virtude do Tao. Apenas o Tao é constante, todo o resto é duradouro, ou seja, nasce, vive, morre, nasce, vive, morre, nasce, vive, morre – dentro do Mundo da Manifestação.

O Mundo da Não-Manifestação, porém, faz parte da constância do Tao. Assim, ao deparar com o revirão entre os Mundos da Manifestação e Não-Manifestação, o homem (em sua característica de nascer, viver e morrer) torna-se Homem Sagrado (em sua constância adquirida junto ao Tao).

Reafirmando essa verdade, Lao Tse nos alerta:

Conhecer a constância se chama iluminação
Desconhecer a constância é a impropriedade que provoca o infortúnio

Ao tornarmos Homem Sagrado, conhecemos a Iluminação – a constância da Luz. Enquanto existimos como homens apenas, desconhecemos a iluminação – a constância da Luz.

Quem conhece a constância é abrangente

O Homem Sagrado, ao conhecer a constância, ao se iluminar, torna-se amplamente abrangente – por ter se fusionado com o Tao. Então, a partir desta abrangência, abrem-se outras virtudes, todas relacionadas ao Tao e ao Mundo da Não-Manifestação realizados dentro do Mundo da Manifestação:

Quem é abrangente pode ser coletivo
O coletivo tem o poder da criação
A criação tem o poder do céu
O céu tem o poder do Caminho
O Caminho tem o poder do eterno.

O Uno Primordial traz em si toda a Criação – que é coletiva em sua diversidade de seres. Dentro da criação, existe a multiplicação dessa própria criação. Sendo a criação uma manifestação espelhar do Tao da Criação, essa criação mesma tem o poder do céu – de onde toda a criação tem seu berço. O céu, por sua vez, ao ser uma manifestação espelhar do Tao da Criação, tem o poder do Tao, O Caminho.

O Tao, O Caminho, sendo a própria constância, tem o poder do eterno.

Em outro Capítulo, o Capítulo 25, Lao Tse nos reforça esse conceito através dos versos:

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho, o Tao
O Caminho, o Tao, se orienta por sua própria natureza.

Lao Tse, finaliza então, o Capítulo 16, nos revelando nossa verdadeira natureza – que pode ser alcançada a partir do homem se tornar Homem Sagrado em sua Iluminação, aprontando-se para, então, trilhar seu caminho da Imortalidade ou Liberação:

Assim, mesmo perdendo o corpo, não irá perecer

Ao fusionar-se com o Tao, o Homem Sagrado atinge sua Iluminação, a constância da Luz, em sua mente expandida em consciência iluminada e infinita. No entanto, também seu corpo físico deve se tornar um Corpo de Luz, trazendo-lhe vida iluminada e infinita – a Imortalidade ou Liberação.

A transmutação do corpo físico em Corpo de Luz realiza-se através da Alquimia do Caldeirão. O Caldeirão é o corpo físico que é trabalhado pelo Homem Sagrado com mente iluminada. A mente iluminada vai doando sua Luz de constância do Mundo da Não-Manifestação ao corpo físico do Mundo da Manifestação (corpo esse que nasce, vive e morre, preso à Roda da Vida, das Encarnações).

Quando todo esse trabalho é terminado, o Homem Sagrado possui não apenas consciência iluminada e infinita como também vida iluminada e infinita. Acredita-se que o Corpo de Luz não realmente morra, e sim, ascenda aos céus.

Por isso, Lao Tse nos diz que o Homem Sagrado mesmo perdendo o corpo, não irá perecer. Ou seja, perde seu corpo físico, sim, porém não sua vida.

Desta forma, consciência iluminada e infinita e vida iluminada e infinita fusionam-se plenamente à constância do Tao da Criação.

Esses são os Caminhos da Iluminação e da Imortalidade ou Liberação.





A Montanha é o Mestre em sua Quietude.  O Lago é a Alegria, é a Flor de Lótus, é o Céu Espelhando-se na Terra.  O Mestre e sua Alegria formam o Dharma:


O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho (o Tao)
E o Tao se orienta por sua própria natureza.

(Capítulo 25 do Tao Te Ching, de Lao Tse)

Lao Tsé, o Mestre do Tao, assim nos orienta a respeito do Dharma primordial, ou seja, o Tao se orienta por sua própria natureza..... Podemos, então, entender o Dharma como sendo a característica essencial de nosso ser, nossa natureza essencial, nossa própria maneira de ser.

Essa característica essencial – Dharma - pertence ao nosso Espírito, desde sempre, e vai sendo trabalhada ao longo de nossas vivências sucessivas, por nossa Alma, desde sempre.

Também Dharma nos remete à alegria de fazermos parte de uma coletividade dentro da Criação – Jiiva - e, com a plena consciência em relação à nossa natureza essencial, prestarmos nossos serviços a todos os seres – no entanto, sempre voltados para nossa Unidade essencial, Shiiva

Dharma é, portanto, plenitude de alegria, a alegria que reside no fundo de nosso coração.

Através do tempo e do espaço, do Vazio e da Luz, de nossas Vivências Sucessivas (re-encarnações), vamos vivenciando cada vez mais a ampliação de nossa mente até que se torne mente iluminada e infinita. E é através da forma com a qual vamos vivenciando este processo dentro da Samsara, a Roda da Vida, as encarnações junto à mutação da Criação, que vamos elaborando nossa natureza essencial, nosso Dharma.

Então, assim como acontece com Karmas e Samskaras – ações e reações em potencial – o Dharma é também algo que vamos construindo ao longo de nossas vidas sucessivas: o ser essencial, a natureza própria que existe em cada um de nós, é como uma longa estrada caminhada passo a passo – com consciência a cada passo. É o Livre-Arbítrio.

verdadeiro Livre-Arbítrio é aquele que chega até nós quando finalmente estamos vivenciando nosso Dharma em toda sua plenitude, ou seja, quando já nos encontramos em nosso Caminho da Iluminação, com vistas a também posteriormente trilharmos nosso Caminho da Imortalidade ou Liberação – mente e vida infinitas e iluminadas.

Certamente que também o Livre-Arbítrio nos acompanha desde sempre, a cada passo nesta longa estrada que viemos caminhando, desde o começo desse universo do qual fazemos parte atuante e constante e sempre em mutação...., até o final desse mesmo universo – que haverá de se sintetizar em energias de luz e não-luz expressas na Mente Cósmica, dentro do Yang e do Yin que cabem numa Casca de Noz.... e novamente explodir, criando novo universo.

Porém, como já vimos anteriormente, temos que aprender a trabalhar nossa mente de maneira tal que eliminemos todos os Karmas e Samskaras negativos. Talvez esse seja o maior aprendizado em relação ao bom uso do nosso Livre-Arbítrio.

O melhor Livre-Arbítrio é aquele que nos orienta no sentido da eternidade e nos elucida em relação a tudo aquilo que é apenas efêmero, transitório. A própria escolha entre o vivenciar um tema ou outro faz parte de nossa maneira essencial de ser, nosso Dharma.

É importante que se defina o Livre-Arbítrio como algo que faz parte inerente ao homem e sua evolução de mente – tornando-o, dessa forma, quase co-regente da Criação, junto a Deus, o Criador.  No entanto, é exatamente dentro desse quase que devemos nos conscientizar acerca do fato se vamos usar de nosso livre-arbítrio com a Presença de Deus, ou não.  Se escolhermos usar e praticar nosso livre-arbítrio sem a Presença de Deus, sem a conscientização de que Deus está em nós todo o tempo, poderemos correr o risco de pensarmos que não precisamos de Deus...  e dessa forma, incorremos em êrro.

Assim, o verdadeiro Livre-Arbítrio é aquele que pratica seus atos dentro da plena conscientização da Presença de Deus em nós: é o Retorno à Casa do Pai, é Shiiva, o Retorno ao Absoluto, ao Princípio Primordial.

Um dos mais sublimes momentos da vida do Caminhante é quando ele/ela e sua Alma entram em acordo acerca de sua Missão de Vida a ser cumprida. A partir desse momento, céus e terra se unem para fazer essa Missão acontecer. Ao Caminhante resta apenas viver e trabalhar, e ser ele mesmo todo o tempo a sua própria essência, para não se afastar jamais do desejo de sua Alma. Agindo assim, o Caminhante certamente alcançará sua Iluminação e estará pronto para, dentro do Caminho da Bem-Aventurança, se fusionar com a Consciência Suprema e tornar-se um Homem Sagrado, alcançando sua Liberação, sua Imortalidade - consciência iluminada e infinita e vida infinita.


O fusionamento entre Ken, a Montanha, o Mestre, no Trigrama da Terra, e Tui, o Lago, a Alegria, a Flor de Lótus, o Espelho do Céu, no Trigrama do Céu, apresenta-se através a capacidade de ambos os Filhos mais Jovens realizarem-se mutuamente dentro da Influência de um para outro, dentro da eterna Comunhão entre um e outro.

Os Filhos mais Jovens - Montanha e Lago - são os herdeiros diretos da Terra e do Céu no sentido de se aglutinarem à própria Criação realizada pelo Céu e pela Terra, ou seja, os seres em suas evoluções dentro da natureza, sob o Tao da Criação.  A Montanha é o Mestre, o homem buscando sua realização enquanto Homem Sagrado.  O Lago é tudo aquilo que do Céu fusiona-se à Terra, é o religare, a ligação entre Céu e Terra - ligação essa profundamente realizada pelo Mestre: o Lago é o Espelho do Céu acontecendo na Terra, é a Terra acolhendo, receptivamente, o Céu.

O homem, aquele que usa a sua mente, é, portanto, o integrador da relação céu e terra. E sendo o integrador, o fiel da balança, é o homem também aquele que dá sentido ao céu e a terra da mesma forma que o céu e a terra lhe dão seu sentido. Sem a mente pensante e a possibilidade de expansão da consciência para fusionar céu e terra, o universo não faz sentido.

O universo faz sentido ao homem porque o homem dele extrai seu sentido. Daí a necessidade primordial do homem sempre ter venerado e respeitado, inicialmente, a própria natureza como seu grande Pai e sua Grande Mãe, através as realidades do Céu e da Terra e a própria natureza em si mesma impondo sua veneração e seu respeito. De tal forma que o homem precisou se espelhar na Criação através a força do Criador....


Os Filhos do Meio - Água e Fogo - são os herdeiros diretos da Terra e do Céu no sentido de trazerem para o Mundo da Manifestação todas as realizações que a Terra e o Céu realizam e que são realizações advindas do Mundo da Não-Manifestação:

O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a duração do céu e da terra
É o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros

Quanto ao fato de K’an, a Água, ser herdeiro direto de K'un, a Terra, é sugerido, é em função de que este toma o lugar de sua Mãe, ao Norte, na Grande Noite, no Inverno, é a Lua, é a Alma,  é o Abismal, é a Sabedoria, é o Perigo, é o grande sono, já no Mapa do Mundo da Manifestação.  E o fato de Li, o Fogo, ser herdeiro direto de Ch'ien, o Céu, é sugerido em função de que este toma o lugar de seu Pai, ao Sul, no Grande Dia, no Verão, é o Sol, é a Luz da Consciência Iluminada, é a Lucidez, é o Espírito, é o trabalho.

Ch'ien, o Pai, o Criativo, o Céu, dentro do Mundo da Não-Manifestação, ocupa o lugar do Verão, do Sul, do dia de trabalho.  E K'un, a Mãe, o Receptivo, a Terra, ocupa o lugar do Inverno, do Norte, da noite.  Quando o Mundo da Manifestação está completo, tanto o Pai quanto a Mãe deixam seus posicionamentos para Li, o Fogo, e K’an, a Água, respectivamente, e se retiram para ocuparem os lugares vicinais ao Oeste, ao Outono, com a Terra posicionada no Sudoeste (a plenitude do Verão se desvanecendo para encontrar o Outono) e com o Céu posicionado no Noroeste (o Outono em sua transição para o Inverno).


O que gera e cria
Gera mas sem se apossar
Age sem querer para si
Cultiva mas sem dominar
Chama-se Misteriosa Virtude.

Capítulo 10 do Tao Te Ching


Sendo assim, aquilo que possibilita a revelação da Criação tanto do Mundo da Manifestação quanto do Mundo da Não-Manifestação é o fato de Céu e Terra gerarem e criarem porém nada quererem para si. Não existe qualquer pertencimento. O Céu apenas é o Céu e a Terra apenas é a Terra e cumprem ambos suas missões naturalmente, genuinamente, dentro do não-conhecimento, da não-ação e da ação feminina, ou seja, do retorno ao Vazio.

A verdade é que, após Céu e Terra terem cumprido com suas missões de Criação e Geração dos Seis Filhos, eles se retiram e deixam seus lugares e suas missões sendo realizadas, de forma mais objetivada, primeiramente por Li, o Fogo, e K’an, a Água, os Filhos do Meio - o Sol e a Lua, o Espírito e a Alma, a Consciência e o Sopro; e, em continuidade, pelos Filhos mais Jovens e pelos Filhos mais Velhos.  Os Filhos mais Velhos tecendo os seres e a natureza, como um todo, sob o Tao da Criação; e os Filhos mais Jovens tecendo o homem ampliando sua consciência para se tornar o Homem Sagrado que acolhe sua Flor de Lótus, sua Iluminação infinita e sua Vida infinita para se tornar um Co-Criador junto ao Tao da Criação.



Os Filhos Mais Velhos - Trovão e Vento - são os herdeiros diretos do Céu e da Terra no sentido de comporem os seres e a natureza, como um todo: tudo está sempre em eterna mutação.


O retorno é o movimento do Caminho
A suavidade é a atuação do Caminho
Os seres sob o céu nascem da existência
E a existência nasce da não-existência

Tao Te Ching, Capítulo 40

Dentro da Criação, tudo sempre se encontra em constante estado de mutação.  Apenas o Tao é imutável.  A constante mutação do universo é a imortalidade do universo. Essa é a simultaneidade do universo. Essa simultaneidade é a base estrutural do conceito fundamental da relação céu e terra: a sincronicidade, ou seja, assim é na Terra como no Céu.

Sendo parte integrante da constante mutação desse universo, tendo dentro de nós, em nosso corpo, em toda a natureza, toda a alquimia realizada pelo tempo e espaço....temos então toda a história do universo já contida dentro de nós, passado, presente e futuro...

Sendo poeira de estrelas, temos em nosso corpo e conseqüentemente em nossa mente, guardados toda a herança deixada pelas estrelas nossas antecedentes, como uma árvore genealógica da galáxia, do universo em que vivemos. Assim, existe dentro de nós e em nós o passado, o presente e o futuro, tudo dentro de nossa vida, numa mesma simultaneidade do universo.

Ao longo da vida do universo em que vivemos – ou mesmo, quem sabe, de outros universos existentes na Criação como um todo -, nosso Espírito e nossa Alma – energias de manifestação da mente em Luz e Não-Luz, Yang e Yin -, vão amealhando sua expansão de mente, vida após vida, em vivências sucessivas – as chamadas re-encarnações.

A Terra é um Planeta absolutamente privilegiado para acolher as encarnações de Espírito e Alma através de sua prodigiosa materialização.  Sendo assim, devemos sempre abençoar o fato de estarmos encarnados nesse Planeta e aqui podermos desenvolver nossa mente de forma absolutamente infinita e iluminada – luz é matéria.  Por isso mesmo, a Terra é um Planeta de Trabalho e de Iluminação, ou seja, aqui trabalhamos todos uns para os outros e trabalhamos cada um de nós para desenvolver nossa mente e nos iluminarmos.  Nosso ciclo de vivências sucessivas dentro do Planeta Terra não termina apenas em nossa Iluminação e no bom desenvolvimento de nosso Trabalho.  Existe ainda a necessidade – dentro de um Planeta de total materialização, como nossa Mãe-Gaia, de alcançarmos nossa Liberação, ou seja, nossa liberação da Roda da Vida, a Samsara, que nos inclui dentro desse mesmo Planeta para bem desenvolvermos ilimitadamente nossa mente.

............................


A Primeira Parte do Livro das Mutações finaliza-se com os dois Trigramas herdeiros diretos do Céu e da Terra, sendo apresentados enquanto Sol e Lua nos encontros com eles mesmos, em K’an, a Água, o Abismal, Hexagrama 29, e em Li, o Fogo, o Aderir, Hexagrama 30.

A união em Comunhão, em Influência, Hsien, Hexagrama 31, entre Montanha e Lago acontece trazendo um novo começo, trazendo a Segunda Parte, ao Livro das Mutações, o I Ching, dentro de seu Tema de Mundo da Manifestação, ou seja, iniciando-se em Hexagrama Um através Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, e o Hexagrama Dois através K'un, a Terra, a Mãe, o Receptivo.

A continuidade da Segunda Parte do Livro das Mutações acontece com a fusão dos dois Filhos Mais Velhos - Trovão e Vento -, perfazendo o Hexagrama Heng, Duração, Constância, Hexagrama 32, quando o Vento acolhe o Trovão.

E a Segunda Parte do Livro das Mutações - e a própria finalização do mesmo - acontece a partir do encontro entre os herdeiros diretos do Céu e da Terra, através o fusionamento entre K’an, a Água, e Li, o Fogo, em Depois da Conclusão e em Antes da Conclusão, Hexagramas 63 e 64 - o Tai Chi de fusionamento entre Sol e Lua -, de  forma que tudo sob o Tao da Criação possa vir a ser novamente iniciado em O Criativo e em O Receptivo, Hexagramas 1 e 2 do Mundo da Manifestação!


A partir de O Criativo e de O Receptivo e seus possíveis 62 entrelaçamentos,

________          ___  ___
________          ___  ___
________          ___  ___
________          ___  ___
________          ___  ___
________          ___  ___


............. todos os demais Hexagramas são formados e é o Hexagrama Após a Conclusão - Água sobre Fogo - que apresenta todas suas Linhas apresentadas de forma idealmente correta:



___  ___           Linha Yin, de Tui, o Lago, o Filho mais Jovem
_______           Linha Yang de K’an, a Água, o Filho do Meio
___  ___           Linha Yin de Sun, o Vento, a Madeira, a Filha mais Velha
_______           Linha Yang, de Ken, a Montanha, o Filho mais Jovem
___  ___           Linha Yin, de Li, o Fogo, a Filha do Meio
_______           Linha Yang, de Chen, o Trovão, o Filho mais Velho


Veremos, então, que é Chen, o Trovão, o Filho mais Velho, que traz sua Linha diferenciada - a Primeira Linha Yang - e doa esta Linha ao Hexagrama que possui todas as Linhas idealmente corretas!

É Li, o Fogo, a Filha do Meio, que traz sua Linha diferenciada - a Segunda Linha Yin  - e doa esta Linha a Após a Conclusão.

É Ken, a Montanha, o Filho mais Jovem, que traz sua Linha diferenciada - a Terceira Linha Yang - e a doa a Chi Chi.

É Sun, o Vento, a Madeira, a Filha mais Velha, que traz sua Linha diferenciada - a Primeira Linha Yin - e a doa a Após a Conclusão.

É K’an, a Água, o Filho do Meio, que traz sua Linha diferenciada - a Segunda Linha Yang - e a doa ao Hexagrama com todas as Linhas idealmente corretas.

Finalmente, é Tui, o Lago, a Filha mais Jovem, que traz sua Linha diferenciada - a Terceira Linha Yin - e a doa a Chi Chi.

___  ___           Linha Yin, de Tui, o Lago, o Filho mais Jovem
_______           Linha Yang de K’an, a Água, o Filho do Meio
___  ___           Linha Yin de Sun, o Vento, a Madeira, a Filha mais Velha
_______           Linha Yang, de Ken, a Montanha, o Filho mais Jovem
___  ___           Linha Yin, de Li, o Fogo, a Filha do Meio
_______           Linha Yang, de Chen, o Trovão, o Filho mais Velho

Chi Chi, Após a Conclusão


Se bem percebermos, encontraremos os Filhos mais Velhos - Trovão e Vento (Madeira) - dando início aos Trigramas da Terra e do Céu, respectivamente, os lugares de Terra da Terra e Terra do Céu, os Tesouros do Espírito da Terra e do Céu.

Encontraremos os Filhos do Meio - Fogo e Água - dando continuidade aos Trigramas da Terra e do Céu, respectivamente ocupando suas Linhas do Meio, os lugares do Homem da Terra e do Homem do Céu.

Encontraremos os Filhos mais Jovens - Montanha e Lago - ocupando a conclusão dos Trigramas da Terra e do Céu, respectivamente, os lugares do Céu na Terra e do Céu no Céu, o Princípio Primordial da Terra e o Princípio Primordial do Céu.






O Julgamento


Influência.  Sucesso.  A perseverança é favorável.  Tomar uma jovem em casamento traz boa fortuna.

Alguns Hexagramas apresentam, no texto do Julgamento, questões voltadas para o inter-relacionamento entre os seres e esses inter-relacionamentos são ditados pelos entrelaçamentos entre Irmãos e Irmãs mais Novos, do Meio e mais Velhos, todos filhos do Céu e da Terra.

No Hexagrama Hsieh, Comunhão, Influência, encontramos o entrelaçamento entre Ken, a Montanha, o Irmão mais Jovem, com Tui, o Lago, a Irmã mais Jovem.  Ken, a Montanha, coloca-se recepcionando Tui, o Lago, e portanto, situando-se mais subjetivamente enquanto elemento masculino de forma que o elemento feminino possa situar-se mais objetivamente, ou seja, o primeiro no Trigrama da Terra ou Interior e o segundo, no Trigrama do Céu ou Exterior.

Esse é um tema de Atração, de Alquimização bem como de cortejamento, de sedução, entre os seres.

O Hexagrama Hsieh, Comunhão, Influência, ocupa o lugar  31o dentro do I Ching do Mundo da Manifestação e este lugar é o começo da Segunda Parte do Livro das Mutações - que foi iniciado através os Hexagramas 1o e 2o ocupados por Ch'ien, o Céu, o Pai, e por K'un, a Terra, a Mãe, respectivamente. 

Sendo assim, em Hsieh, Comunhão, Influência, estaremos encontrando o encontro natural que acontece entre os seres: a naturalidade de todos os encontros entre os seres e a natureza, sob o Tao da Criação.  E esses encontros primordiais e naturais são imajados através Ken, a Montanha, o Irmão mais Jovem, recebendo Tui, o Lago, a Irmã mais Jovem.  Com isso podemos compreender que a qualidade de “mais Jovem” pode denominar tanto o elemento masculino quanto o elemento feminino já incorporados dentro do Mundo da Manifestação - e esses dois elementos primordiais  masculino e feminino advêm dos elementos Yang e Yin imajados por Ch'ien, o Pai, e por K'un, a Mãe.

O Hexagrama Hsieh, Comunhão Influência, apresenta, portanto, a naturalidade dos inter-relacionamentos todos que acontecem entre os elementos masculino e feminino e tudo isso é representado pelos Irmãos mais Jovens, ou seja, Ken, a Montanha, e Tui, o Lago, entrelaçados através a Atração, a Alquimização, a Sedução, o Cortejar que o elemento masculino realiza primordialmente para fusionar-se com o elemento feminino (com o Irmão mais Jovem no Trigrama Interior ou Interno sustentando o Trigrama Exterior ou Externo ocupado pela Irmã mais Jovem).

No entanto, em seguimento e dentro do ponto de vista do I Ching do Mundo da Manifestação, o Hexagrama 32 Heng, Duração, Constância, apresenta o entrelaçamento entre os Irmãos mais Velhos, trazendo Sun, o Vento, a Madeira, ocupando a posição de Trigrama da Terra ou Interior e Chen, o Trovão, ocupando a posição de Trigrama do Céu ou Exterior.

No Hexagrama 32 Heng, Duração, Constância - exatamente pelo fato de estar sendo ocupado pelos ‘mais Velhos” - vem apresentar seu tom de condição duradoura dos entrelaçamentos, dos encontros todos realizados entre os seres e a natureza, sob o Tao da Criação. 

E mais: em Heng, Duração, Constância, o elemento feminino ocupa o lugar mais interiorizado enquanto o elemento masculino ocupa o lugar mais exteriorizado - diferente daquilo que vimos acontecendo em Hsieh, Comunhão, Influência, Cortejar, Atração, Alquimização, quando o elemento masculino é aquele que ocupa o lugar interiorizado e o elemento feminino ocupa o lugar interiorizado.  Ou seja, na natural atração entre os seres, o elemento feminino é elevado a uma atuação mais relevante, digamos assim. Na continuidade dessa inter-relação, o elemento feminino vai estar ocupando uma posição mais interiorizada, dando lugar ao elemento masculino para atuar de forma mais relevante, digamos assim. 

Ou seja, no momento da Sedução, é o elemento masculino que se subordina ao feminino e podemos presenciar esse conceito dentro de Hsieh, Comunhão, Influência.  No momento da Continuidade da Inter-relação, é o elemento feminino que se subordina ao masculino e podemos presenciar esse conceito dentro de Heng, Duração, Constância. 

É certo que temos que levar em consideração o fato de que o I Ching, o Livro das Mutações, fala sobre os conceitos da natureza como um todo e das inter-relações entre os seres tanto de forma absolutamente natural como também dentro da forma sobre a qual a sociedade chinesa da antiguidade era vivenciada - ou o próprio mundo de tempos anteriores aos tempos atuais, quando o papel da mulher e do homem alcançou iguais parâmetros de posicionamento de interiorização e de exteriorização.

De qualquer forma, ambos os Hexagramas Hsieh, Comunhão, Influência, Atração, Cortejamento, Alquimização e Heng, Duração, Constância, podem ser interpretados em questões oraculares tanto dentro da premissa das inter-relações objetivas entre os seres - namoro, noivado, casamento, associações e outras formas de encontros -  como dentro das inter-relações mais subjetivadas, entre os seres e a natureza, como um todo, sob o Tao da Criação.

Por tudo isso, podemos compreender que o encontro primordial entre os seres, em sua forma natural de ser, é realizado através os elementos masculino e feminino realizando-se dentro das imagens dos Irmãos mais Jovens...., enquanto a continuidade e a condição duradoura e/ou constante desses encontros naturais e primordiais entre os seres e a natureza, é realizada através os elementos masculino e feminino realizando-se dentro das imagens dos Irmãos mais Velhos.


Influência.  Sucesso.  A perseverança é favorável.  Tomar uma jovem em casamento traz boa fortuna.

Em função do fato de que os encontros primordiais e naturais entre os seres e a natureza podem ter uma continuidade de duração, de constância, o I Ching diz, no Julgamento: Influência.  Sucesso.  A perseverança é favorável. 

E, em função do fato de que Hsieh, Comunhão, Influência, acontece através o entrelaçamento entre os Irmãos mais Jovens - Ken, a Montanha, no Trigrama da Terra, e Tui, o Lago, no Trigrama do Céu -, o I Ching afirma: Tomar uma jovem em casamento traz boa fortuna.

No entanto, é sempre bom que não nos esqueçamos que ambos os Hexagramas - Hsieh e Heng, Comunhão e Duração -, pressupõem encontros objetivos entre os seres (homens e mulheres) e toda a natureza como um todo, como também pressupõem encontros subjetivos ou temas subjetivos que são sintetizados através o entrelaçamento entre os Irmãos mais Jovens e entre os Irmãos mais Velhos.

E mais: se levarmos em conta a inversão de posicionamento dentro da estrutura de Trigramas dentro dos Hexagramas em termos tanto dos Irmãos mais Jovens quanto dos Irmãos mais Velhos, estaremos encontrando dois outros Hexagramas que estarão expressão as questões que são desenvolvidas através as possibilidades inversas desses mesmos Encontros.

Ou seja, se posicionarmos Ken, a Montanha, no Trigrama do Céu, e se posicionarmos  Tui, o Lago, no Trigrama da Terra, estaremos encontrando o Hexagrama 41, Sun, Diminuição - quando o Trigrama Inferior é diminuído em benefício do Trigrama Superior - o Interior subordina-se ao Superior.  Neste caso, o elemento feminino - apresentado através Tui, o Lago, a Irmã mais Jovem, no Trigrama da Terra -, não possui estrutura suficiente para sustentar o elemento masculino - apresentado através Ken, a Montanha, o Irmão mais Jovem, no Trigrama do Céu... daí, a Diminuição, Sun.  Ou seja, se não houver a Duração, a Constância, a Perseverança na Continuidade dos Encontros Naturais e Primordiais entre os Seres e a Natureza como um todo, sob o Tao da Criação - na inversão dos posicionamentos entre Irmão e Irmã mais Jovens -, entra em cena a Diminuição.

Por extensão, é bom que nos recordemos do fato de que, quando o Sublime Yang primordial, em Ch'ien, o Céu, o Pai, se coloca no lugar do Trigrama do Céu, e o Sublime Yin primordial, em K'un, a Terra, a Mãe, se coloca no lugar do Trigrama da Terra, estaremos diante do Hexagrama 12, Pi, Estagnação.  Em Estagnação, encontramos o Outono, o momento em que a Luz realiza o caminho do meio com a Não-Luz mas já anunciando a chegada do Inverno, da plenitude da Não-Luz.

Por outro lado, ao invertermos os posicionamentos dos Irmãos mais Velhos, estaremos encontrando Chen, o Trovão, o Irmão mais Velho no Trigrama da Terra, ou Interior ou Inferior, subordinando-se à Irmã mais Velha, Sun, o Vento, a Madeira no Trigrama do Céu, ou Exterior ou Superior e isso faz acontecer o Hexagrama 42, I, Aumento. 

Ou seja, havendo a boa  concretização - através  Duração e Constância dos Encontros Naturais entre Seres e Natureza, como um todo, sob o Tao da Criação -, entra em cena o Aumento.  Em I, Aumento, Hexagrama 42, encontramos um relacionamento fortalecido entre os elementos masculino e feminino que se consolidaram, inicialmente através Heng, Duração, Constância (que por sua vez, é consolidado a partir da continuidade dos Encontros Naturais e Primordiais acontecidos em Hsieh, Comunhão, Influência).

Por extensão, é bom que nos recordemos do fato de que, quando o Sublime Yang primordial, em Ch'ien, o Céu, o Pai, se coloca no lugar do Trigrama do Terra, e o Sublime Yin primordial, em K'un, a Terra, a Mãe, se coloca no lugar do Trigrama do Céu, estaremos encontrando o Hexagrama    11, Tai, Paz.  Em Paz, estaremos diante da Primavera, o caminho do meio entre a Luz e a Não-Luz, já anunciando a chegada do Verão, a plenitude da Luz.


Podemos, então, perceber que Diminuição e Estagnação levam a um tom de plenitude da Não-Luz enquanto Aumento e Paz levam a um tom de plenitude da Luz.

Da mesma forma, é bom que percebamos que Criativo e Receptivo formam os Hexagrama 1 e 2, no Mundo da Manifestação.  Paz e Estagnação, formam os Hexagramas 11 e 12.  Comunhão, Influência e Duração, Constância formam os Hexagramas 31 e 32 (já trazendo o começo da Segunda Parte do Livro das Mutações).  E Diminuição e Aumento formam os Hexagramas 41 e 42.


Todos os Encontros entre os Seres e a Natureza, como um todo, sob o Tao da Criação, são apresentados através esses entrelaçamentos entre Irmãos mais Jovens e entre Irmãos  mais Velhos.  No entanto, já desde Hsieh, Comunhão, Influência, a possibilidade da boa estruturação - ou não - desses mesmos Encontros, já é presumida.  E é bem por esta razão, a meu ver, que o I Ching afirma:  Influência.  Sucesso.  A perseverança é favorável.  Tomar uma jovem em casamento traz boa fortuna.

E é certo se pensar, da mesma forma, que através a Imagem e os textos das Seis Linhas de Hsieh, Comunhão, Influência, o I Ching, o Livro das Mutações, estará apresentando a importância da Comunhão entre os seres e a natureza, da Influência exercida em seus entrelaçamentos, como um todo - através a Imagem - e a forma como esta Comunhão e como esta Influência pode ser manifestada e/ou pode ser realizada e correspondida - através os textos das Seis Linhas.






A Imagem


Um lago na montanha: a imagem da Influência.  Assim, o homem superior, através da receptividade, incentiva as pessoas a que se lhe aproximem.


A Montanha é a Quietude, é o Mestre sentado em seu silêncio.  O Lago é a reunião das Águas, e a Água é a Sabedoria que vem do Céu para nutrir, trazer vida à Terra.

O Mestre é aquele que busca o Vazio.  Este Vazio já está instaurado em sua mente, de forma que possa receber a Sabedoria advinda do Céu, através o Lago, a Alegria.  Portanto, o encontro entre Montanha e Lago traz a Comunhão.

O Vazio na mente do Mestre é, fundamentalmente, realizado pela Linha Yin ocupando a Sexta Posição, o lugar do Sábio, no Trigrama do Céu, em Tui, o Lago, a Alegria, a Flor de Lótus, a Fala, o Sorriso.  O Sublime Yin é sempre receptivo e também representa o povo.  Em Hsieh, Influência, Comunhão, encontramos a Linha Yin na Sexta Posição significando o Vazio na mente do Mestre e encontramos as Linhas Primeira e Segunda também dentro do elemento Yin significando o povo, as pessoas que se aproximam do Mestre.  Daí o I Ching dizer: Um lago na montanha: a imagem da Influência.  Assim, o homem superior, através da receptividade, incentiva as pessoas a que se lhe aproximem.

Os Trigramas Nucleares são Ch'ien, o Céu, o Criativo, no Trigrama Superior e Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, o Penetrante, no Trigrama Inferior.  Ambos são voltados para o movimento ascendente e ajudam o Mestre a manifestar sua Influência ao mundo através de sua atuação enquanto Espelho do Céu e das palavras que são por ele proferidas (em Tui, o Lago, a Boca).

Por tudo isso, podemos perceber que Montanha no Trigrama da Terra e Lago no Trigrama do Céu perfazem a doce e harmoniosa Comunhão entre os seres e a natureza, como um todo.  A partir dessa Comunhão, pode a Influência ser exercida entre os seres e a natureza, como um todo.



Trigramas e Hexagrama Nucleares


Os Trigramas Nucleares inseridos em Hsieh, Comunhão, Influência, são Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, e Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, o Penetrante.

Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Pai, a supremacia do Sublime Yang, o Trigrama Nuclear Superior, tem movimento ascendente intensíssimo e faz com que haja uma real Influência, uma real Comunhão entre os Trigramas da Terra, em Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre, com seu movimento descendente, e o Trigrama do Céu, em Tui, o Lago, a Alegria, com seus movimentos tanto ascendente quanto descendente.  A Influência entre seres e natureza, como um todo, a Comunhão entre seres e natureza, como um todo, são abençoados pelo entrelaçamento realizado através Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo. 

E esta bênção do Criativo é também ratificada por Sun, a Filha mais Velha, Trigrama Nuclear Inferior, trazendo seu tom de Madeira Penetrante e em movimento descendente e entranhador, ou seja, as raízes de todas as Influências e Comunhões entre os seres.... e ao mesmo tempo, a Suavidade, de Sun, o Vento, em seu movimento ascendente... e tudo isso ajudando o Mestre (Ken, a Montanha) a manifestar sua Influência ao mundo através de sua atuação enquanto Espelho do Céu e das palavras que são por ele proferidas (em Tui, o Lago, a Boca).


Os Trigramas Nucleares - Ch'ien, o Céu, e Sun, o Vento - compõem o Hexagrama Nuclear em Kou, Vir ao Encontro, o Encontro.


___  ___

_______                       ________                                             _______
_______                       ________          _______                       _______
_______                       ________          _______                       _______
___  ___                                              ___  ___                       _______
___  ___                                                                                  _______
                                                                                              ___  ___

Comunhão,                  Céu                  Vento                           Kou, Vir ao Encontro, o Encontro
Influência


Através o Hexagrama Nuclear inserido no Hexagrama original, poderemos perceber que dentro da Influência e da Comunhão entre seres e natureza, como um todo, sempre podem acontecer as questões mais agradáveis como as questões menos agradáveis.

Apesar de seu título - Vir ao Encontro, o Encontro - ser inteiramente bem apropriado quando se trata de Influência, de Comunhão, estaremos encontrando em Kou, Hexagrama Nuclear, as possibilidades de desencontros, de desarmonia na Influência e na Comunhão entre seres e a natureza, como um todo.  Ou seja, sempre em Influência, em Comunhão, o encontro entre os seres e a natureza prevê a harmonia do Encontro entre os elementos Yang e Yin.  No entanto, em Vir ao Encontro, o Encontro, vemos a supremacia do Yang sentindo-se desagradavelmente ‘invadida’, digamos assim, pela entrada do elemento Yin, pelo retorno do elemento Yin.  No entanto, esse retorno é inexorável e faz parte do bailado eterno entre os elementos Yang e Yin, naturalmente.

No Hexagrama Kou, Vir ao Encontro, O Encontro, algo de novo, rompe, irrompe, a totalidade do Sublime que compunha o Hexagrama Ch'ien, o Céu, o Pai, o Criativo, o auge do Verão, da Vida  em sua plenitude de Luz.

Aquilo que irrompe é a Linha Yin  que adentra o Hexagrama e já vem anunciando o final do Verão e da plenitude do Sublime Yang.  Sabemos que sempre que o Sublime Yang encontra sua plenitude, entra em cena o Sublime Yin - e da mesma forma, ao inverso.

Este é o Revirão da Vida apresentado através o Oito do Sol, o Rio Amarelo, o aparente caminho do Sol ao longo do ano entre Verão e Inverno, entre a Luz e a Não-Luz.


Vir ao Encontro significa a entrada da Linha Yin dentre as Linhas Yang que imperavam: é o Retorno da Não-Luz, é o anúncio da chegada, em breve, do Outono, que por sua vez, também estará anunciando a chegada, em breve, do Inverno, do auge da Não-Luz.

Existe um tom de quase tristeza, neste Hexagrama.  E esta quase tristeza é devido ao fato de que o Retorno da Não-Luz - da supremacia das Linhas Yin, em mais seis etapas - é inexorável.

O retorno é o movimento do Caminho

Tao Te Ching, Capítulo 40


E é também interessante notarmos o fato de que em Hsieh, Influência, Comunhão, o tom fundamental do Hexagrama é a harmonia do Encontro entre os seres e a natureza, como um todo, e todos os seres e a natureza são compostos do entrelaçamento entre o Sublime Yin e o Sublime Yang!

No entanto, quando se trata de Kou, o Encontro, Vir ao Encontro, Hexagrama Nuclear, o  I Ching comenta, no Texto do Julgamento:  A jovem é poderosa.  Não se deve desposá-la.  Este comentário advém da única Linha Yin que adentra o Hexagrama, diante das cinco outras Linhas Yang que ali estão: Yin é o feminino e Yang é o masculino.  O I Ching, nas entrelinhas, fala do poder existente de um único feminino diante da situação de atiçar cinco elementos masculinos.

Esta única Linha Yin de Kou, Vir ao Encontro, é a mesma que encontramos enquanto Segunda Linha em Hsieh, Influência, Comunhão, o lugar do Homem da Terra, no Trigrama da Terra, em Ken, a Montanha.

A verdade é que é preciso haver plena identificação com as questões de Virtudes voltadas para o Sublime Yin, de forma que a Influência, a Comunhão possa ser realizada dentro de um Encontro estruturado sobre a Humildade, sobre a Receptividade, sobre a Abrangência, entre as partes envolvidas.

Será esta Linha Segunda de Influência, Comunhão - e Primeira Linha, única Linha Yin, de Vir ao Encontro, o Encontro -, que estará se entrelaçando com a Quinta Linha, Linha Yang e no lugar do Homem do Céu, em Hsieh.  A Segunda Linha - o lugar do Homem da Terra - em atuando de forma humilde através seu Sublime Yin, poderá realizar a Influência e a Comunhão com a Quinta Linha - o lugar do Homem do Céu -, em atuando de forma mais criativa e poderosa através seu Sublime Yang, para bem realizar a Influência e a Comunhão com a Segunda Linha.

Caso esta Segunda Linha - que é a Primeira e única Linha Yin de Vir ao Encontro e é poderosa... - não aja com humildade e tome para si o poder de atuação sobre os elementos Yang, não será bem-sucedida em exercer a boa Influência e alcançar a boa Comunhão com a Quinta Linha.


Outra questão também a ser levada em conta em relação a Influência, Comunhão, Hexagrama Primordial, e Vir ao Encontro, o Encontro, Hexagrama Nuclear, é o  fato de que no primeiro Hexagrama, existem duas Linhas Yin ocupando os lugares de Primeira e Segunda Posições e a outra Linha Yin ocupa o lugar de Sexta Posição, ou seja, esta Linha já está deixando o Hexagrama, podendo assim fazer e adentrar enquanto Primeira Linha e então formar Céu sobre Terra, Estagnação....  Sendo assim, esse retorno de Linha Yin já vem sendo apontado em Vir ao Encontro, o Encontro, como algo que pode interferir na boa harmonização entre os elementos Yin e Yang, feminino e masculino.




___  ___                       _______

_______                       _______                                               _______
_______                       _______                                               _______
_______                       ___  ___                                              _______
___  ___                       ___  ___                                              _______
___  ___                       ___  ___                                              _______
                                                                                              ___  ___
Comunhão,                  Estagnação                             Kou, Vir ao Encontro, o Encontro
Influência






As Linhas

As Linhas Governantes são aquelas que fazem parte das posições do Ministro e do Rei, a Quarta Linha e a Quinta Linha, do Trigrama do Céu, a Terra do Céu e o Homem do Céu.  Estas Linhas são Yang e fazem parte estrutural de Tui, o Lago - sendo que a Linha Yin na Sexta posição é aquela que exerce a função de abertura, receptividade, ao Céu, ao Vazio, e, ao mesmo tempo, exerce a receptividade aos homens  - e leva esta receptividade para ser atuada pelas Linhas Yang na Quarta e na Quinta posições. 

Enquanto isso, Ken, a Montanha, no Trigrama da Terra, permanece em sua Quietude, voltado para a realização do Vazio e não permeável às Influências outras que possam lhe acontecer, mundanamente.  No entanto, o Mestre procura manter sua mente dentro do Vazio de forma que possa ser receptivo aos homens - assim como vimos na Imagem.  E, ao mesmo tempo, é bom que nos recordemos que a Influência também pode ser manifestada advinda do Mestre para os homens, já dentro de um tema mais elevado.

Por tudo isso, podemos compreender que a doce Comunhão entre Montanha e  Lago faz com que possa acontecer a Influência entre o Céu e a Terra e o Homem - bem como a Influência entre o Homem da Terra e o Homem do Céu,  entre Discípulos e Mestre, entre Mestre e Terra, Mestre e Céu, Discípulo e Terra, Discípulo e Céu.... entre o homem e a mulher... entre todos os seres que compõem o Tao da Criação.


___  ___

_______
_______
_______
___  ___
___  ___


É interessante percebermos que as Linhas todas - mesmo que algumas delas não se apresentem idealmente corretas - realizam uma harmonização entre si, da seguinte forma:

A Primeira Linha - Linha da Terra  do Trigrama da Terra, Linha do Tesouro do Espírito da Terra, dos Conhecimentos da Terra -, é Yin e harmoniza-se com a Linha Yang ocupando a Quarta posição, lugar da Linha da Terra do Trigrama do Céu, Linha do Tesouro do Espírito do Céu, dos Conhecimentos do Céu.  Ambas essas Linhas são idealmente incorretas.

A Segunda Linha - Linha do Homem da Terra, no Trigrama da Terra - é Yin e harmoniza-se com a Linha Yang ocupando a Quinta posição, lugar da Linha do Homem do Céu, no Trigrama do Céu.  Ambas essas Linhas são idealmente corretas.

A Terceira Linha - Linha do Princípio Primordial do Trigrama da Terra, Linha do Tao da Terra - é Yang e harmoniza-se com a Linha Yin ocupando a Sexta Posição, lugar da Linha do Princípio Primordial do Trigrama do Céu, o Tao do Céu.  Ambas essas Linhas são idealmente corretas.

Por estas razões, o Hexagrama Hsieh apresenta a Influência entre as Linhas que compõem o Trigrama da Terra em relação às Linhas que compõem o Trigrama do Céu - e  vice-versa, naturalmente.  É uma Comunhão, Hsieh, entre as Linhas e seus lugares ocupados - fusionando os Trigramas da Terra e do Céu.

No Trigrama da Terra, em Ken, a Montanha, a Quietude, estaremos encontrando a Influência acontecendo desde os dedos dos pés (Primeira Linha), passando pela canela (Segunda Linha) e finalizando na coxa (Terceira Linha) - ou seja, os membros inferiores do corpo humano.

No Trigrama do Céu, em Tui, o Lago, a Alegria, a Flor de Lótus, estaremos encontrando a Influência acontecendo desde o tronco, passando pelo coração (Quarta Linha), pela costas e pela nuca (Quinta Linha) e finalizando na boca (Sexta Linha) - ou seja, a parte superior do corpo humano.

Veremos que existem Linhas que apresentam movimentação em termos mais ativos e passivos - ação e reação às Influências - e veremos que existem Linhas que não apresentam movimentação. 

E veremos também que existe uma continuidade, digamos assim, em termos de Linhas Yang que fusionam o Trigrama da Terra, em Ken, a Montanha, a Quietude, ao Trigrama do Céu, em Tui, o Lago, a Alegria.  São as Linhas Yang que ocupam os lugares de Terceira, Quarta e Quinta Linhas: as pernas seguem o movimento que foi ditado pelo coração (Terceira e Quarta Linhas), porém é a Quietude das costas e da nuca (a Quinta Linha) que faz com que a movimentação anterior  não seja desperdiçada, inutilizada por ações fúteis; bem ao contrário: é a Quietude que trará a real percepção de tudo aquilo que deverá ser pronunciado já pela Sexta Linha!

E também por estas razões acima mencionadas é que  as Linhas do Coração e da busca da Quietude nas costas e na nuca - Linhas Quarta e Quinta - são consideradas as Linhas Governantes do Hexagrama Hsieh, Comunhão, Influência: o Coração pensa porém a Quietude discerne e ambos apresentam a movimentação e a integração que fazem realizar a Comunhão, a Influência correta a ser realizada entre os seres e a natureza, como um todo, sob o Tao da Criação.

Vemos portanto, que existe uma espécie de inversão de valores ao longo  do desenho das Linhas e das motivações mais intensas dos Trigramas apresentados em Hsieh, Comunhão, Influência: o Trigrama do Céu, em Tui, o Lago, a Alegria, se fusiona adequadamente à Quietude de Ken, a Montanha, o Trigrama da Terra.  Da mesma forma, existe a mesma correspondência de valores e de motivações quando Ken, a Montanha, a Quietude, o Mestre, no Trigrama da Terra, assume a Alegria e a força de expressão que vemos acontecendo em Tui, o Lago, no Trigrama do Céu.

Como um todo, numa visão mais ampliada e totalizante do conjunto de Linhas e seus textos, veremos que existe uma Comunhão entre ambos os Trigramas de Hsieh, Influência, no sentido de que a movimentação do corpo sempre depende das motivações acionadas pelo coração e transpassadas pelo discernimento - e tudo isso pode acontecer tanto em termos mais conscientes quanto em termos menos conscientes.  Sendo assim, a Influência entre ambos os Trigramas acontece todo o tempo, em Hsieh, Comunhão.



Linha a Linha




___  ___

_______
_______
_______
___  ___
___  ___           Primeira Linha




A influência manifesta-se no dedo maior do pé.

A Primeira Linha - Linha da Terra  do Trigrama da Terra, Linha do Tesouro do Espírito da Terra, dos Conhecimentos da Terra -, é Yin e harmoniza-se com a Linha Yang ocupando a Quarta posição, lugar da Linha da Terra do Trigrama do Céu, Linha do Tesouro do Espírito do Céu, dos Conhecimentos do Céu.  Ambas essas Linhas são idealmente incorretas.

A Primeira Linha apresenta-se como o dedo maior do pé enquanto a Quarta Linha apresenta-se enquanto o coração.  O coração pensa e envia seu pensamento ao dedo do pé, que lhe corresponde.  O comando da ação e/ou da reação ou da recepção da Comunhão, da Influência já foi realizado...., porém por se situar bem ao começo de toda a situação e de toda a possível movimentação, a Primeira Linha pode manifestar-se intimamente em seu desejo de correspondência aos ditames do coração, sim, mas tudo ainda permanece bastante interiorizado, sem expressão de exteriorização ao mundo.





___  ___

_______
_______
_______
___  ___           Segunda Linha
___  ___


A Influência manifesta-se na altura da tíbia (canela).  Infortúnio.  Permanecer traz boa fortuna.

A Segunda Linha - Linha do Homem da Terra, no Trigrama da Terra - é Yin e harmoniza-se com a Linha Yang ocupando a Quinta posição, lugar da Linha do Homem do Céu, no Trigrama do Céu.  Ambas essas Linhas são idealmente corretas.
No corpo e dentro de suas correspondências de forma a bem realizar a Comunhão, a Influência, Hsieh, a Segunda Linha apresenta-se enquanto o osso da tíbia (um dos dois ossos mais importantes da perna) ou como a canela (a extensão entre o pé e o joelho).  E a Quinta Linha apresenta-se enquanto as costas e a nuca.  A canela e as costas e a nuca - Segunda e Quinta Linhas que se correspondem harmoniosamente em Linhas Yin e Yang idealmente corretas -, são partes do corpo que permanecem sem movimentação própria e sempre necessitando da Comunhão, da Influência de outras partes do corpo que possuem movimentação própria.

No entanto, sabemos que a Quinta Linha, ao apresentar-se enquanto costas e nuca, está anunciando o fato de que precisa de sua Quietude para poder realizar o bom discernimento de tudo aquilo que o coração  - a Quarta Linha - ditou  enquanto desejo a ser realizado já a partir da Primeira Linha!

A Segunda Linha - Yin e idealmente correta - é inteiramente receptiva e, ao corresponder-se com a Quinta Linha - Yang e idealmente correta -, aguarda a Influência sobre o bom seguimento de movimentação já ditado através o discernimento correto dos ditames do coração.  Pode a Segunda Linha aguardar por este estímulo positivo em função do fato de que este lugar apresenta a canela, dependente da ação do pé que começa a partir da correspondência à Influência acontecida desde a Primeira Linha, desde o dedo maior do pé.

Sendo assim, o fato de que a Segunda Linha  não possui movimentação própria e é extremamente dependente tanto da Primeira Linha quanto das Linhas Terceira e Quarta e Quinta, faz com que o I Ching diga:  A Influência manifesta-se na altura da tíbia (canela).  Infortúnio.  Permanecer traz boa fortuna.





___  ___

_______
_______
_______           Terceira Linha
___  ___
___  ___


A influência manifesta-se nas coxas.  Aderir a aquilo que segue.  Continuar é humilhante.

A Terceira Linha - Linha do Princípio Primordial do Trigrama da Terra, Linha do Tao da Terra - é Yang e harmoniza-se com a Linha Yin ocupando a Sexta Posição, lugar da Linha do Princípio Primordial do Trigrama do Céu, o Tao do Céu.  Ambas essas Linhas são idealmente corretas.

As coxas são partes das pernas que se fusionam ao tronco, fazendo a integração entre os membros inferiores e o resto do corpo - assim como podemos ver a Linha Yang da Terceira Posição sendo seguida por mais duas Linhas Yang - e por isso, o I Ching diz: A influência manifesta-se nas coxas.  Aderir a aquilo que segue. 

No entanto, exatamente por este mesmo fato, o I Ching recomenda: Continuar é humilhante.

E por que o I Ching realiza essas suas afirmações aparentemente antagônicas entre si?

A meu ver,  é preciso que primeiramente pensemos no fato de que as duas Linhas anteriores - as Linhas Primeira e Segunda - são Yin e não exatamente exercem uma movimentação exteriorizada, assim como vimos mais acima (a Primeira Linha está ainda em seus primórdios de movimentação em relação à Influência que exerce ou que recebe e a Segunda Linha atua de forma dependente em relação não somente à Quinta Linha mas também em relação à Terceira e Quarta Linhas). 

Por estas razões, a Terceira Linha, se quiser manifestar um tom de Influência ou de Comunhão com as intenções/ações/reações das Linhas Yin anteriores, perderá a sua própria autonomia e força de ação peculiar a uma Linha Yang em lugar idealmente correto e plena de energia direta e incisiva para transpor o Trigrama da Terra e adentrar o Trigrama do Céu.  Podemos pensar que também por estas razões, o I Ching diz: Continuar é humilhante.  Ou seja, continuar atado às duas Linhas Yin anteriores é uma ação/reação/intenção humilhante para a Terceira Linha.

Em segundo lugar, vimos que a Terceira Linha, sendo Yang e idealmente correta e tendo sua correspondência bem realizada com a Sexta Linha, Yin e idealmente correta, possui energia imensa e sente-se intensamente atraída para seu ingresso no Trigrama do Céu exatamente pelo fato de que as duas Linhas Yang seguintes - as Linhas Quarta e Quinta - atuam enquanto Linhas do coração e das costas e nuca, dos ditames do desejo e da emoção e dos pensamentos já situados dentro de um maior discernimento.  Por isso, o I Ching diz: Aderir a aquilo que segue. 

E não podemos nos esquecer que as Linhas Quarta e Quinta são as Governantes do Hexagrama, fazendo, assim, com que esta adesão seja ainda mais fundamental para a Terceira Linha.  A Quarta Linha é a Linha do Ministro enquanto a Quinta Linha é a Linha do Rei, o lugar da Consciência Iluminada.  O coração tem que servir à Consciência.  Se assim não acontecer, a adesão realizada pela Terceira Linha é desviada das boas Influências.

No entanto,  se por acaso a Terceira Linha - em função do fato de estar grudada, encostada diretamente na Quarta Linha -, escutar apenas os caprichos ditados pelos ditames do coração e não levar em conta o bom discernimento e a boa razão já realizadas pela Quietude das costas e da nuca..., entrará em conflito com aquilo que é correto em relação à sua imensa energia de seguir adiante e de aderir a aquilo que segue.  Por isso, o I Ching afirma: Continuar é humilhante. 

Dessa forma, à Terceira Linha é recomendada uma intenção/ação/reação bem cuidada em relação à Influência advinda, principalmente, da Quarta Linha, o coração e seus ditames, ora em boas motivações e ora em caprichos desmedidos - ou mesmo do Trigrama do Céu, como um todo.  E, da mesma forma, bom cuidado em relação à Influência advinda das duas Linhas Yin anteriores, as Linhas Primeira e Segunda, que são seguidoras dos passos da Terceira Linha porém influenciando esta no sentido de não exatamente agir a movimentação para frente e sim, para trás.








___  ___

_______
_______           Quarta Linha
_______
___  ___
___  ___


A perseverança traz boa fortuna.  O arrependimento desaparece.  Quando o pensamento de um homem se agita em inquieto vaivém, só os amigos aos quais dirige seus pensamentos conscientes o seguirão.

A Quarta Linha - Linha da Terra do Trigrama do Céu, Linha do Tesouro do Espírito do Céu, dos Conhecimentos do Céu - é Yang e harmoniza-se com a Linha Yin ocupando a Primeira posição, lugar da Linha da Terra do Trigrama da Terra, Linha do Tesouro do Espírito da Terra, dos Conhecimentos da Terra.  Ambas essas Linhas são idealmente incorretas.

Como vimos, a Quarta Linha faz parte do conjunto de Linhas Yang que se seguem, começando a partir da Terceira Linha e terminando na Quinta Linha, fazendo com que a Quarta Linha tenha que atuar como o lugar do caminho do meio, o bom fiel da balança entre o Trigrama da Terra, em Ken, a Montanha, a Quietude, e o Trigrama do Céu, em Tui, o Lago, a Alegria.  É o lugar do Ministro, aquele que faz parte do Povo, do Trigrama da Terra que já alcançou o Trigrama do Céu e que serve ao Trigrama do Céu, fundamentalmente através da Quinta Linha, o lugar do Rei, o lugar da Consciência Iluminada, o lugar do Homem do Céu.  Neste fusionamento entre os Trigramas da Terra e do Céu, encontraremos a Quarta Linha adjuntando os membros inferiores - as Três Linhas do Trigrama da Terra - ao tronco, ao restante do corpo - as Três Linhas do Trigrama do Céu.  Em Hsieh, Comunhão, Influência, é a Quarta Linha o lugar do coração.

Por todas estas razões, vemos que a Quarta Linha apresenta-se enquanto Governante do Hexagrama, juntamente com a Quinta Linha.

No entanto, o lugar do coração - a Quarta Linha - tem importância fundamental em relação a todas demais Linhas de Hsieh, Influência, Comunhão.  Esta importância fundamental deve ser bem conscientizada no sentido da ação/reação/intenção estar sempre sendo realizada dentro dos bons preceitos de forma que a Influência, a Comunhão possa acontecer harmoniosamente entre os seres e a natureza, como um todo.  Por esta razão, o I Ching afirma:  A perseverança traz boa fortuna.  O arrependimento desaparece. 

Esses cuidados voltados para a intenção/ação/reação de Influência, de Comunhão, da Quarta Linha devem ser bem observados porque o I Ching afirma: Quando o pensamento de um homem se agita em inquieto vaivém, só os amigos aos quais dirige seus pensamentos conscientes o seguirão.  Ou seja, o coração, a Quarta Linha, atua enquanto centro fundamental do Hexagrama Hsieh, no sentido de exercer sua Influência, sua Comunhão, voltadas para as Linhas Primeira e Segunda e Terceira do Trigrama da Terra, já comentadas mais acima, bem como voltadas para si próprio e para as Linhas seguintes do Trigrama do Céu, as Linhas Quinta e Sexta, do Rei e do Sábio, da Consciência Iluminada e da Expressão ampla dessa Consciência Iluminada sendo espraiada ao mundo, em Hsieh, Influência, Comunhão.

Sendo assim, o coração, a Quarta Linha, precisa bem saber motivar as Linhas Primeira e Segunda no sentido de bem exercer a Influência de leva-las às suas movimentações; precisa bem saber motivar a Linha Terceira no sentido de não exacerbar suas emoções e seus caprichos em ações/intenções/reações desmedidas e de energias desperdiçadas ou mal-usadas; precisa bem fazer realizar a Quinta Linha no sentido do exercício de sua Quietude dentro da busca do bom discernimento em relação a tudo aquilo que o coração pensou ou sentiu....; e, finalmente, precisa bem harmonizar-se e fusionar-se com a Quinta Linha fundamentalmente no sentido de bem fazer realizar a expressão de comunicação das verdades sentidas pelo coração, a Quarta Linha, e discernidas pela Consciência Iluminada da Quinta Linha e reveladas ao mundo pela Sexta Linha, o lugar do Sábio, a Linha Yin de Tui, o Lago, que é imensamente receptiva e refletiva às verdades do Tao da Criação.

Por tudo isso, podemos pensar que o caminho do meio realizado pela Quarta Linha não pode ser vivenciado em inquieto vaivém.   Se assim acontecer, os Trigramas da Terra e do Céu estarão corroborando com aquilo que o I Ching adverte:  Quando o pensamento de um homem se agita em inquieto vaivém, só os amigos aos quais dirige seus pensamentos conscientes o seguirão.

A ação/reação/intenção do coração, na Quarta Linha, deve ser fundamentada pela não-ação/não-intenção - ou seja, tudo deve ser sempre vivenciado dentro da naturalidade do Tao da Criação e não dentro da manipulação.  A  ação dentro da não-ação, dentro da naturalidade do Tao da Criação é o Wu Wei.

No entanto, também o I Ching afirma:  A perseverança traz boa fortuna.  O arrependimento desaparece.  Ou seja, é fundamental que a Quarta Linha tome boa consciência sobre sua ação/reação/intenção do coração em termos de Hsieh, Influência, Comunhão.  Assim fazendo, esta perseverança trará boa fortuna e o arrependimento desaparecerá.




___  ___
_______           Quinta Linha
_______
_______
___  ___
___  ___

A influência manifesta-se na nuca.  Nenhum arrependimento.

A Quinta Linha - Linha do Homem do Céu, no Trigrama do Céu - é Yang e harmoniza-se com a Linha Yin ocupando a Segunda posição, lugar da Linha do Homem da Terra, no Trigrama da Terra.  Ambas essas Linhas são idealmente corretas.

A Quinta Linha apresenta-se enquanto lugar das costas e da nuca, que são lugares que se mantêm imóveis - fundamentalmente a nuca.  No entanto, estes lugares são fundamentais em termos de ligação entre o cérebro - e a mente - em suas  ramificações para todo o corpo, fazendo realizar a movimentação em todo o corpo.  Por esta razão, a Quinta Linha é a Governante do Hexagrama, juntamente com a Quarta Linha, o lugar do coração. 

A Quinta Linha busca pela Quietude - em sua correspondência harmoniosa com a Segunda Linha de Ken, a Montanha, no Trigrama da Terra -, de forma a conquistar a Consciência Iluminada e não apenas realizar-se através os ditames do coração, em seus desejos e caprichos e emotividades, algo que vimos acontecendo nas Terceira e Quarta Linhas.

A Quinta Linha é o lugar do Rei, da Consciência Iluminada.  Esta Consciência Iluminada advém do coração bem posicionado na Quarta Linha e fundamentado em seus ditames de ação dentro da não-ação, de intenção dentro da não-intenção, do Wu Wei.  A Quinta Linha, então, realiza-se dentro do discernimento das questões e não dos julgamentos das mesmas.
  
Wu Jyh Cherng nos fala algumas palavras sobre Julgamento e sobre Discernimento e sobre o Wu Wei, em suas interpretações dos Capítulos 2 e 20 do Tao Te Ching, de Lao Tse:

“Wu Wei é a ação-não-intencional.  Fazer as coisas simplesmente, e não fazer as coisas através de uma intenção.  No entanto, não devemos confundir a não-ação com não-fazer-nada.  Constantemente, os mestres taoístas nos alertam sobre isso, sobre esse conceito que poder ser bastante distorcido.

Wu Wei significa fazer as coisas naturalmente, fazer o que tiver que ser feito, não deixar de agir, não acrescentar desnecessários afazeres e não fugir do que deve ser feito.   Não reduzir nem acrescentar, simplesmente fazer o que é natural.

Tudo na natureza é natural.  O sol é natural, a lua é natural, o mundo é natural, a árvore, calor, frio.  O sol nasce sempre dentro de seus ciclos cósmicos bem como a lua.  Por que então o ser humano teria que fazer alguma coisa que não esteja de acordo com a natureza?  A natureza age naturalmente, ela tem sua própria e natural ordem.

Por isso, Lao Tse, em outro Capítulo, diz:

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho
E o Caminho se orienta por sua própria natureza

Assim, o homem deveria recuperar a sua naturalidade integrando-a com tudo o que está na terra.  E  fazendo parte de tudo o que está na terra, ele se integra com tudo o que está no céu, ou seja, no cosmos.

A partir desse momento, tudo se torna o Tao e, dentro dessa grande condição, todas as coisas acontecem dentro de uma naturalidade e se cria uma ordem que não é uma norma e sim a ordem natural das coisas.

O Taoísmo enfatiza a ordem natural das coisas.  Valorizar a ordem natural das coisas é deixar as coisas fluírem.  Deixar as coisas fluírem significa viver cada coisa e cada instante de nossa vida, de nosso destino, de forma natural.”


“O discernimento não é julgamento.  Julgamento é exatamente aceitar ou repudiar, apreciar ou desprezar.  Discernimento é saber fazer a escolha certa simplesmente sem que essa escolha crie uma série de reboliços ou murmúrios interiores.  É saber fluir no destino: quando é necessário fazer uma escolha, uma opção, simplesmente optar pelo caminho que é natural, que é melhor, que é conveniente para a pessoa que está vivendo aquele momento, aquele instante, aquela situação.  Fazer a opção sem cultivar remorsos posteriores.  Fazer a opção sem temor antes, sem medo de escolher o caminho da direita ou da esquerda... o que vai acontecer?  É preciso fluir no destino e simplesmente fazer aquilo que deve ser feito e, depois de ter  feito, não ficar mais remoendo...”






___  ___           Sexta Linha

_______
_______
_______
___  ___
___  ___


A influência manifesta-se no maxilar, na face e na língua.

A Sexta Linha - Linha do Princípio Primordial do Trigrama do Céu, Linha do Tao do Céu - é Yin e harmoniza-se com a Linha Yang ocupando a Terceira posição, lugar do Princípio Primordial do Trigrama da Terra, o Tao da Terra.  Ambas essas Linhas são idealmente corretas.

Desde a Primeira Linha de Hsieh, Influência, Comunhão, viemos vendo a manifestação dessas questões através o corpo humano, começando desde o dedo maior do pé, passando pela canela, pelas coxas,  subindo pelo tronco e encontrando o coração e as costas e a nuca e agora, na Sexta Linha, finalmente, encontrando o maxilar, a face, a língua, a boca.

O Trigrama do Céu é composto por Tui, o Lago, a Alegria, a Boca, o Sorriso, a Flor de Lótus.  As duas Linhas Yang são aquelas que acolhem e realizam o Céu na Terra enquanto a Linha Yin é aquela que receptivamente abre-se para o Céu adentrar a Terra!  As duas Linhas Yang, em Hsieh, Influência, Comunhão, atuam como as  Linhas Governantes do Hexagrama e perfazem as posições do Ministro e do Rei, a Quarta Linha e a Quinta Linha, do Trigrama do Céu, a Terra do Céu e o Homem do Céu., sendo que a Linha Yin na Sexta posição é aquela que exerce a função de abertura, receptividade, ao Céu, ao Vazio, e, ao mesmo tempo, exerce a receptividade aos homens  - e leva esta receptividade para ser atuada pelas Linhas Yang na Quarta e na Quinta posições. 

Se as vivências de Quarta e Quinta Linhas estiverem de acordo com o Wu Wei sob o Tao da Criação - assim como vimos mais acima na explanação sobre estas duas posições -, as palavras proferidas pela Sexta Linha são plenas de verdades e de sentido.  Então, a Influência e a Comunhão serão extremamente favoráveis.

Caso contrário, se a Quarta Linha se mantiver em seu vai-e-vem entre os Trigramas da Terra e do Céu e se unir apenas aos amigos com quem mantém uma relação conscientemente manipuladora...., e se a Quinta Linha não manifestar-se através seu Discernimento e sim através o Julgamento...., é certo que a Sexta Linha haverá de proferir palavras insignificantes e sem sentido. Então, a Influência e a Comunhão não serão favoráveis, realmente.

Por estas razões, no texto para a Sexta Linha o I Ching não exatamente se expressa quanto a boa ou a má fortuna quando diz:  A influência manifesta-se no maxilar, na face e na língua.






Síntese
A Montanha recebe o Lago,
formando Hsien, Comunhão, Influência


A Montanha é a Quietude, é o Mestre sentado em seu silêncio.  O Lago é a reunião das Águas, e a Água é a Sabedoria que vem do Céu para nutrir, trazer vida à Terra.

O Mestre é aquele que busca o Vazio.  Este Vazio já está instaurado em sua mente, de forma que possa receber a Sabedoria advinda do Céu, através o Lago, a Alegria.  Portanto, o encontro entre Montanha e Lago traz a Comunhão.


___  ___

_______
_______           Tui, o Lago, a Alegria, o Espelho do Céu, a Filha mais Jovem
_______
___  ___
___  ___           Ken, a Montanha, a Quietude, o Filho mais Jovem


Esta Comunhão é realmente intensa pois que ambos os Hexagramas possuem movimento descendente e se fusionam de forma harmoniosa.... desde que o Mestre saiba trazer sua mente dentro do Vazio.  O I Ching diz:  deste modo, o sábio acolhe os homens através do vazio.

Hsien, Comunhão, também vem nos falar da doce comunhão do ideal de amor entre os seres - imajados esses seres através o Irmão mais Jovem, Ken, a Montanha, e Tui, o Lago, a Irmã mais Jovem.  E também essa Comunhão, Hsien, nos traz a mensagem de como realizarmo-nos em comunhão e influência mútua com tudo no universo.

O I Ching diz:  após existirem o Céu e a Terra, surgem os seres individuais.  Após existirem os seres individuais, surgem os dois sexos.  Após existirem o masculino e o feminino, surge o relacionamento entre marido e mulher.  Após existir a relação homem e mulher, surge a relação entre os pais e os filhos.  Após existir a relação entre pais e filhos, surge a relação entre príncipe e súdito.  Após existir a relação entre príncipe e súdito, surge a diferença entre o superior e o inferior.  Após existir a diferença entre superior e inferior, as regras quanto ao que é próprio e correto podem se exercer.

As Linhas Governantes são aquelas que fazem parte das posições do Ministro e do Rei, a Quarta Linha e a Quinta Linha, do Trigrama do Céu, a Terra do Céu e o Homem do Céu.  Estas Linhas são Yang e fazem parte estrutural de Tui, o Lago - sendo que a Linha Yin na Sexta posição é aquela que exerce a função de abertura, receptividade, ao Céu, ao Vazio, e leva esta receptividade para ser atuada pelas Linhas Yang na Quarta e na Quinta posições.  Enquanto isso, Ken, a Montanha, no Trigrama da Terra, permanece em sua Quietude, voltado para a realização do Vazio e não permeável às Influências outras que possam lhe acontecer, mundanamente.  E, ao mesmo tempo, é bom que nos recordemos que a Influência também pode ser manifestada advinda do Mestre para os homens, já dentro de um tema mais elevado.

Os Trigramas Nucleares são Ch'ien, o Céu, o Criativo, no Trigrama Superior e Sun, o Vento, a Madeira, a Suavidade, o Penetrante, no Trigrama Inferior.  Ambos são voltados para o movimento ascendente e ajudam o Mestre a manifestar sua Influência ao mundo através de sua atuação enquanto Espelho do Céu e das palavras que são por ele proferidas (em Tui, o Lago, a Boca).

Os Trigramas Nucleares formam o Hexagrama Nuclear Vir ao Encontro, que mostra uma  única Linha Yin adentrando o Hexagrama advindo de Ch'ien, o Céu, o Criativo, o Verão - ou seja, existe o adentramento da Não-Luz no Hexagrama e é preciso que o Caminhante seja precavido em relação a esta questão, porque, inexoravelmente, a Não-Luz estará escalando o Hexagrama até trazer a plenitude de K'un, a Terra, o Inverno.  Ch'ien, o Criativo, apresenta-se através o lugar do Verão enquanto K'un, o Receptivo, apresenta-se através o lugar do Inverno - no mapa do Mundo da Não-Manifestação.  Ch'ien, o Criativo, é a plenitude da Luz; K'un, o Receptivo, é a plenitude da Não-Luz.

Sintetizando: existe uma contradição entre o Hexagrama Original, em Influência, e o Hexagrama Nuclear, em Vir ao Encontro, no sentido de que o primeiro aproxima os seres em seus inter-relacionamentos, como um todo, e o segundo avisa para o fato de que sempre a plenitude da Luz acaba entrando em mutação e fazendo acontecer os primórdios da Não-Luz, que também alcançará sua plenitude, ou seja: nada é definitivo, imutável, tudo muda, tudo passa.





Créditos:

Tao Te Ching, O Livro do Caminho e da Virtude – Lao Tsé
-- Todas as traduções dos Capítulos do Tao Te Ching, de Lao Tse, foram realizadas por Wu Jyh Cherng e podem ser encontradas no Livro do mesmo nome publicado pela Editora Mauad, São Paulo, Brasil.  No prelo, encontra-se o Livro com as Interpretações de Cherng!  Aguarde!

Trechos extraídos da Tradução e Interpretação dos Capítulos 2 e 20 do Tao Te Ching, de Lao Tse, por Wu Jyh Cherng
Transcrição e Síntese de Aula Gravada na Sociedade Taoísta do Brasil, Rio de Janeiro,.  Transcrição e Síntese de Janine Milward


O I Ching, O Livro das Mutações
Tradução do chinês para o alemão, introdução e comentários de Richard Wilhelm
Tradução para o português de Alayde Mutzenbecher e Gustavo Alberto Correa Pinto
Editora Pensamento – São Paulo, Brasil

I Ching, Alquimia dos Números
Wu Jyh Cherng
Editora Objetiva - Rio, Brasil - Hoje publicado pela Editora Mauad, São Paulo, SP






O Fio da Meada


 I Ching do Caminho do Céu

Janine Milward

Direitos Reservados © 1997
Registro 142.090 Livro 230 Folha 433
Segunda Edição Revisada